Capítulo Quinze

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Sábado, 06 de novembro


Ser adepto ao anticeticismo não era algo que estava nos planos de Choi Beomgyu. Não havia nada, e ele poderia soletrar essa palavra quantas vezes quisesse, n-a-d-a, de que ele estivesse completamente certo na vida.

Desde conhecimentos científicos a conhecimentos pessoais. Tudo era uma incerteza constante, e isso não era inteiramente ruim. Confiar demais em si mesmo não era uma virtude, aos olhos do jovem estudante, mas uma pedra no caminho do crescimento subjetivo. Se ele assumisse que sabia de tudo, então não restaria mais nada para saber. Talvez a única certeza que tinha era de que ele tinha muito a aprender.

Ainda assim, ele era confiante para certas coisas que já tinha aprendido — quiçá não totalmente, mas até certo ponto em que poderia exercer seu aprendizado sem grandes problemas —, como as coisas do trabalho na loja de videogames, ou alguns elementos básicos de programação. Era inegável que Beomgyu era bastante confiante e, às vezes, obstinado no âmbito profissional.

No campo pessoal, por outro lado, ele nadava no mar das dúvidas. E a conversa que tivera com Park Sunghoon na noite de quinta-feira certamente tinha incrementado ainda mais aquele burburinho altivo que existia somente na consciência de Beomgyu. Às vezes, ele conseguia calá-lo, mas, na maior parte do tempo, acabava se rendendo aos pensamentos intrusivos.

Ele definitivamente deveria começar a fazer planos para o futuro. Nada muito robusto ou muito distante de sua realidade. Talvez colocasse "mudar-se" no topo da lista de afazeres, apenas para que pudesse sonhar com uma realidade em que ele e Toto não moravam naquela quitinete.

Por ora, no entanto, ele deixaria aquele pensamento no stand by, e sua mente não poderia se tornar consciente demais enquanto estivesse em Daegu, revivendo sensações nostálgicas e paixões antigas — como jogar em seu Nintendo Switch, que ganhara em seu aniversário de quatorze anos.

Na sexta-feira à tarde, enquanto jogava Kirby Star Allies na sala de estar, sua mãe o lembrou de que ele precisava convidar Taehyun e Huening Kai para passar o final de semana em Daegu. Beomgyu decidiu usar essa chance como uma forma de crescer pessoalmente e criar planos subjetivos. Acabou, então, enviando uma mensagem aos amigos, tentando ignorar a leve irritação que sentiu ao abrir a conversa com Taehyun no Kakao.

Aquele seria seu plano mais próximo. Conversar com Taehyun.

Choi Beomgyu gostava das amizades que tinha cultivado até então. Antes da festa da Ordem Secreta de Busan, tanto Huening Kai quanto Taehyun tinham se mostrado parceiros para uma vida. E Beomgyu começou a duvidar dessa afirmação assim que notou que Taehyun havia se infiltrado na festa — e não tentou se defender quando foi acusado de tal. Ainda assim, o aspirante a engenheiro decidiu botar as coisas na balança: valia mesmo a pena desistir da amizade com Taehyun por causa de uma festa bobinha, a qual tinha frequentado unicamente porque Choi Yeonjun o havia inserido lá? Aos olhos de Beomgyu, isso parecia se render totalmente ao ex-companheiro de exército.

Sim, ele havia desistido da competição que criara com Yeonjun, mas isso não significava que tinha aval para desmantelar seus relacionamentos por causa de um barista deveras presunçoso. Ele não se renderia dessa forma. A amizade com Taehyun pesava mais. Muito mais.

No fim das contas, foi Taehyun que o ajudou a encontrar um apartamento em Busan, que o indicou a vaga de emprego na loja de videogames do Daehyun Primall, que cuidou de si e de Toto, que o ouviu quando necessário. Choi Beomgyu sempre admirou Kang Taehyun. Isso ainda não mudou.

No meio da manhã de sábado, Beomgyu despertou, encarando a mancha verde no teto de seu antigo quarto, ao passo que seus ouvidos aguçados captavam vozes animadas no andar debaixo. Mesmo sem tirar seu pijama — uma camisa preta e uma calça xadrez —, ele desceu a escada, indo ao primeiro andar da casa de sua mãe.

Anonimato • BeomjunWhere stories live. Discover now