Capítulo 7 - Vermelho Como Sangue

5.3K 359 26
                                    

P.O.V America

Acordo com uma de minhas damas de companhia me chamando.

– Senhorita America? – uma garota de cabelos castanhos claro me chama.

– Hmm? Eu. – digo, sonolenta.

– Senhorita America, levante. – ouço outra voz, dessa vez um pouco mais longe e me viro para encará-la, uma garota que parecia ser alguns anos mais velha do que eu e com cabelos tão negros quanto os da Branca de Neve deveriam ser foi quem disse.

– Por que? – pergunto pateticamente.

– O jantar.

Então me lembrei. Eu não estava no Acampamento Meio-Sangue, eu estava na mansão – praticamente um castelo – de um deus menor que, por algum motivo, eu deveria estar tentando desesperadamente ganhar a atenção.

– Hmm... sim! – Levantei de supetão. – Onde é? – disse, me apressando para a porta.

Elas riem e isso me faz voltar. Por que estão rindo de mim?

– O que foi? – pergunto.

– Você não pode ir para o jantar assim. Seu vestido está amassado, seu cabelo bagunçado e sua maquiagem borrada. Sem falar que você está suada. – disse a garota de cabelos pretos. Olhei para mim mesma no espelho que pendurado na parede e percebi que ela não poderia estar mais correta. – A propósito, sou Anne, está é Mary – ela aponta para a garota que me acordara – e aquela é Lucy. – ela aponta para uma menina quase translúcida apoiada em um móvel.

– Okay. Sou America.

Todas as três fazem um gesto quase idêntico com as mãos, dispensando essa informação, como se já soubessem disso. E como elas me acordaram chamando meu nome, elas certamente sabiam mesmo.

– Então vou tomar banho – informo.

Mas elas me impedem. Depois de algum tempo, apesar de conseguir convencê-las de que posso tomar banho sozinha, não consigo fazer o mesmo quanto a minha própria arrumação. Então, depois que saio do banho de roupão, elas começam a puxar e pentear meu cabelo. O prenderam para trás com presilhas delicadas. Depois me deram um belo e longo vestido escuro – que foram elas que costuraram, assim como os outros vestidos que agora estavam em meu guarda-roupa – e me deram saltos médios, já que sem eles eu acabaria tropeçando no vestido. Ainda corro o risco de tropeçar, já que nunca fui muito chegada a saltos, mas não de rasgar o belo vestido. Talvez torcer o tornozelo, mas... ainda acho isso desnecessário.

Annabeth vem me pegar pontualmente às sete. A mim e as minhas colegas de corredor, Bariel, uma filha de Nêmesis com um decote enorme e seios que estavam super ansiosos para dar um "oi", Tiny, de Favônio, o deus romano dos ventos do oeste e Jenna, uma filha de Hefesto que felizmente não me lembra a Jenna de Pretty Little Liars. Não que eu assistisse PLL, mas os poucos episódios que eu vi, já foram suficientes para eu ficar com medo daquela mulher.

Fomos levadas à sala de jantar. Encontrei Marlee e ficamos conversando. Ashley ficou de lado de novo, o que era um pouco estranho. Na sala de jantar, havia duas mesas: uma enorme em forma de "U", que era destinada a nós, as selecionadas, e uma menor com alguns poucos lugares. Ela estava vazia. A em forma de "U" tinha nossos nomes em cada cadeira. Eu me sentava ao lado de Tiny, que parecia fofa e delicada, Ashley, que continuava estranhamente calada e Kriss Ambers, uma filha de Hefesto sentava-se na minha frente.

Tentei puxar conversa com Ashley, que só respondeu educadamente minhas perguntas com "Sim", "Não" ou "Legal". Tiny falava muito, ela era animada, mas animada demais para mim. Kriss ficou quieta e na dela, observando a todos com um belo sorriso gentil.

Antes de começarmos a comer, Annabeth pediu um momento para fazer um anúncio.

– Meninas, como vocês sabem, Zeus quer que a Seleção seja transmitida na Tv Hefesto como um reality show chamado A Seleção.

– Quanta originalidade – alguém resmunga, enquanto algumas meninas comemoram e Annabeth lança um olhar sério e cortante na direção da voz.

– Voltando ao que eu estava falando antes de ser rudimento interrompida, Zeus está pensando em transmitir cenas de encontros, seu dia a dia, do humor, das brincadeiras e das brigas, apesar de elas serem proibidas e eu não aconselhar a ninguém que brigue, já que a punição é expulsão – ela faz uma pausa, antes de sorrir de maneira artificial. – Mas tudo pela audiência, não é? – seu tom é crítico e algo me leva a crer que ela não gosta muito de reality shows. Nem eu, na verdade.

Algumas meninas comemoram, outras fazem cara feia, algumas bufam e outras ficam caladas, assim como eu.

Logo depois é servido o jantar. Essa é a comida mais maravilhosa que eu já comi em toda minha vida, o bife estava simplesmente saboroso... e a sobremesa.... hmm...

Depois do jantar não era difícil distinguir quem estava feliz com aquela baboseira de reality show, quem estava insatisfeito e quem não estava nem aí. Era só olhar para os rostos sorridente, os emburrados ou os indiferentes.

Não podíamos sair até que todas terminassem, então por esse motivo tivemos que ficar esperando mais cinco minutos até que uma garota do Acampamento Júpiter finalmente acabasse de comer.

– Vocês agora irão diretamente para seus quartos e de lá não poderão sair. Aconselho que vão logo dormir, pois amanhã encontrarão Maxon. – Annabeth sorri e nos dispensa.

O barulho dos saltos de nossos calçados batendo no chão da escadaria e dos corredores preenchia o lugar, antes silencioso. Vi Marlee a algumas pessoas de distância de mim, ela sorriu e depois entrou em seu quarto. Fui para o meu.

Mas assim que abri a porta, algo frio caiu sobre mim e começou a escorrer pelo meu corpo e depois tudo ficou escuro. Minhas damas de companhia, que eu havia dispensado antes de ir pro jantar mesmo contra a vontade delas, não estavam lá e eu me arrependia muito de tê-las mandado embora.

Tirei, com muita dificuldade, o balde da minha cabeça. Passei a mão pelo meu rosto, para limpar os olhos. Um líquido vermelho escorria por todo meu corpo, mas graças a Zeus não era sangue, devia ser tinta ou molho de tomate. Agradeci por não pirar.

Sem fôlego, desci as escadas. Do nada, tudo estava girando e eu precisava de ar. Um rastro de vermelho seguia meus passos. Quando desci as escadas, quase cai. Estava tudo preto e eu não enxergava nada. E depois estava tudo claro demais.

Ouvi um grito. Era um grito masculino, abri os olhos e tentei identificar quem era. Um guarda me olhou assustado por alguns instantes e depois finalmente leu meu broche.

– V-você está ferida? Isso é s-sangue? – gaguejou com a voz trêmula.

– Você está bem? – perguntou o outro guarda, com a voz mais firme.

"Eu pareço bem?", tive vontade de responder, mas apenas disse, com a voz mais trêmula e frágil do que a do guarda:

– Pre-preciso sa-sair.

– Desculpe, senhorita, mas não pode – seu tom é urgente. – Quer ajuda com alguma coisa?

– P-preciso sair. – digo, quando meus joelhos fraquejam e eu caio nos braços do guarda.

– Deixem-na sair – diz uma voz autoritária.

– Mas senhor...

– Deixem-na sair. – ele repete.

O outro guarda abre as portas e só o pequeno jato de ar que sai delas já é o suficiente para me revigorar. Saio correndo desgovernada para o jardim, tropeçando nos desnecessários saltos que por algum motivo ainda estão nos meus pés. Livro-me deles e continuo a correr – leia: tropeçar – quando não consigo mais correr, paro em algum lugar e lá me encosto, em um banco de pedra, sujando-o de molho vermelho.

– O que aconteceu? – pergunta a mesma voz que pediu/ordenou que abrissem a porta.

Viro minha cabeça em direção a voz.

Maxon Schreave me olha com curiosidade. E o mais incrível, ele nem parece chocado.

A Seleção SemideusaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora