16 Capítulo 🦊

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RAYKA VARGAS







O pior dia da minha vida era hoje. Eu estava sozinha quando acordei de um pesadelo lúcido, onde eu estava no meio do fogo, queimando toda a pele, me enxergava presa, amarrada e somente aquela angustia de não poder se defender, só me vendo definhando nas chamas. Era de se esperar que eu tivesse uma crise de choro instantaneamente ao acordar. Minha ansiedade havia atacado como faz com qualquer pessoa8 quando o medo é tanto que o corpo não sabe como reagir. Eu achava que estava curada de tudo, que nada mais podia me abalar, mas não. É sozinha que os nossos escudos descem e vemos como realmente somos e como algo tão pequeno podia tirar nossas estruturas.

Hoje era um daqueles dia em que eu ficava carente de uma abraço.

Eu queria um abraço.

Lobo... um abraço do lobo.

Bastou eu acordar no meio da noite, uma da manhã, com o barulho alto de chuva forte. Mesmo morando em um apartamento, a ansiedade apurava a audição e eu sentia como se o vento abrupto balançasse o prédio. A sensação de quase morte era gritante e me desesperava.

Eu sentia enjoo.

Calafrio.

Batimentos cardíacos acelerados.

Dificuldade para respirar.

Tudo ao mesmo tempo.

Eu me via quase enlouquecendo.

Depois de tanto tempo longe de Deus, liguei o abajur e afastei meu edredom, sentando e saindo da cama, me ajoelhando no tapete e ficando de frente para a cama, com uma tristeza tão grande e um aperto no coração que podia me destruir.

Uno as mãos em frente à boca e fecho os olhos, orando a minha maneira.

— Papai do céu... sei que ando afastada dos seus ensinamentos de pai celestial. Mas por favor te peço. Não me abandona não...

A campainha cortou minha conversa, assustando-me.

Rapidamente, por reflexo, me apoiei na cama e fiquei de pé, calçando as sandálias e me apressando para sair do quarto.

Sigo pelo corredor claro pela luz da sala que deixo acesa e paro os passos em frente à porta, olhando pelo olho mágico e não vendo ninguém.

A solidão me faz destravar a porta e girar a chave na fechadura. A sensação de saber que uma alma possa ter vindo me fazer companhia me deixa cometer esse absurdo.

Puxei a porta e não vi ninguém, apertei os dedos na maçaneta e foi horrivel tentar segurar as lágrimas de desalento, eu chorei feito criança, porque para mim eu estava ficando louca e havia ouvido coisas.

Momentaneamente, meu choro embargou e eu solucei ao ver alguém passar para o lado, em frente à porta.

Ô Deus!

Focando o olhar em seu rosto, chorei duplamente mais por ver que tinha mesmo chego alguém.

Eu não estava louca.

O lobo estava todo molhado de chuva, cabelos grudados na testa e os pingos escorrendo por todo o seu rosto perfeito. Suas mãos espalmaram a cada lado do batente da porta e ele me encarou sem esboçar nenhuma reação.

Meus pés, de repente, movimentaram e eu imediatamente aproximei do seu corpo gelado da água da chuva, aproveitando que seu rosto estava inclinado para a frente para eu ficar na ponta dos pés e grudar minha testa na sua, o abraçando pelos ombros.

LUZ NAS TREVAS (3)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora