32. eu posso, mas não deveria fazer isso

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a ideia foi de kang taehyun.

por algum motivo desconhecido, em plena segunda feira, após uma prova surpresa, duas atividades extras — para garantir notas aos que pudessem precisar — e uma aula de educação física muito cansativa, taehyun decidiu que ir ao fliperama depois da escola seria uma ótima ideia. e embora beomgyu soubesse o real motivo, preferia fingir que aquilo não se tratava de taehyun e suas fracassadas tentativas de se declarar ao amado.

o dia está bonito, realmente propício a um passeio tranquilo. e enquanto conversam a caminho do fliperama, beomgyu se esquece dos problemas por alguns instantes. kai é muito divertido e alto astral, o total oposto do seu melhor amigo, que é quase sempre meio para baixo, um pouco frio e um tanto quanto distante. taehyun tem um coração bom, é inteligente, agradável, muito pé no chão e ciente das coisas, mas falta-lhe leveza. essa mesma que hueningkai carrega.

enquanto os vê discutir sobre a pontuação em um dos jogos, beomgyu nota que sim, eles se encaixam, e é aí que relembra dos seus próprios problemas, de soobin, de yeonjun e de toda a confusão. as memórias recaem sobre si com força, o fazendo lembrar de quando frequentava este lugar com soobin, antes mesmo de começarem a namorar, quando ainda flertavam e, timidamente, expunham seus sentimentos. as sensações boas daqueles momentos voltam junto com as lembranças e beomgyu quase pode sentir suas pernas tremerem, tal como quando segurou a mão do namorado pela primeira vez, bem ali. e eles se encaixavam perfeitamente bem.

"ah não, beomgyu!", taehyun o arranca dos seus pensamentos autodestrutivos, repreendendo-o. "nós viemos aqui pra nos distrair, não pra você sentar ai e chorar".

chorar? droga! beomgyu leva as mãos ao rosto e só então sente as bochechas molhadas. e, outra vez, as lágrimas vieram sem o seu consentimento e no pior contexto possível.

"desculpa", é só o que consegue falar, com a voz embargada.

amparado pelo melhor amigo e o quase namorado do mesmo, os três rumam para um pequeno restaurante ali perto, um local mais tranquilo e silencioso para que possam conversar e para que beomgyu se acalme. ele já tem uma bagunça gigantesca com a qual lidar por dentro e a agitação de ao redor não estava ajudando.

"quando você vai dar um jeito nisso? você me disse que iria fazer isso no final de semana", taehyun fala como um pai justo que quer que o filho arque com as consequências dos seus atos para criar responsabilidade. e as vezes esse lado... paterno do melhor amigo é um pouco assustador.

"eu não consegui", murmura afetado, com a visão embaçada pelas lágrimas. o que é bom porque assim não vê o olhar mortal de taehyun sobre si.

"eu sinto muito, beomgyu hyung", kai diz suave e delicadamente, colocando um peso sobre a frase que soou um tanto quanto... trágico. ou pior: mórbido.

beomgyu ergue o olhar marejado para o mais novo, curioso para saber o que ele expressa em seu semblante, porque por seu tom de voz exprimiu algo que lhe remeteu a luto. é, ok, estava prestes a perder alguém — outro alguém, uma vez que já havia se perdido há algum tempo —, mas não é como se fosse assim... tão... intenso.

"por tudo isso. sabe, essa coisa toda. não deve ser fácil ficar dividido assim entre dois amores".

a face de beomgyu consegue exprimir com muita precisão a mistura de sentimentos que o acomete neste momento. e é como um soco muito bem dado na boca do estômago, que o tira o ar e é preciso prender a respiração por alguns segundos antes de conseguir retomar o controle.

"o que?", murmura um pouco angustiado e incrédulo.

"gostar de duas pessoas. ao mesmo tempo. isso deve ser...", a fala de kai é interrompida pelo sutil toque de taehyun em seu braço. um pedido silencioso para que parasse de falar, e assim o fez.

해야해 (heyahe)Where stories live. Discover now