16. a culpa é sempre do culpado

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em dado momento daquela tarde ensolarada, quente e super agitada de sábado, choi beomgyu se encontrou no chão; o rosto a poucos centímetros do solo quente, as mãos ardendo e os joelhos sangrando. e tudo isso aconteceu porque todos os indícios que teve — desde o momento que acordou até o exato instante em que aceitou tentar andar de skate — o levou ao único caminho possível e imaginável para um dia como aquele, e é óbvio que daria merda. e deu.

mas choi beomgyu apenas agiu como um bêbado ao volante e ignorou todos os sinais vermelhos e as placas de 'pare'. e, bem, eventualmente ele parou. no chão.

"você está bem? beomgyu, você se machucou?", o primeiro a chegar ao local do acidente é, obviamente, yeonjun, o responsável por isso tudo.

ao menos beomgyu teve tempo de se reerguer, muito embora seu corpo ainda doesse. a ardência nos joelhos e nas mãos — que foram usadas para evitar que batesse com o rosto no chão — só não é maior e mais intensa do que a ardência em suas bochechas que, aliás, estão rubras como o próprio sangue que escorre dos joelhos. e, que droga, beomgyu odeia sangue.

antes que beomgyu possa dizer que está tudo bem, yeonjun olha para baixo e vê os seus joelhos machucados, além dos arranhões na palma das mãos. desesperadamente, ele fala: "me desculpa. é culpa minha eu não devia ter te deixado fazer isso sozinho".

"está tudo bem, hyung. não foi nada demais", tenta tranquilizá-lo, mas é em vão.

"meu deus! beomgyu hyung você precisa ir ao hospital!", kai exclama exasperado e pronto, a bagunça foi incitada.

taehyun e sua irmã mais velha se juntam a eles e é uma confusão barulhenta com a qual beomgyu não quer lidar, então, ele precisa se exaltar para se fazer ouvir e diz: "ya!", todos param de falar e de tentar carregá-lo, e ele continua: "eu já disse que estou bem e eu posso andar sozinho. não preciso que me carreguem, ok? tá bom?", ele olha no rosto de cada um, a fim de se fazer entender e acreditar.

"tem certeza que...", taehyun tenta, mas falha.

"eu já disse que eu estou bem. parem com isso. eu não sou um bebê que caiu aprendendo a andar, pelo amor de deus!", reclama se sentindo extremamente envergonhado. principalmente por yeonjun o estar encarando de um jeito tão... enfim.

"então vamos andando até a minha casa", e é ele quem diz e desestabiliza o pouco de controle que beomgyu havia conseguido.

incrédulo e desorganizado, pergunta: "o que?", e não é como se não tivesse ouvido.

"a gente precisa limpar isso, olha só", ele aponta em direção aos arranhões e tem um filete de sangue escorrendo pela canela de beomgyu. ele só sabe disso porque sente e não porque olhou, vale ressaltar. "precisa fazer um curativo".

"é!", taehyun concorda e beomgyu o encara com repreensão evidente no olhar.

"sim, faz isso. a casa do yeonjun é aqui pertinho. vamos todos juntos", a irmã — sensata — do taehyun sugere e assim é feito.

yeonjun caminha o tempo todo ao lado de beomgyu, perto demais. tanto que seus braços se encostam. beomgyu precisa fazer um esforço gigantesco para andar normalmente, mas movimentar seus joelhos causa dor, uma dor que arde e queima e parece que tem areia na sua pele. ele precisa quase desesperadamente limpar a ferida e só por isso não reluta em ir até a casa do universitário.

e quando chegam lá é outra luta, porque beomgyu quer se limpar sozinho, mas yeonjun insistem em se meter. e é uma merda ter ele tão perto como estão no momento.

"yeonjun! eu já disse que não...", tenta, de novo, se fazer entender, mas é em vão.

os dois estão no banheiro, e tem muito espaço ali para duas pessoas, mas yeonjun está perto o suficiente para causar um desequilíbrio interno extremamente desconcertante.

"vai ser melhor se me deixar fazer", o mais velho rebate.

"está dizendo o que? que eu não sei me cuidar?", um pouquinho de irritação escapou por entre uma palavra e outra.

"estou dizendo que fica melhor quando alguém faz por você porque é outra pessoa", e yeonjun pode ser considerado a personificação da calma no momento.

"eu faço melhor em mim mesmo do que você pode imaginar que consegue fazer", beomgyu é teimoso e petulante. é o irmão mais novo e não foi muito contrariado em suas vontades, então...

"beomgyu...", mesmo que calmo, yeonjun tem repreensão latente em sua fala. "por favor, senta na droga desse balcão e me deixa fazer isso".

"não...".

é muito rápido. beomgyu não consegue nem mesmo pensar no que fazer porque, quando dá por si, está sentado sobre o mármore da extensa pia que o banheiro dispõem e um grito — contido — escapa quando sente que um de seus joelhos machucados bateu contra yeonjun, quando este o ergueu e, de súbito, e o colocou ali em cima.

"você ficou maluco!?", na verdade quis xingar um palavrão e mandar o mais velho a merda, mas se conteve.

sentir o jeans do mais velho raspar exatamente sobre o machucado recém adquirido não foi refrescante. muito pelo ao contrário, queimou como o inferno.

"a culpa foi sua, se tivesse feito o que eu pedi eu não precisaria ter feito isso e você não teria se machucado que droga! me desculpa, está doendo muito?", a inconstância de yeonjun entre a repreensão e a preocupação seria, em outras circunstâncias, engraçada e fofa. ele se divide entre ficar bravo e se sentir culpado, isso faz beomgyu abaixar a guarda.

"só faz logo isso", murmura resignado, ignorando o coração acelerado e todos os demais alertas internos que tentam o avisar de que talvez aquilo seja um pouco demais.

beomgyu observa yeonjun atentamente, e o cuidado com que ele cuida dos ferimentos é afável. os toques são leves e sutis, como se estivesse lidando com algo super frágil. e nem dói. beomgyu não sente nada. nada que se sobressaia a tudo o que está na superfície agora.

exatamente como na primeira vez que o viu naquela maldita praça. exatamente como quando o olhou nos olhos pela primeira vez, naquela maldita sala. e está de volta agora, com intensidade. e é preciso muita força para tentar empurrar isso para baixo, de volta para a escuridão, para menter submerso. não dá. não enquanto yeonjun está tão perto. não enquanto está simplesmente lindo mesmo que só esteja concentrado no que faz.

o que é isso? é o que beomgyu se pergunta. ele sente que está recuperando o controle quando tenta racionalizar o que sente, mas, é como tentar segurar uma linha fina com as mãos sujas de manteiga. escorrega, escapa, e não é possível obter de volta. não quando yeonjun ergue o olhar e o encara. não enquanto mantiverem essa maldita conexão, não enquanto yeonjun insistir em o tocar. e, dessa vez, ele o toca a face e empurra uma mecha de cabelo para detrás da sua orelha, tirando de sobre o seu olho alguns fios rebeldes. beomgyu toma a breve consciência de que deve estar horrível, mas, novamente, perde a sua linha de raciocínio porque sente os dedos do universitário deslizarem de detrás da sua orelha até o seu maxilar. esse toque o arrepia, o desconcerta e o desconecta da realidade.

e quando yeonjun desvia o seu olhar dos olhos de beomgyu para os lábios, é impossível não saber no que está pensando.

e a lembrança vem com riqueza de detalhes:

"então, no que está pensando, yeonjun?".

"estou pensando em como eu sou um babaca por querer beijar você agora".

해야해 (heyahe)Onde histórias criam vida. Descubra agora