Capítulo Trinta e Seis

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— Não é uma pessoa, um lugar, um sentimento, nem um animal — Yeonjun sussurrou para si mesmo, mordiscando a ponta lascada da unha do dedo polegar direito. Seus olhos estavam atentos à tela do computador.

O barista havia deixado o Hotel Crown na manhã daquele sábado, enquanto Beomgyu ainda dormia com uma pacificidade invejável, como se não tivesse corrido alguns quilômetros no dia anterior, debaixo da chuva, para fugir de seus veteranos da faculdade. Yeonjun encontrou a MOA Coffee Shop aberta e, enquanto vestia seu avental, foi encarregado de atender os clientes pela manhã.

Aos finais de semana, a cafeteria não contava com a ajuda de Huening Kai, na maioria das vezes. Se assumisse o estabelecimento matriz, Yeonjun sabia que teria de procurar por outros funcionários de meio período: um substituto para Kai, que estava prestes a se formar e provavelmente entregaria sua demissão, e alguém com quem pudesse dividir os finais de semana.

— Hora, sensação, universo, pessoas, vida — ele leu a lista de palavras que se desdobrava à sua frente, na tela do computador.

Com o baixo movimento matinal e o recesso acadêmico, Yeonjun passou a vasculhar sites na internet até encontrar um que o apetecesse. A lista em questão deveria ajudá-lo a encontrar um termo que englobasse todas aquelas palavras. Se acertasse o termo, ele vencia o jogo.

Ele respirou fundo, pendendo as costas e a cabeça para trás. Foi quando a imagem de Minho, com os braços cruzados atrás de suas costas e a cabeça inclinada para o lado, apareceu de ponta-cabeça em seu campo de visão. Yeonjun teve um sobressalto.

— Chefe! — o barista coçou a garganta, ajeitando-se na banqueta em que estava. Suas sinapses não foram rápidas o suficiente para sugerir que devesse fechar o site e, mesmo se tivessem sido, Yeonjun duvidaria da eficácia daquela ação. Minho parecia estar naquela posição há algum tempo e já deve ter visto tudo. — Há quanto tempo você está aqui?

— Há um tempo — o dono da cafeteria respondeu, balançando a cabeça. — Vi você digitar as últimas palavras.

Yeonjun engoliu em seco.

— Estamos com baixo movimento e...

— Tudo bem, Yeonjun. Já vi Kai jogando coisas piores durante um turno movimentado. — Minho deu de ombros, contornando a banqueta de Yeonjun para se aproximar da bancada da cafeteria. — O jogo que você está jogando é um bom exercício vocabular, pelo menos.

Estendendo uma das mãos no ar, Minho deixou uma pasta preta cair no tampo da bancada.

— No entanto, agora que é o meu sócio, não vejo como um jogo desses poderá ajudá-lo — Minho complementou, franzindo os lábios antes de dar meia-volta e começar a caminhar em direção à área dos funcionários da cafeteria.

— Sócio? — Yeonjun franziu as sobrancelhas. Seus olhos caíram sobre a pasta e suas mãos curiosas a alcançaram em menos de um segundo. Em seu interior, os papéis apresentados pelo contador do barista residiam, devidamente assinados pelo dono da MOA Coffee Shop.

— Entregue os papéis ao seu contador assim que puder. Quero me mudar para Seul o quanto antes — Minho atestou, apresentando um sorriso nos lábios. Antes de abrir a porta da área dos funcionários e sumir do campo de visão de Yeonjun, ele coçou a sobrancelha direita e disse: — A palavra que você procura é "destino".

Os olhos do barista se encheram d'água. Seu corpo agiu de modo automático, colocando-o de pé e curvando as costas para cumprimentar Minho.

— Obrigado, obrigado, obrigado! — repetiu até que Minho desaparecesse.

Ao ficar sozinho na cafeteria, Yeonjun releu os documentos minuciosamente, embora soubesse seu conteúdo de cor e salteado. As assinaturas de Minho, nas últimas folhas, atestavam que, embora tivesse seguido o caminho mais difícil, o barista havia dado mais um passo para alcançar aquilo que sempre sonhou.

Até então, a realidade parecia cruel demais para que ele a aguentasse por conta própria. Lembrar que chegou a ficar dois ou três dias sem ter onde dormir e tomar banho ainda o constrangia internamente e, se o perguntassem sobre sua jornada profissional num futuro não tão distante, as chances dele omitir essa parte da história eram grandes. No fim, apesar disso e de seu pai, Choi Yeonjun era o novo sócio e acionista da MOA Coffee Shop.

Choi Yeonjun é o novo sócio da MOA, a frase surgiu em suas sinapses, fazendo com que um sorriso involuntário surgisse em seu rosto.

Ele voltou a se sentar na banqueta e guardou os papéis com cuidado. Sabia que Minho conferiu uma responsabilidade grande sobre seus ombros porque o respeitava e, a partir de agora, teria de ser duplamente cauteloso. Mesmo sendo novo, Yeonjun aprendeu cedo que o fio que tece a malha do respeito é fino.

As pontas dos dedos da mão destra bateram contra o balcão e seus lábios se projetaram para a frente. Embora as coisas parecessem estar indo bem por enquanto, um longo caminho se desdobrava na frente do barista.

Seus olhos bateram na tela do computador, com o jogo ainda aberto. Sua mente lembrou-o do palpite de Minho antes de desaparecer pela porta da área de funcionários.

Destino.

Yeonjun digitou a palavra e deu enter. A tela ficou verde e palavras congratulatórias surgiram, parabenizando-o por ter passado de fase.

Anonimato • BeomjunWhere stories live. Discover now