Capítulo 14* A Besta de Bergen

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A poeira flutuava no ar do túnel, densa. Na parca iluminação só se via a pilha alta de pedras e pó lá dentro, o portão velho de ferro quase completamente soterrado. Uma trágica cena para aqueles que amavam construções antigas como aquela mansão.

Uma antiguidade destruída. Reduzida a pó... Assim como os ossos que repousavam sob as pedras.

Podia-se ouvir o lamento doce de um violino, entoando seu último suspiro e deixando para trás uma onda de tristeza e cheiro de morte.

O vento frio zumbiu pela fresta do corredor, uivando alto, e as rochas estremeceram devagar, fazendo surgir do meio delas uma mão crispada. As unhas bem feitas estavam sujas de poeira e não demorou muito para empurrarem o restante de pedras.

O corpo empoeirado ressurgiu com a elegância selvagem de um felino, sacudindo-se do pó que se acumulava no vestido florido. Fridda abriu os olhos com impetuosidade e olhou ao seu redor. Sua boca se crispou numa ameaça fria e ela rosnou.

 - Grandessíssima cadela!

A velha resmungou seu ódio e chutou com a ponta do sapato o que restou de pedras partidas, saindo debaixo dos escombros do túnel. Chacoalhou a cabeça uma vez e apanhou sua garrucha perdida no meio da poeira.

O corredor por onde marchara antes estava interditado, mas ela foi esperta e paciente em retirar o que impedia a passagem, enfiou-se pela fresta dos escombros e conseguiu passar.

O outro lado estava igualmente congestionado, pedaços de concreto e canos estourados profanavam a beleza daquele antigo lugar. O chão rochoso estava alagado e era difícil o acesso ao restante do caminho. Uma sorte felinos serem tão ágeis.

Fridda caminhou pela água suja, tomando o cuidado de desviar dos pequenos fios soltos que pendiam do teto, seus olhos sempre atentos a qualquer tipo de ameaça, embora ela duvidasse muito que mais alguém tivesse sobrevivido àquela explosão.

Maldito Búlgaro! Ele pagaria com a vida por tê-la emboscado daquela maneira.

E por ter pego Cherry novamente.

Cherry...

Ela apertou os olhos com pesar, permitindo-se apenas aquele momento de distração. Sua amada Cherry mais uma vez nas garras daquele miserável. Ela precisava sair logo dali e convocar a família. De jeito nenhum deixaria sua preciosa Barnebarn mitt enfrentar mais uma parcela daquele inferno. Era hora de dar um fim nisso! De uma vez por todas. Cessar o tormento daquelas pobres almas que o demônio roubava.

Era hora de destroçar o coração do búlgaro.

Fridda apertou a garrucha em suas mãos, furiosa.

Ela marchou pelos escombros espalhados pelos corredores sob a parca iluminação, o cheiro de mofo irritando seu nariz. Os olhos atentos e impetuosos avistaram um coturno assim que virou a esquina.

A Von Kern se aproximou desconfiada, a garrucha muito bem firme em suas mãos pequenas. O que se revelou foi um corpo caído em meio à poeira do cofre imundo e violado.

Fridda abaixou a arma no exato instante em que viu o rosto do sujeito.

O caçador.

Ela soltou um suspiro misterioso e guardou a garrucha no coldre dos ombros, abaixando-se para poder observá-lo. Analisou o rosto machucado por alguns instantes antes de lhe acertar um tapa na cara.

Halle despertou assustado, olhando para os lados. Tão logo pressentiu companhia, fechou o punho com força e tentou acertar um golpe em seu inimigo.

A Leoa RubraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora