(In)quebráveis

·19· Espelho

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Depois de todo esse tempo?
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Helena Deutch

O conhecimento de que Régulus estava bem deveria significar uma plena noite de sono profundo, porém não foi aquilo que houve.

Em sua mente passava uma sucessão de coisas repetidamente, haviam as palavras exatas que Régulus proferira, então a imagem das abotuaduras gravadas com o símbolo dos Black e novo ressoar de palavras proferidas anos atrás em seguida. Tal sucessão resultando em um emaranhado confuso em sua mente acelerada.

Aquilo deveria ser simples, tão simples na percepção de outros, mas no lugar dela apenas não funcionava assim.

O que Régulus dissera a pegara desprevenida, as palavras haviam sido tão naturais, soltas como uma confissão dele em meio ao sentimento de frustração que sentira com a negação dela a Sirius, mesmo que fosse a resposta esperada e, assim como ela, ele soubesse disso.

Helena tivera uma confissão se organizando na mente para dizer, uma que faria Régulus entender que cada uma das palavras a atingira, se enterrando em sua mente. Uma que lhe diria que ela também ficara curiosa para saber mais dele. Uma que significaria um não sei como bem claro. Uma que seria uma abertura grande de si, mas haviam aqueles benditos objetos que a fizeram apagar cada palavra pensada, as substituindo por outras que não chegavam perto do que queria dizer, mas que eram mais... seguras.

E fora aquelas que tinham saído, esperara sentir alívio ao vê-lo sair por ter mudado o pretendido, contudo nem um resquício daquilo se derramou em si.

Cansaço. Irritação. Melancolia. Foram o que se derramaram nela e ela odiou cada um deles, odiou que tivessem espaço, odiou não ter mais aquela certeza que já tinha tido, agora o que havia era confusão e um sentimento de estar perdida.

Então seus olhos relancearam para a parede de frente a sua cama, para a direção da casa vizinha. Se Aurnia estivesse ali ela poderia procurá-la na manhã seguinte, trocar uma conversa com a senhora que não chegaria ao seu problema, mas que a faria se sentir melhor e mais leve como os biscoitos feitos por ela faziam.

A senhora fazia falta e não importava que telefonassem, que houvesse cartas escritas por ambas que ainda nem tinham chegado uma a outra, isso não chegava perto de suprir a saudades que sentia.

Barulho de batidas repetidas soaram, ela sentiu o sono sendo afastado pelo susto repentino e a dúvida, então praticamente as mesmas ações que a tinham levado a encontrar Régulus se repetiram. Dessa vez em direção a porta da frente, mas antes de abri-la olhou pela janela próxima dela quem era.

Héstia esperava com paciência e parecia carregar algo em uma das mãos.

--Héstia?-- falou como cumprimento ao enfim abrir a porta.

--Ei.-- ela diz estendendo o objeto.-- Régulus pediu para te entregar.

--Como é?-- pergunta sem ainda pegar o que quer que fosse e sem crer no que ouvira.

Depois da conversa deles, o Black decidira pedir para a amiga levar algo a ela? Não fazia nenhum sentido.

--Eu sei, nem eu acreditei.-- ela fala soando realmente incredula.-- Ele simplesmente apareceu, aí tive que fazer toda verificação de segurança porque sempre combinamos quando nos encontramos e não é do feitio de Régulus simplesmente aparecer de repente, depois ele pediu para eu te dar e explicar o que é, como se usa.

Ela tinha várias perguntas na mente prontas, mas soltou uma que se mostrava mais urgente.

--Ele disse por que de querer que me desse isso?

--Ele soltou algo sobre querer conversar com você porque ficou algo quando saíram juntos da minha casa, aliás nunca antes tinha citado isso e foram duas noites atrás, duas noites e ele me faz isso agora! Se bem que eu posso entender com o que rolou na madrugada daquele dia, o caos que foi mesmo que graças a Morgana ele não estivesse envolvido.

Uma pontada de desconforto e culpa a atingiu por saber que o fato citado pela lufana deveria ser exatamente no que ele fora envolvido.

--O que foi que aconteceu?-- indagou porque não vira nada noticiado que fosse novo se comparado com tudo já divulgado.

--Foi abafado, procuramos abafar o máximo possível por mais que logo vai se espalhar claro, mas o tempo que conseguimos antes de acontecer vai ser importante para algumas medidas que ajudarão a lidar com as consequências que haverá.

--O que houve?-- dessa vez havia medo impregnado nas palavras.

--Olha, vou te dizer porque vai saber logo de qualquer modo. Alguns comensais pegaram alguns trouxas, até uma licantropa e o que sabemos é que não davam para ser reconhecidos só pela aparência que foram encontrados numa casa vazia, mas que ficava num lugar bem frequentado. Usaram algum feitiço de silêncio ao redor enquanto passavam o tempo lá.

Embrulho era pouco para o que as palavras tinham feito, a imaginação criando cenários cada vez piores e piores.

--E vocês tem nomes?

--Dumbledore os tem, um contato dele os passou, mas ele só divulgou para quem ficou responsável com lidar com o caso, acho que porque algo assim é tão revoltante que...

--Poderia fazer que quisessem ir atrás, mesmo sabendo que não é o melhor agir por impulso.

--Exatamente.-- concorda.

--E o que isso é?-- indaga então indicando o objeto ainda estendido pela outra.

--É o jeito que usamos para nos comunicar com ele, eu e Sirius.-- explica.-- Se chama espelho de dois lados porque tem duas partes, essa e a que fica com ele, você chama a pessoa e se ela estiver do outro lado, te responde.

--Você só chama e podem conversar?-- fala finalmente pegando e analisando.

--Exato, só espere ele te chamar e então lembre a ele de valorizar a melhor amiga maravilhosa que tem.-- a lufana fala com um sorriso divertido.-- Agora eu encontrarei meu necessário sono.

--Bom sono, Héstia e eu acho que não preciso lembrá-lo da sorte que tem.-- disse com sinceridade, ganhando um sorriso doce e feliz dela em resposta antes que se voltasse para o caminho curto de casa.

A corvina se voltou para a própria residência, trancando a porta atrás de si com a tranca trouxa e então olhou para o espelho esperando o chamado do outro lado.

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Sempre
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