11. o elefante verde chamado verdade

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rápido demais. como num piscar de olhos.

e nada que aconteça rápido demais dessa forma tem a mínima possibilidade de chegar a algum lugar com segurança e estabilidade. tudo que vai rápido demais não se deixa tempo de observar, com calma, todas as possibilidades. isso não pode dar certo, porque não parece certo.

beomgyu tamborila os dedos sobre o caderno, cuja a folha está em branco, e pensa demais sobre o que aconteceu. é inevitável. ele deveria estar resolvendo os problemas matemáticos que a professora expos no quadro, mas, ainda que seus olhos estejam voltados para aquela direção, ele não está pensando sobre os resultados daquelas contas. quem o dera o resultado do que pensa fosse tão exato quanto aqueles cálculos. tudo seria infinitamente mais fácil.

quando as aulas terminaram, beomgyu quis fugir, correr diretamente para sua casa e se esconder no seu quarto, mas taehyun o impediu dizendo: "nós não íamos estudar lá em casa?".

"é que eu não estou me sentindo bem", fingiu estar passando mal, mas obviamente taehyun é esperto demais para cair numa dessas.

"o que foi que o yeonjun fez?", indagou acusatório.

"nada. por que está falando dele agora? o que ele tem a ver com isso?", riu, uma risadinha nervosa que o entrega completamente.

"você foi embora aquele dia sem mais e nem menos. quando eu perguntei pro yeonjun, ele agiu esquisito e foi embora também sem dar muitas explicações. eu conheço aquele idiota a tempo o suficiente pra saber quando ele faz merda", taehyun é como uma mãe colocando o filho contra a parede. ele é certeiro nas deduções, os olhos intensos como se pudessem ler a alma do acusado e as palavras são como agulhas.

beomgyu refreia o ímpeto de se encolher, se sentindo coagido. muito embora não tenha feito nada de errado e essa atitude apenas o denuncie, ele não consegue evitar. ele sente um peso sobre seus ombros, e não é da mochila que está carregando no momento. vai muito além dos livros que precisa levar para casa.

"ele não fez nada. nós não fizemos nada".

"então o que é? você tá esquisito e não reclamou do soobin por dois dias seguidos. alguma coisa está acontecendo, com certeza está".

a desconfiança do taehyun é como uma arma apontada diretamente para a sua cabeça. e beomgyu se sente como um criminoso. mas por que? por que ouvir o nome do seu namorado o causa uma sensação de perigo iminente? se sente como se fosse uma criança que furou o castigo e pegou brinquedos dos quais deve se livrar antes dos seus pais chegarem. por que está nervoso?

"não. não está!", afirma quase desesperado. "não tem nada acontecendo, e eu amo o meu namorado".

"eu não disse que não ama", taehyun rebate ainda mais desconfiado e beomgyu precisa saber por onde o que quer esconder está escapando, para que possa fazer parar.

"por que está me interrogando? eu não fiz nada de errado", e antes de uma resposta, dá as costas para o melhor amigo e volta a caminhar rumo a saída do prédio escolar, seguindo o fluxo dos demais alunos.

"hey, hey. beomgyu-ya. eu não estou te interrogando. desculpa", taehyun o acompanha, não dando muita atenção para as pessoas em quem esbarrou para alcançar o melhor amigo. "desculpa, eu não quis te pressionar, eu só quero saber o que está acontecendo. eu me preocupo com você".

a versão doce e gentil e super meiga do taehyun não é muito posta a mostra. quando beomgyu escuta o modo ameno do seu amigo para consigo, estaca e o encara imediatamente.

ao captar a atenção do beomgyu, taehyun continua: "eu não quero te fazer sentir culpado, isso não é algo condenável. você está aqui, sozinho, tendo momentos ruins com o seu namorado. somos humanos, temos necessidades", a compreensão afável vinda de taehyun torna beomgyu desconfiado.

"do que você está falando, taehyun-ah?".

"da sua indisfarçável atração pelo yeonjun hyung", a resposta vem simples, como se fosse óbvia. como se fosse um elefante pintado de verde caminhando por aquele corredor no qual estão.

beomgyu gela e congela. ele não pisca, se quer respira. é como se suas terminações nervosas estivessem em pane total, ele não consegue fazer absolutamente nada. a verdade choca. ainda mais quando jogada na cara sem o mínimo de preparo. é como um balde de água frio logo após sair de um banho quente.

"o que...?", murmura atordoado.

"ele mexeu com você, eu sei que mexeu", afirma confiante, como se desse a resposta para um cálculo extremamente difícil.

"não...".

sim. a verdade é que sim. beomgyu ficou sim atraído por aquele garoto. mesmo que só tenham se visto três vezes, sendo uma delas naquele momento deplorável em que havia sido largado pelo seu namorado. e, porra!, o jeito como ele olha, o jeito como ele fala, o modo como o faz se sentir especial dizendo aquelas coisas...

e foi rápido demais. como num piscar de olhos.

e nada que aconteça rápido demais dessa forma tem a mínima possibilidade de chegar a algum lugar com segurança e estabilidade. tudo que vai rápido demais não se deixa tempo de observar, com calma, todas as possibilidades. isso não pode dar certo, porque não parece certo. não é certo.

"não, não! claro que não. kang taehyun, não fala merda", reclama impaciente, irritado, muito, muito puto. mas não com o melhor amigo.

"beomgyu!", taehyun o chama enquanto o vê, praticamente, correr para fora da escola.

algumas verdades ficam melhores quando não são ditas, por mais que sejam como um elefante pintado de verde no ambiente.

해야해 (heyahe)Where stories live. Discover now