13. as (in)certezas de um garoto (in)certo

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é quinta feira a noite e beomgyu precisa sair discretamente para não chamar a atenção. porque o que ele diria se fosse questionado sobre estar saindo numa quinta a noite?

ele poderia ser sincero e dizer que está frustrado por não ter notícias do namorado, e que está saindo para se distrair. mas existe outro motivo implícito nessa explicação — aparentemente — simples, que o faz sentir como se isso fosse muito mais complexo do que — realmente — parece. e não, ele não quer lidar com isso agora, então, apenas empurra isso para o fundo mais escuro da sua mente.

ele está vestido casualmente, essa é a primeira vez que vão se encontrar de propósito e não acidentalmente na casa da família kang. e o motivo disso causar nervosismo também quer ignorar e, outra vez, empurra para o fundo escuro da sua mente.

o local marcado foi uma praça, a mais movimentada daquela área, a mesma na qual beomgyu ficou esperando seu amado no último final de semana. se alguém dissesse que estaria voltando ali, dias depois, por livre e espontânea vontade, consideravelmente animado e desgarrado da sensação ruim que sentiu quando esteve ali da última vez, ele diria que é mentira.

e diria ser mais mentiroso ainda se dissessem que o motivo de estar de volta ali ser por um garoto bonito. um garoto bonito que sorri assim que o vê, o recebendo animado e caloroso.

parece loucura, mas não é. ou talvez seja.

"hey, pequeno", ele diz com sorriso no rosto e na voz, desinibido e animado.

"oi, yeonjun", beomgyu, por sua vez, o responde tímido, ainda meio perdido por estar mesmo ali.

quer dizer, ele realmente levantou da sua cama, se livrou do moletom do namorado — que costumeiramente usa para dormir — e foi de encontro a yeonjun. parece absurdo, mas assim que vê yeonjun, essa sensação se dissipa no ar como fumaça.

"eu sei, você deve estar super ansioso para começar a desabafar, mas antes, vamos escolher os sorvetes e nos acomodar. sinto que isso vai demorar mais do que das outras vezes", ele diz tudo em um tom de brincadeira confortável. é inevitável não se sentir bem na presença dele.

yeonjun é um tagarela, gosta de sorvete e é extremamente criativo. essas foram as informações absorvidas por beomgyu no tempo que conversaram. ao invés de o questionar sobre coisas que tenham qualquer relação com a sua investigação infrutífera sobre como seu namorado está na universidade, ele apenas deixa que yeonjun conduza tudo a seu modo. e não é ruim. ele o faz rir, rir de verdade, por realmente achar graça e não para fingir. beomgyu perde a noção das horas e se pega completamente envolvido no momento, sem pensar em mais nada. sem pensar em mais ninguém.

yeonjun, super consciente e maduro, é quem decide terminar com a noite antes que fique tarde demais para o garotinho menor de idade voltar para a casa. mesmo que ele não tenha absolutamente nada a ver com isso, tem o cuidado de se preocupar com possíveis broncas e castigos que o mais novo pode receber por chegar muito tarde.

e beomgyu o repreende dizendo: "ya! você está agindo como o meu irmão mais velho chato e careta", com zombaria e sarcasmo.

yeonjun ri, achando genuinamente engraçada a comparação, e diz: "talvez eu esteja projetando em você o irmão mais novo que eu não tive, e daí?".

e tomado pelo clima leve e divertido que estão tendo, beomgyu diz sem pensar: "mas irmãos não deveriam querer beijar os próprios irmãos".

no momento em que se da conta do que escapou por entre seus lábios, o sorriso cessa e o clima se torna tenso. o irônico disso é que tanto fez para relevar esse assunto e, agora, por si próprio, trouxe isso a tona novamente. e o pior: estando cara a cara com ele.

yeonjun olha para baixo, notavelmente constrangido e isso é surpreendente. faz com que beomgyu caia ainda mais em si da merda que fez.

"desculpa", pede atingindo um nível nunca alcançado antes de constrangimento.

"ok, vamos lidar logo com isso pra se tornar algo do passado", yeonjun para de caminhar e se volta para o mais novo.

beomgyu retesa e hesita. ele ainda não descobriu como lidar com isso e yeonjun parece muito determinado em apenas acabar com esse... clima de uma vez por todas. o que é bom, certo? é ótimo. beomgyu não quer perder a amizade dele.

"já está no passado, hyung. é algo com o qual a gente pode fazer piada agora", não olha para ele ao dizer. sua vista não tem um ponto de foco fixo e sua mente também não tem nada específico em foco. tudo é apenas uma bagunça que, por pouco — por não terem mais... contato —, não se torna bem típica de choi yeonjun.

"você tem certeza?".

claro que não. a única certeza que tem é que não tem certeza de nada. isso sim é muito claro.

"e por qual outro motivo eu estaria aqui?", tenta desviar disso da melhor forma possível, com suavidade e precisão.

mas yeonjun é muito mais sagaz do que jamais poderá ser e o responde dizendo: "quer que eu seja sincero ou dê uma resposta adequada?".

"eu não deveria ter vindo", diz após alguns segundos imerso nas possibilidades, decidindo, por fim, que recuar é a melhor decisão.

quando faz menção de seguir o caminho que faziam, yeonjun o intercede se pondo em sua frente, isso gera uma proximidade inesperada não desejada. beomgyu ergue o olhar e esse ato quase involuntário pode, facilmente, entrar para a lista de coisas das quais se arrepende, porque encontrar o olhar do yeonjun é tudo que não precisa nesse momento.

"desculpa, isso é culpa minha. eu sei que eu deveria me manter no lugar do ouvinte conselheiro, mas quando eu vejo que é muito mais do que apenas alguém pra falar que você precisa, eu sinto que eu preciso ser mais", ele se justifica olhando fixamente para os olhos de beomgyu. e os efeitos que isso causa no mais novo são inenarráveis.

beomgyu sente sua garganta secar, seu coração acelera e um arrepio o acomete quando, sem aviso prévio, yeonjun afasta algumas mechas de cabelo do seu rosto, com cuidado.

"do que você está falando?", sua voz sai em um sussurro e não se faz necessário mais do que isso para ser ouvido.

"eu não quero ser prepotente, mas... quer saber, esquece", é como se yeonjun tivesse despertado de um transe subitamente. ele não termina o que ia falar e se afasta, tomando uma distância segura. "eu vou te levar pra casa".

beomgyu ainda sente as pernas tremerem um pouco ao dar o primeiro passo e seguir yeonjun. sua mente está uma verdadeira zona e... o que? que merda foi aquilo? e quando ele se pergunta isso, não se refere a yeonjun e sim a si mesmo.

해야해 (heyahe)Where stories live. Discover now