Cry baby

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-- Ah mãe isso dói - resmunguei enquanto ela puxava os pelinhos salientes de minhas sobrancelhas a fim de endireita-las.

-- Mais de um mês sem depilar as sobrancelhas dá nisso, agora eu tenho que desmatar a floresta que habita o seu rosto - disse colocando mais uma folhinha sobre a cera já posta sobre meu rosto e puxando.

Já havia se passado um mês desde os acontecimentos anteriores, Jeon nem deu as caras desde a festa e o recesso da faculdade fazia com que as visitas de Adam a minha residência fossem mais frequentes, muito por não nos vermos todos os dias como de costume.

A contar da última vez que nos enteolhamos através da janela, meu fatídico vizinho não se deu nem ao trabalho de me dirigir a palavra, ainda nos encontramos uma vez pela manhã quando pus o lixo para fora, ele fazia o mesmo e por mais que eu voltasse toda a minha atenção para o rapaz, este nem sequer me olhava de relance.

-- Muito estranho - Adam dizia enquanto esfregava o queixo - oque esse garoto tem?

-- E eu lá vou saber? - bufei - primeiro ele me dá falsas esperanças a respeito dele, e depois some como se tudo não passasse de uma alucinação.

-- Sobre oque conversam? - mamãe perguntou enquanto juntava algumas roupas para lavar.

-- Nada demais mãe, é só sobre o Jeon.

-- Ah, nosso simpático vizinho - ela sorriu - a propósito, o convidei para o jantar de ação de graças .

-- Você oque!? - Adam disse junto a mim em unissono.

-- Isso mesmo que ouviu oras, o garoto vive sozinho e quase não se vê ninguem de sua família aparecer, achei que seria uma boa ação de minha parte convidá-lo, não queria ver o pobre coitado passar a ação de graças sozinho.

-- Mas mãe - suspirei em sinal de desapontamento - você prometeu que não faria isso denovo.

-- Olha Hellena, isso tem mais haver comigo do que com você, eu não suportaria ver alguém sozinho numa data como esta, e você já está bem crescidinha, já é hora de aprender a enfrentar os seus problemas.

Afundei a cabeça sob o travesseiro, mais uma vez eu iria ter que olhar para Jeon e receber dele outra negativa, não suportaria mais seu silêncio, era sufocante não poder trocar ao menos uma única palavra com ele, depois de tantas coisas já ditas.

-- É isto, meu fim está próximo amigo.

-- E eu vou estar assistindo de camarote. - Adam riu-se.

-- Idiota - chiei atirando uma almofada em si.

[...]

Já a noite, por mais que meu subconsciente gritasse, me dizendo que a visita de Jeon não me faria bem, procurei minha melhor vestimenta, um vestido preto longo com uma fenda na perna direita, fiz um coque frouxo e pus brincos. Não queria passar a impressão de que seu silêncio me abalava, então quanto melhor eu parecesse no momento, mais eu conseguiria disfarçar minha tristeza.

Apesar de tudo eu ainda nutria sentimentos pelo garoto, mesmo depois de me ignorar e fingir que não sabia da minha existência, meu coração ainda palpitava, apenas ao ouvir seu nome.

Me direcionei para fora de meu quarto já na intenção de ir rumo a sala de jantar, mas paralizei ao ouvir o burburinho que se formava no andar de baixo. Mamãe cumprimentava alguém que acabara de chegar, aquela voz rouca me era familiar, me pus a ouvir toda a conversa atentamente antes de descer. Falavam sobre trabalho e outras bobagens que não me interessavam nem um pouquinho.

Decidida a bater de frente com meu problema, me direcionei a ponta da escadaria, apoiando-me ao corrimão, desci vagarosamente cada degrau, ganhando a atenção de todos aqueles presentes, e sem demora um par de olhos se voltou para mim, aqueles os quais que eu mais almejava, me fitaram de cima a baixo, seus lábios enteabertos não escondiam a surpresa em me ver ali, e embora estivéssemos sem manter contato um com o outro a tempos, o rapaz se prontificou a me receber no fim da escadaria estendendo a mão para que eu me apoiasse a ele, logo me direcionando até a mesa de jantar.

A short love storyWhere stories live. Discover now