19. a calmaria depois da tempestade

702 143 43
                                    

devastado. choi beomgyu está despedaçado. seu coração se encontra quebrado em pedaços microscópicos agora. e dói. ele não sabe para aonde ir ou o que fazer, tudo no que realmente consegue pensar é em se afastar, ir para o mais longe que pode e se isolar.

nem bem atravessou o portão de saída do condomínio, sentiu seu celular vibrar no bolso da calça, mas nem se quer se dispôs a ver quem é. não quer falar com ninguém, de qualquer maneira. está cansado de choramingar para os seus amigos sobre seu namorado, e quer saber? ninguém é obrigado a ouvir suas lamurias, certo? é sábado a noite, dia de festejar ou descansar e não quer mais incomodar ninguém com as suas coisas. chorar para alguém é o que crianças fariam e não, beomgyu não é mais criança.

ele caminha pela calçada, enquanto seca as lágrimas do seu rosto. a determinação que desponta do seu caminhar e da sua expressão facial – séria e impassível — é quase assustadora, só não mais do que aquelas ruas escuras e desconhecidas pelas quais caminha, procurando por sabe-se lá o que. beomgyu não sabe aonde está e não sabe como voltar para casa.

não que ele pretenda voltar para casa. na verdade, essa é a sua última opção. num lampejo, se lembra da única pessoa para quem pode ligar, mas não para pedir ajuda, obviamente.

ao encontrar um local mais movimentado, que não apresenta o risco de ser assaltado ou qualquer coisa assim, tira o celular do bolso e ignora as inúmeras ligações não atendidas de soobin, além das mensagens, e vai diretamente para o contato do yeonjun.

após alguns poucos toques, é atendido por uma voz animada e inconfundível que diz: "oi, pequeno!".

e embora ainda trema um pouco e ainda sinta a raiva e a tristeza queimar, beomgyu mantém-se firme ao dizer: "oi, hyung. o que você está fazendo agora?".

beomgyu age como um embriagado, cujo os sentidos e a noção lógica fora completamente perdida. ele está embriagado, de fato, mas pelo ódio e pela sensação horrível de ter sido facilmente trocado por aqueles babacas que seu namorado — babaca — chama de amigos.

"hum... espera um pouco. são quase meia noite e você está me ligando pra perguntar o que eu estou fazendo? por que não me parece boa coisa?", yeonjun diz num misto de desconfiança e zombaria quase palpável. "está querendo os meus serviços de novo?".

"não. sério, só quero passar um tempo legal com alguém legal, nada demais. eu te prometo que não vou chorar e não vou citar o nome de um certo alguém", diz com seriedade. e não é como se a promessa tenha sido feita para yeonjun.

"isso é estranhamente interessante".

beomgyu não pode ser mais grato por yeonjun ser tão leve e fácil de lidar. o mais velho não o enche de perguntas e apenas conduz tudo com casualidade.

"e então?".

"eu estou em casa agora. pode vir pra cá e a gente pensa no que fazer. ou podemos só fazer nada".

perfeito. isso parece perfeito para um alguém que acabou de ter uma briga terrivelmente turbulenta com o namorado.

"ok. chego ai em alguns minutos".

para a surpresa de beomgyu, estava mais perto da casa do yeonjun do que jamais imaginaria. não levou mais do que quinze minutos para que o motorista de aplicativo parasse em frente ao prédio do mais velho e, em muito menos tempo ainda, se encontra diante de um yeonjun simplesmente lindo; sob roupas largas e os olhos por detrás de um óculos que o deixa terrivelmente fofo.

"eu estava estudando", se justifica espontaneamente, sem que beomgyu precise dizer nada. "entra", ele pede e mantém a porta aberta para que beomgyu passe.

"você estudando em um sábado a noite? isso não parece o seu tipo de coisa", comenta enquanto adentra a sala de estar, seguido por yeonjun.

"e como você pode saber qual é o meu tipo de coisa?", yeonjun o provoca com sarcasmo e é como se já estivesse se acostumando com esse jeito agridoce do universitário.

"eu consigo saber pelo seu jeito. sou um bom observador".

beomgyu não vê como yeonjun reage ao que disse, porque está ocupado demais olhando ao redor, fazendo um esforço imensurável para se manter tranquilo e natural. não é fácil agir como se estivesse tudo perfeitamente normal depois de uma briga com o namorado. a pior de todas, vale ressaltar. lembrar daquilo tudo o traz um incômodo na garganta e precisa empurrar goela abaixo para não chorar nesse exato momento.

a decoração do apartamento é bem simples, mas beomgyu se apega aos detalhes numa tentativa falha de fuga. yeonjun está o observando com atenção e sabe disso. quase pode sentir o olhar do mais velho pesar sobre si, mas ignora. ou, pelo menos, tenta.

um breve silêncio se sobressai entre eles, até que o inevitável acontece e yeonjun diz: "vocês brigaram, não é?", fazendo uma óbvia dedução.

beomgyu continua olhando a decoração de sobre os móveis, se detendo por mais tempo em algumas fotos que acreditou ser dos pais do universitário, ao responder: "sim", como se isso não o afetasse. e afeta. afeta muito.

cuidadosamente, yeonjun pergunta: "quer falar sobre isso?".

"não", responde com firmeza e, finalmente, se vira para yeonjun. "eu não quero falar sobre e não quero pensar sobre".

os dois se encaram e, por alguma razão, ter o olhar do yeonjun sobre si o deixa nervoso. talvez porque ele consiga perceber o quão forçado esteja sendo nesse momento, talvez suas defesas sejam nulas aos olhos do universitário. talvez yeonjun consiga enxergar tudo o que quer esconder por detrás do sorriso que está exposto em seu rosto. porque talvez não esteja fazendo o suficiente, já que não consegue nem mesmo convencer a si próprio.

"ok. tudo bem, vamos te fazer esquecer isso", yeonjun apenas concorda e é receptivo.

e beomgyu sabe que não poderia ter encontrado alguém melhor para passar esse tempo pós briga.

해야해 (heyahe)Where stories live. Discover now