Capítulo Vinte e Seis

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Terça-feira, 16 de novembro


— Vamos comer ramyeon.

— Ramyeon? — Yeonjun franziu as sobrancelhas.

— É, ramyeon. Na minha casa.

— Na sua... — Yeonjun virou o pescoço, torcendo os lábios. — Você sabe o que isso quer dizer, né? Chamar alguém pra comer ramyeon quer dizer que você quer...

— Oi, Choi Yeonjun! — Beomgyu gritou, levantando-se da cadeira para cobrir a boca do mais velho com ambas as mãos. — Eu não quis dizer isso! Quis dizer ramyeon de verdade. Aquele macarrão que a gente geralmente come com cebolinha e ovo por cima, sabe?

— Ya, Choi Beomgyu! — Yeonjun replicou, afastando as mãos de Beomgyu de sua boca. — Em que mundo você vive? Você nunca ouviu falar de gírias? Você não pode sair por aí convidando alguém pra comer ramyeon na sua casa.

Beomgyu respirou fundo, esfregando o rosto com ambas as mãos. Os dois tinham se encontrado no início daquela noite, assim como na noite anterior, após a reunião com a reitora da universidade, que deu o aceite para a proposta. Yeonjun parecia melhor, mas ainda tinha o olhar cabisbaixo.

Ainda ontem, Beomgyu, Huening Kai e Taehyun saíram para jantar e, enquanto comia tteokbokki, sua comida favorita, o aspirante a engenheiro só conseguia pensar no desespero que os olhos de Yeonjun transmitiam antes que as portas do elevador se fecharem, levando Beomgyu para longe da sala da comissão de graduação.

O dia de ontem tinha sido tão estranho que o jovem estudante tinha se esquecido de que dividia a conta no Instagram com os outros dois amigos e que, assim como ele, a dupla recebeu as mensagens de Wooyoung. Mas isso não parecia ter importância.

— Vamos dar uma volta, então — Beomgyu insistiu, ainda de pé. — E depois vamos pra minha casa.

Yeonjun começou a rir.

— Por que você quer tanto me levar pra sua casa? — perguntou com uma leve indignação, entre risadas.

— Ya! — Beomgyu apontou o indicador contra o nariz do mais velho. Seu rosto e pescoço estavam vermelhos de vergonha. — Não é isso!

— Foi você que sugeriu o ramyeon e agora quer me arrastar pra sua casa — segurando o dedo de Beomgyu, Yeonjun se levantou. Ele também tinha o rosto vermelho, mas estava sorrindo. Aquilo era um alívio para o aspirante a engenheiro que, apesar de sentir vergonha, estava feliz por ver o outro sorrir.

Quem diria que um dia você pensaria assim, disse a si mesmo, conforme balançava a mão de Yeonjun a fim de soltar seu dedo do aperto.

— A gente passou os últimos dias aqui nessa sala pequena. Já deu, né? Vamos sair, tocar uma grama...

— Comer ramyeon? — Yeonjun insistiu na piada vergonhosa, fazendo Beomgyu ranger os dentes e contornar a mesa de reunião com pressa, indo atrás do mais velho, que correu para o outro lado da sala.

Com Beomgyu longe da porta da sala, Yeonjun viu a oportunidade de continuar a atiçá-lo. Em um piscar de olhos, o barista já estava em frente à saída, com um sorriso bobo no rosto. O mais novo, por outro lado, ainda apontava para Yeonjun com os lábios comprimidos numa linha fina. Pelo rosto vermelho, ele parecia irritado.

— Choi Yeonjun... — Beomgyu rosnou com o olhar fulminante.

Yeonjun pendeu a cabeça para o lado.

— Quem chegar por último vai ter que discursar pra Organização Sênior — Yeonjun disse tão depressa que as palavras saíram confusas. Beomgyu precisou de um segundo, suficiente para que Yeonjun o desse as costas e corresse em direção aos elevadores, para compreender.

— OI, CHOI YEONJUN! — a voz de Beomgyu ecoou pelo corredor do último andar do prédio administrativo da Universidade de Kyungsan. Ele tentou correr atrás do mais velho, mas, assim que alcançou o elevador, as portas já tinham se fechado e, mesmo após apertar o botão incessantemente, elas não se abriram. O segundo elevador nem se mexeu diante do pedido de Beomgyu.

Ele bateu o pé no chão com frustração e olhou para trás, em direção às escadas do prédio. Eram onze lances de escada, mas, se esperasse pelo elevador, Yeonjun teria de esperá-lo, então correr pelos degraus era o melhor que podia fazer.

A escada em caracol deixou Beomgyu sem fôlego e suado. Ele chegou ao primeiro andar do prédio administrativo ofegante e, quando pisou no ladrilho da recepção, sendo cumprimentado pelo senhor Shin, o aspirante a engenheiro quase desabou, apoiando ambas as mãos nos joelhos. Choi Yeonjun estava do lado de fora do prédio, abanando ambas as mãos no ar. Como as portas eram de vidro, ele sabia que Beomgyu o veria.

— Você sempre foi lento, desde o treinamento do exército — o barista disse assim que Beomgyu conseguiu caminhar novamente, saindo do prédio administrativo. O ar gelado da noite bateu contra as têmporas do mais novo, causando-lhe arrepios.

— Você que era fominha — Beomgyu rebateu, descendo os degraus da escadaria do exterior do prédio. Ele secou o suor da testa com o dorso de sua mão esquerda.

Você que era fominha — Yeonjun repetiu, forçando uma voz fina e caricata. Caminhando ao lado de Beomgyu, ele empurrou o colega de comissão pelos ombros, que o empurrou de volta.

— Você é irritante — Beomgyu enfiou ambas as mãos no bolso do casaco.

— Você também é.

Os dois trocaram olhares.

O gramado da Universidade de Kyungsan estava deserto, mas alguns funcionários da universidade limpavam as arquibancadas e transitavam pelas dependências. Embora estivesse de noite, o local inteiro estava bem iluminado.

Os dois passaram pelos portões da faculdade, com Beomgyu na frente e Yeonjun a tiracolo, e seguiram um caminho desconhecido pelo mais velho.

— Onde a gente tá indo? — Yeonjun olhou em redor.

— No Parque da Paz.

— Parque da Paz?

Beomgyu balançou a cabeça em concordância.

— Por quê?

— Achei que você precisasse de um pouco de paz — olhando para trás, o mais novo encarou Yeonjun com um brilho diferente nos olhos e um sorriso discreto nos lábios.

— Achei que eu precisasse de ramyeon — novamente testando a paciência de Beomgyu, Yeonjun ponderou, levando uma das mãos ao queixo, como se estivesse curioso.

Aquilo fez Beomgyu revirar os olhos e estalar os lábios.

— Anda logo. — O mais novo apertou o passo.

Yeonjun parou no lugar, acompanhando com o olhar os passos ligeiros que Beomgyu dava. Eventualmente, ele ergueu ambas as mãos ao lado do rosto e gritou:

— Vamos comer ramyeon na sua casa depois?!

Como resposta, Beomgyu ergueu o dedo médio da mão esquerda, ainda caminhando e sem olhar para trás.

Anonimato • BeomjunWo Geschichten leben. Entdecke jetzt