A Ordem / Fragmentos da Eternidade, Livro 02

06 - LAURA 木

– Thiago, a quanto tempo você saiu do curso? – Estávamos agora na biblioteca tentando resolver o quanto antes nosso problema de tarefa em dupla, bem, eu quem queria resolver o quanto antes.

– Acho que fazem quase 3 anos, não lembro ao certo recebi uma proposta pra trabalhar fora então simplesmente tranquei o curso e fui, mas decidi voltar para terminar depois de tudo que aconteceu, não faço ideia do porquê não tinha sido jubilado ainda.

– Interessante. – O fato dele não ter sido jubilado mesmo, é claro.

Voltamos ao silêncio enquanto eu folheava alguns livros, não estava realmente preparada pra começar a fazer trabalhos em grupos tão cedo, mas algo nele me fazia tirar um pouco do peso da insociabilidade que parecia ter me acometido, talvez fosse culpa das joias ou algo assim, o que me fez lembrar de uma coisa importante...

– Ei, um segundo, você já mudou a forma da sua joia, como fez isso?

– Como é?

Tratei de explicar o mesmo que Ethan havia me explicado pouco tempo depois por mensagem, mesmo que parecesse que estava evitando conversar com a maioria dos Guardiões, eu ainda mantinha contato com Ethan, ele parecia ser o que menos sentia algum tipo de indiferença comigo.

– As joias podem mudar na tentativa de manter uma ligação maior com seu dono, eu não sei ao certo como funciona, mas cada um acaba tendo uma joia diferente.

– Estranho, a minha sempre foi esse brinco, e a sua?

Ele mostrou um dos brincos circulares na orelha direita, um arco vermelho com uma pequena pedra rosa, parecia até um diamante, era similar aos brincos que Anna usava, talvez fossem os mesmos no fim das contas. Tirei e mostrei o colar com a estranha pedra, eu ainda não havia tentando fazer o que os outros fizeram, estava evitando usar meus poderes e só voltei a fazê-lo no momento que dei de cara com o monstro na faculdade, então, ela ainda estava como sempre.

– A sua joia permanece com a forma que a Anna usava, ela acabou usando mais os poderes por vontade própria do que eu.

– Talvez sua irmã tenha me dado de presente nessa forma pra que você ou alguém mais reconhecesse, não sei. – Percebi que Thiago tentava me animar com as palavras, sorri.

– É, talvez...

Me parecia estranho pensar a respeito daquele assunto, era como se eu tivesse continuamente presa a essa sensação de vazio, eu já havia entendido parte da realidade, só precisava entender o restante e seguir, talvez por isso que havia evitado os demais Guardiões, parecia que sempre que eu tentasse seguir adiante seus olhares me diriam como não fiz absolutamente nada, que estive sempre errada e que poderia ter lutado mais, sei que nem Ethan nem Thiago pareciam sentir isso, ou transparecer isso, eles só estavam ali e me respeitaram e me entenderam acima de tudo.

Foi então que o silêncio dos meus pensamentos foi novamente quebrado por Thiago, mas não que eu estivesse reclamando, ele tinha uma presença intrigante as vezes.

– Tem uma coisa que eu ainda não sei, mas me veio essa dúvida!

– Pois diga. – Rebati, me concentrando agora em minhas folhas.

– Cê não vai ficar brava por eu mudar de assunto, não é?

– Você já mudou, só prossiga, não sendo nenhuma cantada.

– Você já tem essa impressão errada sobre mim? – Olhei de relance e ele estava com uma expressão de chateação, revirei os olhos.

– Errada?

– Desisto! Enfim, voltando ao tema, eu te contei sobre o ataque que tive e você me contou parte do que se lembra do ocorrido, mas tem algo que não bate, o que são esses monstros e qual a relação deles com os Guardiões?

Pela primeira vez ele pareceu mais inteligente do que aparentava, quase me fazendo sentir culpada por tê-lo julgado antecipadamente, contudo, aquela era uma coisa que eu também não sabia e nem mesmo havia pensado.

– Eu sempre achei que era o Matteo quem controlava aqueles monstros, achei que tinha alguma relação com a joia dele, mas ele acabou sendo derrotado no fim das contas...

Por um instante outra informação começou a passar pelos meus pensamentos, e se tínhamos esquecido algo?

– Ei, o que foi? – Thiago percebeu meu desconforto.

– A menos que...

Me lembrava vagamente do ocorrido, houve uma grande explosão e um desmoronamento, haviam parte de suas roupas e sapatos jogadas pelos escombros, era impossível ele ter escapado vivo daquilo, e seria ainda mais frustrante ele sair ileso depois de tudo que causou a minha irmã.

– A menos quê? – Thiago novamente me tirou de meus pensamentos.

– A menos que ele ainda esteja vivo!

– Você acha que sim?

Eu não conseguia ter certeza de nada, mas a sensação de desconforto começava a me tomar por completo, e isso era mais do que eu julgaria ser apenas uma impressão.

– Frente a situação, tudo é possível, ainda assim, não posso dizer com clareza se aquelas criaturas são fruto dos poderes dele, parece algo mais, algo que ainda não entendemos, e acho que o único que pode conseguir essa resposta é Ethan que está com o livro dos segredos.

– A gente poderia ir até ele, não é? Resolver logo toda essa questão.

– Poderia sim, também estou curiosa com outras questões, mas antes disso eu quero terminar isso, podemos?

– Sim senhora – Thiago fez um aceno de cabeça e enfim resolveu voltar a atenção a nossas folhas de tarefas.

Muitacoisa parecia sem explicação e outras mais pareciam inexplicáveis, mas por hora,me concentraria em minhas obrigações, e talvez isso melhorasse um pouco meu ânimo,mesmo que fosse pouco, valia a pena tentar.