7. já viu um viciado ajudar outro viciado?

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beomgyu se acomoda numa das cadeiras estofadas que compõem a decoração da varanda do apartamento. a vista dali é absolutamente perfeita e o clima é muito refrescante. os olhos do estudante se perdem no céu azul com pouquíssimas nuvens e, por alguns instantes, sua mente fica calma, quase totalmente vazia e em paz.

mas essa calmaria interior dura pouco, quase nada. ele é puxado de volta para o estado de caos — com o qual vem sendo obrigado a lidar há meses — quando uma mão pálida, cujos dedos finos seguram uma latinha de refrigerante, é posta bem diante do seu rosto, na altura dos seus olhos.

primeiro beomgyu se assusta com a invasão repentina de uma lata de coca-cola na sua visão. depois ele ergue o olhar da bebida para o rosto de quem a oferece e, então, volta ao estado de caos que já é quase natural, ao ver os olhos bonitos de yeonjun sobre si. por fim, hesitante, pega a bebida.

"obrigado", diz tímido e menos relaxado.

yeonjun não espera ser convidado e ocupa a cadeira ao lado, parecendo genuinamente relaxado ao se jogar ali, desleixado. beomgyu não diz nada, não tem o que dizer, apenas abre a bebida e ingere o líquido gelado.

"está melhor?", é yeonjun quem irrompe o silêncio.

"não", e beomgyu é apenas sucinto em sua resposta.

"vocês não se resolveram?", deduz.

"não".

apenas a menção ao fato desestabiliza beomgyu e isso parece ficar tão evidente, que yeonjun diz como se pudesse ler a mente do estudante:

"relaxa, vocês vão se acertar. brigar as vezes serve 'pra tornar a relação mais forte, mais sólida. não significa o fim".

e beomgyu sente como se tivesse conversando com o conselheiro da sua escola.

pela primeira vez desde que yeonjun se acomodou ali, olha diretamente para ele e, uau, é como se estivesse vendo ao vivo o ensaio fotográfico de um modelo de perfume importado. os cabelos negros do universitário balançam suavemente com o vento, o olhar dele está voltado para o horizonte e ele sustenta um sorriso sereno nos lábios. e que belos lábios. até mesmo o modo como está sentado sobre a cadeira, com a parte detrás do pescoço apoiada no encosto, de modo que sua cabeça penda um pouco para trás, o fazendo parecer profundamente relaxado... tudo ali inspira arte. a arte de ser indiscutível atraente.

"você... namora?".

beomgyu se obriga a olhar para a paisagem. principalmente por se sentir tímido após fazer a pergunta.

"não", responde simplista e, em seguida, continua: "mas eu sou um ótimo conselheiro".

"por que já teve muitos relacionamentos?", supõem.

"porque eu não namoro", rebate e atrai o olhar de beomgyu.

dessa vez, os olhares se encontram e, enquanto um demonstra dúvida e confusão, o outro apenas exprime uma confiança astuciosa.

antes que beomgyu possa questionar, ele se adianta: "já viu um viciado ajudar outro viciado a se livrar do vício?".

beomgyu ri, meio nervoso, meio sem graça e meio incrédulo, e diz: "isso não faz sentido".

"eu tenho uma visão mais limpa e imparcial da coisa toda, justamente por não ter envolvimento. meus conselhos são os melhores", diz como se estivesse se vangloriando e beomgyu não sabe distinguir se é brincadeira ou se ele realmente fala sério.

talvez ele só queira quebrar o gelo, e bem, está funcionando. beomgyu ri um pouco e, ainda que a presença forte daquele garoto seja quase sufocante, ele consegue relaxar enquanto se refresca com o refrigerante gelado. yeonjun transparece tanta facilidade e tranquilidade, que faz parecer muito fácil falar com ele sobre qualquer coisa e, por isso, beomgyu se sente meio a vontade para perguntar:

"é sempre assim que é ser universitário? fazer trabalhos em grupos na casa dos colegas e toda essa animação?", de imediato já se faz entender o motivo da pergunta e, devido ao constrangimento, nem se quer tem coragem de olhar para o mais velho após dizer.

existe um constraste interessante entre o espaço que yeonjun oferece para conversarem e os limites que deve existir para que não se exponha demais. eles mal se conhecem e, embora o bonitão ali presente tenha sido super empático e solicito quanto a sua dor, deveria entender que ele não é seu amigo e que não pode apenas desabafar como se... fossem próximos ou coisa assim. expor como se sente inseguro não parece ser algo confiável de por a mostra para alguém com quem está conversando pela segunda vez, não parece certo.

de contra partida, yeonjun conduz aquilo de um jeito tão leve, que faz com que beomgyu se sinta confortável em perguntar e pronto, já está feito, de qualquer maneira.

"não. na maioria das vezes a gente só quer dormir", responde sem delongas, como se a resposta fosse uma só e fosse tão exata quanto dois mais dois são quatro. "mas as vezes, principalmente quando se está no final de algum projeto importante ou no fim da semana de provas, a gente consegue ter ânimo 'pra comemorar a vitória de ter sobrevivido".

beomgyu acena positivamente, enquanto pensa sobre o que acaba de ouvir, associando a soobin, é claro. e, outra vez, é como se yeonjun pudesse ler seus pensamentos.

"relaxa, ele não está curtindo e saindo com outros caras. sendo bem sincero, ele tem essa possibilidade e uma vasta opção de escolha, mas no final do dia ele está tão cansado que só deve pensar em dormir, vai por mim", sua voz é calma, mansa, e realmente surte algum efeito.

beomgyu o encara e encontra o olhar dele sobre si, e o sustenta.

"e mesmo que não fosse esse o caso, eu acho que ele não seria louco de trocar você por qualquer outro".

ouvir isso da forma com que foi dita, com a intensidade com a qual foi dita, faz com que beomgyu desmonte e desmorone instantaneamente. ele fica tímido e, outra vez, não sabe como reagir. é demais, então, para aliviar um pouco a tensão, desvia o olhar de yeonjun e toma um longo gole da bebida, que já nem está mais tão gelada quanto gostaria.

beomgyu ri, nervoso, acanhado, e pergunta: "você mal me conhece, porque diz essas coisas?".

"porque você é novo e, assim como ele, está sozinho aqui. mesmo assim você veio chorar no ombro do seu melhor amigo num sábado a noite depois de ter sido largado. isso me faz crer que você realmente gosta dele e qualquer um que troque isso por uma aventura boba não te merece".

sentindo as bochechas arderem e o corpo tremer um pouco, beomgyu o encara e essa foi a pior escolha que poderia ter sido feita nesse momento. é como se uma corrente elétrica percorresse todo o seu corpo, agitando tudo, tornando tudo inquieto, um verdadeiro caos. e quando ele acha que yeonjun não pode ser mais... encantador e... intenso, ele completa:

"e sendo bem sincero, você é bonito 'pra caralho".

beomgyu refreia o impulso de jogar o restante do seu refrigerante em sua face, para tentar se refrescar, e, ao invés disso, olha para frente, focando a belíssima paisagem que a varanda ampla contempla.

muito embora aquela vista tenha se tornado muito inferior ao olhar de yeonjun sobre si, enquanto o elogia daquela forma tão.... veemente.

veemente e quente.

해야해 (heyahe)Kde žijí příběhy. Začni objevovat