15. sol e yeonjun

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os primeiros indícios de que o dia seria diferente se deu antes mesmo de beomgyu ter a oportunidade de alcançar satisfação total e acordar por si próprio, descansado e revigorado.

a causa do seu despertar prematuro foi uma ligação inesperada do seu namorado logo pela manhã. isso acontecia com muita frequência no começo, mas depois de um tempo (mais ou menos três meses), soobin passou a mandar mensagens e, as vezes, nem isso.

eles se falaram por algumas horas, e, durante esse período, beomgyu mal conseguiu abrir os olhos devido a ter passado boa parte da noite anterior jogando. a conversa fluiu bem até que, por fim, soobin se despediu dizendo que precisava terminar um trabalho e estudar. após desligar, beomgyu largou o celular desleixadamente e voltou a dormir.

o segundo indício de que o dia traria situações fora dos padrões, foi acordar de súbito de um sonho de cunho erótico com alguém que, claramente, não era o seu namorado. o sonho pareceu, na verdade, uma lembrança com cenas extras. beomgyu se lembrou muito bem do dia em que estava com yeonjun na sala da casa dos kang, e o mais velho disse o que pensava sem qualquer inibição, sendo estranha e graciosamente sincero. e sim, isso mexeu consigo de alguma forma.

mesmo estando sozinho em seu quarto, abraçado pela escuridão, bem protegido por quatro paredes, é difícil cair em si de que talvez — apenas talvez — tenha sentindo alguma coisa naquele dia, enquanto olhava nos olhos do universitário descolado e desavergonhado. e, depois de despertar de um sonho tão vívido e intenso, é muito difícil, quase impossível, negar a si mesmo que ele é atraente. droga! ele é a porra do charme em pessoa e ninguém pode culpar beomgyu por se sentir — levemente — encantado, certo?

beomgyu afasta esses pensamentos para longe, dando um chega para lá nas ideias fantasiosas e perturbadoras sobre o seu amigo mais velho bonito e engraçadinho para voltar a dormir, na intensão de que não se lembre mais do que sonhou.

o terceiro acontecimento que causou estranheza no sonolento e atordoado choi beomgyu, foi receber a visita inesperada — e não solicitada — de kang taehyun, este que invade o seu quarto e, sem aviso prévio, deixa a luz solar entrar ao abrir as cortinas blackout. beomgyu não está preparado para despertar e também não tem a menor intenção de sair da sua cama naquele sábado ensolarado, contudo, taehyun se mostrou disposto a fazê-lo mudar de ideia. ou quase isso.

muitos barulhos, muita luz e pouquíssima disposição para encarar outro mundo que não fosse os dos sonhos. mesmo que, para beomgyu, até os dos sonhos estivesse o causando momentos difíceis. e sim, ele ainda se lembra do sonho — indevido — que teve com o outro alguém que não é soobin, e isso torna ainda mais difícil despertar para a dura realidade.

"o que é isso?", beomgyu indaga com a voz rouca e falha devido a sonolência.

"levanta, beomgyu. vamos dar um passeio o dia está lindo", a voz de taehyun transmite uma animação que causa enjoo em beomgyu.

"pra que? me deixa dormir", murmura sendo o total contraste do amigo: com desânimo escorrendo por cada palavra.

"sabe que horas são?".

"não. e não quero saber".

foi uma tarefa árdua, que exigiu de taehyun muita força de vontade-braçal. ele praticamente arrastou o amigo para dentro do banheiro, o obrigou a vestir roupas que não fossem do namorado e o levou para fora da casa, ignorando os protestos do quase morto-vivo, também comumente conhecido por choi beomgyu.

"que calor infernal!", é a primeira reclamação de tantas outras que vem enquanto fazem o caminho para algum lugar que beomgyu não fez nem mesmo a questão de perguntar, porque não quer estar ali ou em qualquer outro lugar que não fosse o seu quarto.

taehyun, por sua vez, parece ter praticado muito — muito mesmo — a controlar a sua paciência, já que não o xingou ou o mandou calar a boca uma única vez. beomgyu descobriu, por fim, que o bom humor do amigo nada tinha a ver com práticas de yoga ou meditação, na verdade a razão do bom humor tem nome sobrenome e é estrangeiro.

e por mais que beomgyu queira muito repreender o seu amigo por tê-lo feito sair de casa para segurar vela, mantém a edução na superfície e sorri para o mais novo ali presente, empurrando goela abaixo todos os palavrões que lhe subiram como se fossem uma ânsia de vômito fortíssima.

"você está bem, hyung?", e, francamente, ele não conseguiria ser rude com kai kamal huening porque o garoto é gentil demais, sorridente demais, prestativo demais e tão meigo... é impossível pensar na possibilidade de ser grosseiro com ele. não dá.

"não, mas eu vou ficar. depois que o taehyun me pagar um ou dois sorvetes", usa de zombaria recheada de sarcasmo para com o melhor amigo.

os três tomam os sorvetes e depois, vão para a praça disposta a poucos metros de distância da sorveteria. kai leva consigo um skate que só foi notado por beomgyu, quando chegaram no local onde outros garotos também dispunham daquela prancha com rodinhas. e isso não poderia ficar melhor. beomgyu apenas não sabe como pode melhorar.

está sol, calor, todos os pontos com sombra estão ocupados por grupos de amigos que também tiveram a brilhante ideia de ir para aquela maldita praça passar o tempo e, porra, ele só quer dormir. beomgyu nunca, em toda a sua monótona e apaixonada existência, sentiu tanto incômodo e chateação quanto naquele momento, naquele dia.

taehyun se esquece da sua existência quando kai começa a andar no seu skate, e, a si, só resta se sentar e fritar sob o sol quente. por sorte, ele se lembrou de passar o protetor solar e trouxe consigo óculos de sol. ok, no final das contas ele sobreviveria. seu maior ponto de distração é ver taehyun tentando andar naquele negócio, com a ajuda do kai. beomgyu pegou o celular do bolso e fez alguns vídeos, porque sempre que taehyun tentasse negar que está apaixonadinho pelo estrangeiro, esfregaria as evidências na cara dele.

o casal perde o foco, porém, quando beomgyu nota que a irmã do taehyun está ali presente e não está sozinha. seu coração dispara antes mesmo de ter choi yeonjun em sua linha de visão e, quando isso finalmente acontece, ele pensa que talvez esteja infartando. suas bochechas esquentam e ele agradece aos céus por estar sol e calor, essa seria a sua justificativa para o rubor que tomou a sua face.

sem saber bem o que fazer, guarda o celular e tenta disfarçar. mesmo que não saiba definir do que está tentando escapar, exatamente.

por sorte está consideravelmente distante dos demais e isso é bom se levar em conta que pode simplesmente correr porque existe um grande espaço para que faça isso seguramente. e é ruim também porque a cada passo que assiste yeonjun dar em sua direção, seu corpo inteiro parece simplesmente não querer funcionar adequadamente e cada função apresenta pequenos defeitos que, em conjunto, o impede de reagir de alguma maneira.

e talvez seja efeito do sol forte, mas as coisas parecem acontecer em slow motion, beomgyu sabe que precisa, mas não faz nada e deixa a sensação voltar com força total, sem qualquer tipo de refreio. isso, possivelmente, é por culpa — também — do yeonjun ser estupidamente bonito até mesmo sob aquele sol escaldante. ele está usando uma regata larga que deixa a mostra os seus braços e, sabe-se lá porque cargas d'água, beomgyu está o olhando dos pés a cabeça, o esquadrinhando e absorvendo tudo o que pode, enquanto sua presença ainda está alheia a ele.

ele é grosseiramente bonito. rudemente atraente e insuportavelmente charmoso. e, mesmo que yeonjun não faça ideia disso, está sendo inconveniente em causar em beomgyu sensações sobre as quais este último não tem controle. e é desconfortável. é extremamente desconfortável. até mais do que o sol que queima de fora para dentro.

해야해 (heyahe)Where stories live. Discover now