10. o problema chamado ajuda

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"'tá, relaxa e respira fundo, ok? você está perdendo a cabeça, beomgyu. só... respira", taehyun fala calmo e exprime serenidade em seu tom de voz, tal qual as vozes dos vídeos de meditação guiada que a mãe do beomgyu assiste.

e muito ao contrário do que pretende, não está acalmando e apaziguando o interior agitado do melhor amigo que, atualmente, sofre da síndrome do 'eu estou sendo traído'. beomgyu não conseguiu dormir após finalizar aquela vídeo chamada. soobin apenas falou sobre terem um tempo juntos no final de semana — caso os pais do mais novo autorize que ele vá até lá —, pensou em coisas que poderiam fazer juntos e, é claro, matar a saudade. mas beomgyu só conseguia pensar na intimidade que o seu namorado está tendo com outro garoto e isso o perturbou pelo resto daquela conversa e para mais além.

que sensação horrível. beomgyu não a desejaria nem mesmo para o seu pior inimigo.

"você não entende...", choraminga. "você não viu o que eu vi".

"na vídeo chamada ou na sua cabeça?", rebate com um sarcasmo cortante. nem sempre é fácil ser amigo de kang taehyun.

"diante dos últimos acontecimentos, é, eu acho que eu devo estar mesmo maluco de imaginar que talvez meu namorado esteja se sentindo atraído pelo colega de quarto bonitão dele", replica amargurado, irônico, triste e irritado. dói, arde, queima expor fatos que levam a crer que talvez — apenas talvez — esteja sendo trocado por um cara mais velho fodidamente bonito, que anda sem camisa pelo quarto e divide horas e horas com soobin.

após dizer, beomgyu leva as mãos à cabeça e se encolhe como se tivesse levado um golpe certeiro. pensar sobre essas coisas machuca tanto quanto, de qualquer maneira. essas ideias e imagens que sua mente — traiçoeira — projeta o faz ferver, seu sangue borbulha como se fosse água fervente e, por deus, ele só precisa saber que tudo está bem e que nada e ninguém vai tirar o amor de soobin de si, não é pedir demais, é?

"seja sincero com ele, beomgyu. conta como se sente e para de querer dar um de forte inabalável. ninguém é de ferro", perceptivelmente taehyun não tem mais paciência para os dramas do melhor amigo — se é que algum dia teve.

para beomgyu, então, só resta uma alternativa.



"se você estivesse namorando e se mudasse e passasse a dividir o quarto com um garoto incrivelmente lindo, o que você faria?", pergunta nervoso e se sentindo meio bobo.

a inquietação é tanta que não consegue apenas se manter parado e anda de um lado para o outro, sob o olhar analítico daquele que se mantém sentado no sofá.

"isso é bem abrangente. o que eu faria em que situação?".

"você se sentiria atraído por ele, certo? dividindo o mesmo espaço, dormindo no mesmo quarto, vendo ele sem camisa e...", foi interrompido por uma risada. imediatamente para de andar e o encara irritado e indignado ao mesmo tempo. "qual a graça?".

"você está pirando, beomgyu", diz ainda sorrindo, claramente se divertindo com o desespero alheio.

por que as pessoas não dão a seriedade que o assunto demanda? primeiro taehyun age como se estivesse ficando maluco e agora yeonjun ri da sua cara, na sua cara? qual é o problema com as minhas amizades? é o que beomgyu se pergunta enquanto fecha a cara e encara o mais velho com irritação evidente.

"hey, olha pra você. você é incrivelmente lindo. por que está tão abalado? um relacionamento é a base de confiança, então, se dê a confiança que você merece, choi beomgyu", e mesmo que as palavras transpareçam firmeza, convicção e determinação, yeonjun ainda mantém o sorrisinho bonito nos lábios e a feição é tranquila, calma.

yeonjun não precisa fazer muito esforço para se fazer acreditar, mesmo que beomgyu não acredite em si próprio, consegue ver veracidade no mais velho. os olhos fixados nos seus o faz paralisar, mas não apenas de andar de um lado para o outro. beomgyu não pensa em mais nada enquanto as palavras dele ecoam em sua mente, dispensando todos os pensamentos para um lugar distante.

aquela amenidade que vem de yeonjun é como o sopro fresco que apazigua suas ideias, acalma seus ânimos e arrefece seu sangue. beomgyu se vê sem palavras e precisa se esforçar para voltar a si, mas antes que possa dizer qualquer coisa, yeonjun pergunta:

"por que ele se apaixonou por você?".

"não sei...", a resposta vem em um quase sussurro. a voz sai fraca e falha.

"ele nunca te disse?", perguntou espantado. diante do silêncio do mais novo, conclui: "então deve ser por isso que que você é tão inseguro".

"mas eu...", não consegue concluir.

yeonjun o puxa para diante do espelho que a sala super bem decorada dispõem, e o posiciona de frente para o seu próprio reflexo. beomgyu não entende o que aquilo tudo significa até que yeonjun começa:

"você precisa olhar mais pra você mesmo. vê o que eu vejo?", ele pergunta encarando beomgyu pelo reflexo.

beomgyu não se sente completamente bem. está um pouco menos firme do que esteve há minutos atrás porque existe alguma coisa naquele contato, naquela aproximação, que o inebria, o torna fraco, e o empurra para um canto escuro e estreito dentro de si. está impedido de agir, impedido de tomar o controle porque tem algo maior e mais forte no comando.

precisa fazer um esforço gigantesco para desviar sua atenção do toque das mãos de yeonjun em seus ombros. o calor que se alastra por seu corpo a partir daquele toque simples e bobo é incompreensível. não faz o menor sentido. o coração acelerado e os arrepios que o acomete ao se dar conta de que seus corpos estão consideravelmente perto nesse momento também tomam posse de grande parte dos seus pensamentos e é quase impossível reverter a situação.

beomgyu não vê o que yeonjun vê porque só o que consegue ver é os olhos dele focado em si através do espelho. e, aproveitando o momento propício, se permite vagar o olhar por todo aquele rosto milimetricamente perfeito.

"o que você vê?", reforça a pergunta delicadamente.

beomgyu está em transe e não percebe, apenas se dá conta depois que as palavras escorregaram por entre seus lábios: "você é lindo".

yeonjun tira os olhos do espelho e o encara diretamente ao ouvir o elogio, e assiste, em tempo real, as bochechas do mais novo ganhar cor.

"eu. eu sou lindo. eu sou...", tarde demais. os danos foram feitos e talvez não tenham reparo.

yeonjun ri, mas não é uma risada zombeteira ou convencida.

"não é o que você está pensando", beomgyu se defende e se afasta, tomando uma distância segura.

"você nem sabe o que eu estou pensando", e yeonjun permanece tranquilo.

"eu sei o que você está pensando", rebate nervoso.

"não. você não faz ideia", reafirma o encarando, mas beomgyu não sustenta aquele olhar. "assim como também não sabe o que acontece entre o seu namorado e o colega de quarto dele. assim como também não sabe porque o seu namorado te ama", de contra partida, yeonjun é firme e inabalável.

"e o que eu deveria fazer? perguntar?", ironiza como se essa possibilidade fosse absolutamente ridícula.

"não existe outra forma de saber o que quiser saber".

"então, no que está pensando, yeonjun?", beomgyu teve a intenção de ser desafiador e provocador, apenas.

ele não esperava que yeonjun fosse, verdadeiramente, dizer o que disse.

e o que ele disse transformou beomgyu em algo inanimado e frágil. não houve reação imediata. deveria apenas mandá-lo a merda e ir embora dali o mais rápido possível. mas o que fez foi o encarar estupefato e murmurar: "é melhor eu ir", tímido e, vergonhosamente, afetado.

beomgyu sente que aquela situação é uma forma iminente de se foder. algo dentro de si grita para correr, ele só não consegue — embora devesse — saber para qual direção.

해야해 (heyahe)Onde histórias criam vida. Descubra agora