𝐑𝐨𝐬𝐚𝐬 𝐞 𝐋𝐨𝐛𝐨𝐬

Capítulo 34

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Rosé suspirou profundamente, uma pequena nuvem de ar se espalhando no ar. Ela se ajeitou mais uma vez na cadeira, irritada pela má escolha de assento para uma ocasião daquela.

A sua esquerda, o rei estava sentado em uma espécie de trono de madeira conversado com alguns ministros a sua frente. Á direita dele, Lucius se postava em pé, observando a multidão com uma expressão presunçosa no rosto. Rosé revirava os olhos a cada palavra que ele dizia, um comportamento infantil para toda essa situação infantil que ela era obrigada a passar. Era uma guerra fria, em todos os sentidos das palavras.

Internamente, ela estava ansiosa também. Já havia se passado algum tempo que sua carta fora enviada a Casa Carin. Ela esperava que, mesmo com toda a neve atrapalhando o caminho, a reposta chegasse em breve. O que Susan havia feito não foi de mal algum. Era compreensível que a dama de companhia da falecida rainha tentasse se aproximar dela e cuidar dela, ainda que tratasse o único assunto que as ligava como se nada tivesse acontecido, exatamente como um bom clesiano faria.

Makaria e Susan estavam por perto, prontas para atender qualquer necessidade que Rosé poderia ter. Mas quem realmente a incomodava como se ela fosse uma criança incapaz era Mikaeel. Ele trajava sua armadura de cavaleiro, o emblema de rosas vermelhas brilhando em seu peito feito rubi. Seu rosto, entretanto, estava encoberto pelo capacete.

O maldito capacete.

Era obvia a provocação do Lorde Lucius ao dar ele para Mikaeel, ainda mais que sua ordem fosse sempre usá-lo, como se um maldito capacete fosse a o único meio que Mikaeel tivesse de expor o seu título. Esqueça o pacto, o fato de ser um homem-lobo ou futuro alfa. Um cavaleiro de verdade trajava a armadura completa.

— Quando a apresentação irá começar? – Makaria sussurrou.

— Tenha calma – Susan reclamou.

— Eu tenho calma, mas por tanta demora?

Makaria se aproximou da princesa, falando baixinho ao seu lado.

— Alteza, será que aconteceu alguma coisa? Não pode fazer algo?

Rosé olhou para ela, estranhando a forma como a duquesa estava mais amigável com ela.

— Acredito que não há nada para se fazer. A viagem foi longa e as acadêmicas trouxeram muita coisa. O atraso é normal, acho.

— Não concordo – Makaria bufou – Se marcam algo num horário, por que não se preparar antes para cumprir isso?

— Dez anos aqui e ainda não se acostumou com isso? – Mikaeel perguntou.

A princesa começou a prestar mais atenção na conversa. Mikaeel não havia dito nada para ela naquele dia.

— Os lobos são pontuais!

— E tem bons ouvidos – Susan interviu – Parem de conversar, não é hora. Com tantos lobos aqui, falar no mais baixo tom de voz é o mesmo que gritar.

Rosé sorriu para Susan. Apesar de uma vida inteira purificada, ela ainda não gostava de lobos. Mesmo que não houvesse nenhum motivo para isso.

A apresentação não era nada artístico, apesar da empolgação da duquesa. Os acadêmicos foram chamados ao castelo para trazer respostas definitivas ao inverno que se prolongava e todas as variáveis que isso poderia causar. E como a crise já havia chegado ao castelo, Rosé não se sentiu nem um pouco animada em saber das boas novas.

— Os preparativos estão de acordo com o que pedi? – o rei perguntou.

O Ministro da Economia deu um passo à frente, sobressaindo perante a roda de ministros.

— Sim, tudo conforme o planejado. As alas desativadas já haviam sidas e preparadas para a hospedagem. Apesar da chegada apressada, todos foram acomodados de acordos e servidos com a comida de melhor qualidade. De acordo com meus cálculos, a estadia prolongada trará efeitos positivos para a economia do castelo. As prestações...

— Como a estadia dos estudantes pré-selecionados da Academia Real de Bamidele trarão efeitos positivos para a economia, exatamente? A chegada deles não seria justamente o contrário, a julgar por suas funções? – disse a princesa.

O ministro calou-se por um momento. Ele olhou para o tablado, embora Rosé tenha dúvidas a quem ele pediu permissão para dar mais detalhes.

Como abrigar mais pessoas no castelo fará algum bem?

— As casas de cada estudante mandaram provisoriamente uma quantia de imposto que cubra a estadia de seus filhos aqui.

— Em meio a uma crise econômica? O que eles ganharam com isso?

Burburinhos se espalharam com a menção da palavra crise.

— São esquemas políticos, vossa alteza.

— Sim, as casa serão muito importantes para nós. Acredito que Anaclesia esteja cobrando, dessa vez por meio de impostos, a lealdade que ela nos deve então.

— A inteligência de vossa alteza real é surpreendente – Lorde Lucius disse, fazendo uma meia reverencia a Rosé.

Os demais ministros os seguiram, mas o rei manteve alheio diante disso.

Rosé não comentou mais nada, até porque não havia o que comentar. Os ministros mantiveram-se em silêncio, encerrando toda a animosidade de antes. Felizmente, pouco tempo depois, a apresentação teve início.

Rosé não tinha tanto contato com a Academia de Bamidele, uma coisa que ela, como rainha, pretendia mudar. Entretanto, ela conhecia Meira de Marinel superficialmente; sabia que a mulher de cabelos curtos e olhar sonhador era a diretora da academia. Já havia visto em algumas ocasiões diplomáticas, como quando iniciava uma nova disciplina em seus estudos ou quando eles finalmente acabaram. Distante e obstinada, totalmente voltada para academia, ela esperava que sua diligência trouxesse respostas claras a perguntas difíceis. Porém, para sua surpresa, foi um homem alto e musculoso que se postou a frente dos acadêmicos, iniciando a apresentação.

— A Academia Real de Bamidele – ele começou, sua voz exuberante chamando a atenção de todos – tem o prazer de ser aceita no Castelo de Moreau por vossa majestade real. Salve a Grande Ailsa. Que seus princípios e anseios sejam derramados pelos corações mais puros de toda a Anaclesia.

— Salve a Grande Ailsa – um coro se seguiu atrás dele.

E foi quando aquele grande homem desconhecido com o mais novo título de diretor da Academia Real de Bamidele pôs os olhos em Rosé, com um enigmático sorriso serpenteando seus finos lábios, foi quando a princesa percebeu o quão cega ela estava pelo mundo a sua volta.

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