Capítulo Dois

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O gerente da loja de videogames de Daehyun Primall não demitiu Soyeon e Beomgyu, mas deixou avisado que, na próxima vez que aquilo acontecesse, ele não pensaria duas vezes antes de mandá-los embora. Em virtude disso, os dois decidiram tentar se redimir ao fazer horas extras naquele dia e, às oito e meia da noite, Beomgyu recém girava a chave para abrir a porta do próprio apartamento.

Tinha demorado cerca de uma hora e meia para chegar ao distrito de Jung, onde morava, em virtude do trânsito agitado do fim de tarde. Assim, quando pôs os pés no rol de entrada da quitinete que alugava, ouviu uma comoção bem conhecida vinda de dentro da própria casa.

— Oi, Toto — resmungou ao retirar os sapatos e encarar a gaiola do papagaio, que repousava sobre a bancada baixa que dividia o corredor de entrada da cozinha e da sala de estar.

O pássaro virou a cabeça algumas vezes ao ouvir a voz do dono, produzindo um barulhinho que agradava Beomgyu e lembrava-o da época em que morava com sua mãe em Daegu. Era como se estivesse constantemente raspando a língua no céu da boca em virtude da animação.

— Como vai? — largou a bolsa no chão do corredor para abrir a gaiola. Não demorou muito para que Toto voasse para fora do confinamento e repousasse sobre o ombro esquerdo do dono, aproximando o corpo pequeno para esfregar a cabecinha contra os fios do macio cabelo de Beomgyu. — Também senti sua falta.

Ele caminhou de pés descalços sobre o piso laminado frio até que seu celular vibrasse no bolso traseiro da calça. Puxou-o, com curiosidade, apenas para encontrar uma mensagem de Taehyun.


1 nova mensagem

De: Kang Taehyun

29 out 20:34

Vc recebeu uma correspondência mais cedo. Deixei o envelope em cima da mesa de centro da sua sala pq sabia que vc voltaria tarde por causa do trabalho


Arqueou as sobrancelhas, observando a mesinha de centro de longe.

Beomgyu só tinha conseguido sair de Daegu para morar em Busan por causa de Taehyun. O condomínio de prédios onde os dois moravam tinha sido uma recomendação do amigo de faculdade e, já que tinham convivido mais de quatro anos juntos, Beomgyu não viu problema em dar uma cópia da chave do próprio apartamento ao colega. Às vezes, Taehyun cuidava de Toto quando Beomgyu estava ocupado demais com o trabalho ou com a semana de exames.

Antes disso, o aspirante a engenheiro da computação saía de Daegu às cinco da manhã para conseguir ter a primeira aula do dia às sete e meia em Busan. Chegava em casa pouco depois das dez da noite e repetia esse processo todos os dias. Há seis meses, quanto Taehyun comentou sobre o condomínio residencial em que morava, Beomgyu teve uma mudança drástica, mas pelo menos não precisava acordar às quatro e quarenta e se arrumar em vinte minutos para chegar à universidade.

Ao sentar no sofá, ele curvou as costas para pegar o envelope. Toto encarou o pedaço de papel com curiosidade.

— O que é? O que é? O que é? — o papagaio repetiu com a vozinha fina e recebeu, como resposta, uma carícia do dono.

— Vamos ver agora — respondeu, abrindo o envelope pardo. De lá, retirou um papel sulfite branco com uma colagem de letras de revista. Ele franziu o cenho na tentativa de ler o que estava escrito.


Caro Choi Beomgyu,

Convidamos você para participar da festa anual de Dia das Bruxas, sediada pela Ordem Secreta de Busan, no dia 31 de outubro deste ano. Prepare a máscara e a roupa de gala, pois o tema deste ano é noite de gala.

A brincadeira desta edição é: anonimato.

As instruções para a brincadeira, bem como o endereço e o horário da festa, estarão em um cartão menor dentro do envelope.

Boa sorte!


— O que é? O que é? O que é? — Toto repetiu depois de alguns instantes em silêncio.

Beomgyu coçou os lábios com o dedo polegar da mão esquerda.

— É um convite, Toto — inclinou-se para puxar o envelope novamente, enfiando a mão lá dentro para apanhar os papéis remanescentes.

Encontrou o endereço da festa em um papel da mesma cor do envelope, mas cujas letras tinham sido datilografadas. No outro, encontrou as tais instruções que haviam sido mencionadas no convite.


Você é: pinguim.

Lembre de usar algo que identifique você durante o jogo.

A brincadeira desta edição é: anonimato. Você deverá manter sua identidade oculta durante as quatro horas de duração da festa (20h às 00h). Os únicos que saberão o símbolo que lhe representará durante a noite são os organizadores. Os jogadores que não tiverem a identidade revelada até a meia-noite do dia 1º receberão um prêmio que será anunciado na festa.


Franzindo as sobrancelhas, Beomgyu soltou uma risada confusa, repetindo as palavras "Ordem Secreta de Busan" em um tom de deboche. Nunca havia sido convidado para uma festa anônima antes, ainda mais se a festa fosse sediada por uma organização supostamente secreta, então era no mínimo cômico que estivesse recebendo aquele convite justo num dia tão ruim.

Apertou o botão do meio da tela do celular e observou a data. Era sexta-feira, dia 29 de outubro, o que significava que a festa ocorreria no domingo, se é que existisse uma festa e não fosse uma emboscada para jovens adultos sem um pingo de semancol nas sinapses nervosas que deveriam irrigar as células do próprio corpo com sabedoria. Beomgyu não estava a fim de cair em um golpe.

Ele jogou os papéis sobre a mesa, inclinando o corpo para trás para encostar-se no sofá e ergueu os pés, descansando-os sobre a mesa de centro, com os calcanhares em cima do envelope e do convite que tinha recebido. Depois, abriu o aplicativo do Discord, entrando no servidor que usava para se comunicar com o pessoal com quem geralmente jogava durante a madrugada. Enviou a mensagem "Partida hoje?", sendo respondido por seus companheiros em alguns poucos minutos. 

Anonimato • Beomjunजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें