— É... – ele riu fraco – Tudo bem, então. Se precisar de ajuda com alguma coisa estou a disposição.

— Obrigado.

Ele se curvou e se despediu educadamente, em seguida saiu da sala finalmente me deixando sozinho. Peguei a lata de cerveja do chão e dei outro gole, o álcool agora é tão familiar que eu nem consigo mais ficar bêbado com tanta facilidade. Preciso buscar outra forma de conseguir me manter de pé, mas vem ficando mais difícil a cada dia que passa.

Desde que meu pai me deu uma segunda chance, o que deveria ser bom, agora é horrível. Eu não queria estar aqui, não queria voltar pra China e pra tudo que eu passei minha vida inteira tentando fugir, mas eu não tive escolha. Depois do julgamento foi como se tudo voltasse a ser como era antes, mas muito antes da minha independência e de tudo que conquistei sem a ajuda dos meus pais. Voltei a ser quem odiei ter sido, trabalhando no que odeio, dependendo de pais que não gostam de mim de verdade, e buscando redescobrir quem eu sou longe de tudo.

Não tem sido fácil, mas eu nunca imaginei que seria. Depois que fui absolvido, senti o alívio e a falsa sensação de liberdade, até que a euforia passou e as correntes da família Lee me prenderam outra vez. Eu não tinha pra onde ir, a mídia me cercava por todos os lados na Coréia, e não havia mais nada que me segurasse lá. Sei que meus pais também não me queriam aqui, mas dessa vez não briguei com Gahyeon quando suspeitei que ela tivesse convencido meu pai de me deixar vir pra China. Minha vida seria difícil em qualquer lugar que eu estivesse, afinal de contas, não tem como fugir de quem eu sou e quem eu fui.

Não podia ficar em Seul, as lembranças daquela casa iam me matar aos poucos. Gahyeon também precisava de um espaço, sofreu calada por muito tempo e precisava respirar. Dessa vez, a China não parecia ser uma opção tão ruim, apesar de não ser a melhor. Nossos pais ainda eram os mesmos e nós não esperávamos nenhuma mudança, mas saber disso era um pouco decepcionante. Nossas raízes são dolorosas, e voltar pra elas depois de tanto tempo longe é como jogar fora todo o nosso progresso.

— Droga! – minha visão dói quando vejo a quantidade de papéis na minha mesa. Queria poder fugir disso tudo também, mas viver fugindo tem sido muito desgastante, e confesso que até tentei me adaptar aqui, mas não consegui.

Meu pai é muito exigente com tudo, me trata com arrogância e cobra de mim coisas que eu realmente não sei fazer. Não terminei a faculdade, ele disse que ia ma matricular na universidade da China assim que voltasse de viagem, e que por enquanto eu devia testar meus conhecimentos na empresa, mas ele esqueceu que eu não tenho conhecimento nenhum.

Eu até tentei aprender no começo, busquei por tudo que ele me pediu e tentei me concentrar pra fazer meu trabalho direito. Levei horas e me dediquei fielmente, mas quando meu pai viu não foi capaz de dar nenhum elogio sequer e ainda por cima reclamou e me mandou refazer. Sinceramente, eu já estou velho demais pra lidar com ele, e não tenho mais forças pra tentar agrada-lo.

Desde então, eu desisti, e a única pessoa que ainda tenta me fazer continuar tentando tem sido Hendery, nem Gahyeon me apoia com isso, pois ela sabe que meu sonho nunca foi trabalhar nessa empresa. Desde que saí da Coreia venho tentando arranjar um novo rumo pra minha vida, não faz mais sentido escrever depois de tudo que aconteceu, e eu guardei meu livro no fundo de uma gaveta jurando nunca mais fazer isso de novo. Venho tentando buscar outras coisas que me interessam, mas meu pai nunca me deixa respirar pra tentar me encontrar outra vez. Tem sido difícil, e me sinto tão perdido e confuso que na maioria dos dias eu acabo me rendendo a bebida. É a única coisa que me distrai de tantos problemas e dúvidas, e dessa dor que por mais que eu esteja tentando curar, ainda me faz chorar às vezes.

— Blá blá blá, quanta bobeira – jogo os papéis pra longe e deito a cabeça na mesa completamente cansado de ler isso tudo. Sei que preciso dar um jeito na minha vida logo, preciso urgentemente juntar meus pedaços e me reconstruir, conquistar novas coisas e buscar independência dos meus pais outra vez, mas parece que agora as garras da família Lee me seguram com mais força.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Onde histórias criam vida. Descubra agora