Horrorizado com aquelas palavras, me forcei a virar as costas e ir embora, mas antes disso, o olhei por uma última vez e decretei a minha decisão:

— Não conte comigo para as suas tramóias, pai. Estou fora dessa palhaçada! — e antes de qualquer ação, Giancarlo caminhou até a mim com rapidez e me apontou o dedo.

— Você casará com Alicia Montenegro ou juro por Deus que tirarei você do cargo da empresa e te mandarei para o exílio! — engulo seco com a forma que ele agira. Mas aquelas palavras não me abalaram, pelo menos não da forma que pensei.

— Faça o que achar melhor, meu pai. A decisão foi tomada! A partir de agora você não me forçará a nada que não seja da minha vontade! — decreto, deixando-o atortoado.

— Não pode me virar as costas! Eu sou o seu pai e você me deve respeito, seu inútil! Está cometendo o pior erro da sua vida, Henry! — ele tentou argumentar ainda mais, mas não dei ouvidos.

Quando já estava fora daquele ambiente tóxico, fui para o terraço e fiquei admirando a pequena piscina de lá, para tentar respirar ar fresco. Meu pai não tinha limites, não aceitava um não e sei que agora se virá contra mim. Por sorte, esperteza ou atitude precipitada, uma conta no banco com um bom dinheiro estava em meu nome, bem guardada e escondida. Caso Giancarlo continuasse com as ameaças infundadas, pelo menos algo já estava feito.

— Henry? — virei rapidamente para olhar quem estava me chamando e me deparei com Matteo.

Seu rosto estava inchado, perdido e com um semblante de cansaço. Ele se aproximou como se não soubesse o que dizer e parou ao meu lado, olhando em direção a piscina.

— Está tudo bem? — perguntei quase em um sussurro.

— Eu ouvi. — respondeu pensativo. — Desde que me entendo por gente tento ter o amor do meu pai. — sua voz estava embargada, mas ele se manteve firme. — Sempre invejei você e Paola por terem ele em suas vidas, sabe? A falta que ele me fazia, era tão... Tão assustadora. Eu só queria o meu pai, Henry.

Ele vacilou por alguns segundos, mas se segurou, parecia querer explodir, jogar todos os sentimentos ruins que haviam dentro dele para o alto. Mas ele, infelizmente tinha o nosso sangue, o ensinamento cruel de nosso pai, que lembrava constantemente que um Bianchi Gali não demonstrava fraquezas.

"Enquanto deixarmos nossos sentimentos fluírem, sempre seremos fracos e a um passo da nossa derrota."

Matteo respirou fundo e me deu as costas. Não sabia exatamente o que falar para o meu irmão, não tínhamos sido criados juntos e nunca nos damos bem, mas antes que ele fosse, a única coisa que saiu de minha boca foi:

— Giancarlo não te merece, Matteo. — pensei por um segundo que ele fosse responder ou voltar para onde eu estava, porém Matteo continuou andando sem olhar para trás.

Sufocado, sentei em uma espreguiçadeira e olhei o céu limpo, sem nenhuma estrela aparente. Deixei que toda a agonia e inquietação fosse levada pelos ventos fortes daquela noite, tentando com todas as minhas forças que um minúsculo momento de paz me acolhesse.

Mas não era exatamente isso que aconteceria naquela noite, isso era fato.

— Alô? - atendi, mesmo não sabendo quem estava me ligando. O nome "desconhecido" na tela do visor deixou-me curioso e atento para qualquer complicação.

— Henry Bianchi. — a voz doce de Monique ecoou na minha mente. Surpreso, quase não respondi.

— Monique. — ouço uma risadinha do outro lado da linha e engulo seco.

— Precisamos conversar, amore mio.

— Pensei que já tivéssemos resolvido nossas questões. — levantei da espreguiçadeira e caminhei até a varanda de vidraça do terraço.

— E resolvemos, querido. Nossa conversa é importante para nós dois, acredite.

Coloco a mão livre no bolso da calça e olho para o térreo.

— Importante? — pergunto tentando entender o que merda aquela mulher queria.

— Olha, detesto spoilers, mas como você é paranóico e desconfiado vou soltar um bem significante. Enrico Ferrari e Giancarlo Bianchi, nossos papais. - debochou.

— Onde quer chegar...

— Mandarei o endereço e horário por mensagem, sugiro que vá ao meu encontro, tem muitas coisas que você precisa saber.  Até mais! — desligou.

Caminhos QuebradosWhere stories live. Discover now