26. é como mágica

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(n/a: capítulo sem revisão)

quebrado.
desmontado.
esfarelado.
estilhaçado microscopicamente.

é mais ou menos assim que beomgyu se sente no momento; quebrado de um jeito... irreparável. tal como um espelho, um cristal ou... a confiança. essas coisas, uma vez quebradas, nunca mais voltam a ser o que eram antes. pode até tentar remontar ou colar de alguma forma, mas as evidências de que aquilo não está mais inteiro ficarão sempre a mostra e não será mais a mesma coisa.

soobin nunca mais o direcionará um olhar gentil e dócil, nunca mais dirá que o ama, nunca mais sorrirá para si, nunca mais o abraçará, nunca mais as coisas serão como eram antes. ok, muitas coisas haviam mudado desde que soobin iniciou a universidade, e o desejo de beomgyu é que tudo volte a ser como era antes. antes do antes. antes mesmo de conhecer yeonjun, antes de soobin ir para longe. queria o antes em que eram unidos e felizes.

e esse anseio e desejo pelo antes se torna ainda maior e mais intenso enquanto vê seu namorado dormir em sua cama, o fazendo relembrar, com profunda nostalgia, de quando vinham para casa após as aulas e soobin pegava no sono. eles saiam juntos com a intenção de estudar, mas essa era a última coisa que realmente faziam e enquanto beomgyu jogava em seu computador, soobin acabava dormindo; o livro caído sobre o peito e os óculos na pontinha do nariz.

era muito comum que o acordasse com beijinhos e se deliciava com a manha sonolenta do mais velho, que nesse momento se igualava a uma criança. soobin sempre foi difícil de acordar e era uma tarefa que, sinceramente, beomgyu jamais se cansaria de realizar.

inconscientemente, as lágrimas inundam seus olhos e transbordam, sem que consiga evitar. beomgyu quer se aproximar de soobin, quer muito o abraçar e reviver os momentos da época em que eram um casal digno do papel principal de um dorama romântico, mas não o faz. tem uma barreira — invisível — disposta bem no meio do quarto, que o impede. é como um muro. e beomgyu sempre foi péssimo com esse tipo de coisa, raramente subiu em árvores e nunca ousou tentar pular por sobre um muro. nervoso e aflito, ainda admirado com a sua completa falta de consideração — para consigo mesmo e, principalmente, para com o seu namorado — segura a barra da camisa e, com esse ato, se lembra de a quem aquela peça pertence.

quando olha para si mesmo e se vê vestido com as roupas que, cuidadosamente, yeonjun o vestiu, se sente horrível. a pior pessoa já existente na face da terra. o calor dos braços do yeonjun ao redor do seu corpo invade sua memória, e em simultâneo com a memória, o cheiro do perfume dele parece emanar da roupa, como que para acentuar e elevar o grau da culpa e das demais sensações mistas que o acomete nesse momento.

atordoado, beomgyu não pensa no qua está fazendo quando tira a blusa e a joga para o mais longe que consegue. ele o faz com a convicção de um alguém que apenas precisa disso — se livrar de um objeto ligado ao que quer esquecer — para conseguir seguir em frente como se nada tivesse acontecido. mas o cheiro permanece, como se tivesse impregnado em si, como se emanasse da sua própria pele.

beomgyu corre para o banheiro como se sua vida dependesse de um banho.

conversar é do que eles precisam, mas beomgyu não quer, por isso, ele enrola o quanto pode em baixo do chuveiro. a água está quentinha e sente que pode ficar ali por horas a fio, sem problemas. quer dizer, nem um problema maior do que a situação em si está implicado no ato de procrastinar o improcrastinável*. eventualmente soobin irá fazer perguntas cuja resposta quebrará o seu coração, só resta para beomgyu saber se será capaz de ser minimamente decente e, pelo menos, dizer a verdade. assim, soobin poderia xingá-lo de tudo, menos de mentiroso.

beomgyu desliga o chuveiro e, quanto mais seco fica, mais nervoso se encontra. um embrulho no estômago, uma sensação terrível o acomete. a sensação de encarar a pior coisa que fez na vida não é boa. existiria outra alternativa possível? uma que não envolva machucar ninguém? cogitar essa possibilidade faz beomgyu se sentir um idiota, porque a única possibilidade de evitar machucar alguém seria nunca ter se deixado levar pelo charme do yeonjun. a outra única forma possível seria voltar no tempo, e esta última é tão estúpida quanto este que se encara diante do espelho, pensando no que faria diferente se, realmente, pudesse voltar. a possibilidade de que talvez fizesse — quase tudo — outra vez o assusta e ele espanta esses pensamentos para o mais longe que pode e se recompõem.

beomgyu termina de se secar e veste-se com o roupão, antes de, finalmente, deixar o banheiro. ao retornar para o quarto, encontra o olhar de soobin e mal consegue sustentá-lo por muito tempo, porque pesa e incomoda.

ainda olhando para a janela, observando o quão tarde parece estar, diz: "a gente precisa conversar", com o olhar distante e o coração acelerado.

quando volta o olhar para soobin novamente, o vê sorrir para si e, calmamente, ele da três tapinhas no espaço vago sobre a cama. beomgyu se pergunta o porquê daquele sorriso. para torturá-lo? para dificultar as coisas? incomodado, hesitante e resignado, beomgyu se aproxima e se senta no local indicado pelo namorado.

soobin o puxa para mais perto e o abraça, terminando com o pouco espaço que existe entre eles, e diz: "você ainda está chateado comigo?".

e beomgyu quer dizer que não e que o problema é consigo, mas não o faz. não o faz porque estar sob o calor do abraço do, muito em breve, ex namorado, o embala e inebria seus pensamentos. tudo de bom que já viveram juntos, todos os momentos, tudo o que fizeram um pelo outro, tudo que planejaram para o futuro, todas as promessas... tudo isso volta em um único impacto e o sentimento fortíssimo que sente por soobin reacende tão intensamente que lhe toma o ar, tal como um soco bem dado na boca do estômago.

não, definitivamente não. beomgyu não vai conseguir, e ele sabe disso no momento em que cede e abraça soobin, tal como abraçava seus bichos de pelúcia quando criança em noites tempestuosas; um abraço acolhedor e protetor.

tudo bem, foi só uma vez. uma única vez. um deslize. um escorregão. não significou nada. o seu coração ainda bate forte por choi soobin, seu namorado, amigo, companheiro e, provavelmente, o homem da sua vida.

"não. eu não estou chateado com você. todo mundo erra, binie. nós não estamos isentos disso", beomgyu diz com a voz embargada, as lágrimas quentes molhando a camisa do mais velho enquanto mantém o rosto poiado no peitoral dele. "brigar as vezes serve para tornar a relação mais forte, mais sólida. não significa o fim".

soobin parou com o carinho que fazia nos cabelos do mais novo, e o afastou de si, apenas o suficiente para encará-lo, e disse admirado: "e você ainda se acha imaturo?".

"foi como seus amigos me fizeram sentir. e se quer saber, eu realmente tive medo de te perder pra um alguém mais velho, mais maduro do que eu", confessou um pouco envergonhado.

no entanto, quem está saindo com um alguém mais velho e sendo, pavorosamente, abalado por ele é justamente quem teme.

soobin ri, sustentando firmemente o olhar do mais novo, e, enquanto seca as lágrimas do rostinho delicado do namorado, fala: "se você já é bom assim, então eu mal posso esperar pra ver quando amadurecer".

beomgyu é pego de surpresa e ri. ri com soobin, algo que não faziam a algum tempo. e o som das suas risadas preenche e aquece o momento, espantando todo e qualquer incômodo, insegurança, mal estar... tudo ficou magicamente bem.

"eu te amo, choi soobin. não importa o que aconteça, nunca se esqueça de que meu amor por você é real", beomgyu diz após se recomporem, olhando-o nos olhos sem vacilar, sem deixar espaço para dúvidas.

"eu também te amo, choi beomgyu. mais do que você possa imaginar. eu não imagino a minha vida sem você. é você. eu tenho certeza que é você", soobin sussurra a última frase, com os lábios próximos aos do beomgyu, causando neste último uma onda de arrepios intensa.

e quando seus lábios se tocam é uma avalanche de sentimentos bons. nada mais importa. nada mais importa porque tudo o que beomgyu precisa está sob o alcance das suas mãos. é a segunda vez que sente isso tão intensamente num curto espaço de tempo e é assustador.

mas dessa vez, pelo menos, é com a pessoa certa. seu coração está acelerado pela pessoa certa, seu corpo está quente e ansiando pela pessoa certa. está se derretendo sob os toques da pessoa certa.

é como mágica.
o modo como soobin o abraça forte enquanto o beija e dá vida ao seu mundo, colorindo tudo que outrora estivera cinza, é mágico.

e choi beomgyu sabe que está completamente ferrado.

해야해 (heyahe)Onde histórias criam vida. Descubra agora