Capítulo vinte e um; Esvaziou o coração e me arrancou de dentro

112 14 58
                                    

NATHALY LORENZO

— Aquela filha da puta! – Miguel exclamou com raiva ao dar um soco na mesa, fazendo com que as latinhas de cerveja e energético que estivessem ali em cima balançassem.

— Miguel, calma! – o segurei pelo braço, porém ele deu um tranco e eu o soltei.

— É sério que tu quer que eu me acalme? – olhou para mim. — Por culpa dela eu fui preso, Nathaly! Não tem como eu me acalmar!

— Esquece isso Miguel, já foi. – Rebecca se colocou na frente do meu irmão e colocou suas mãos em seu rosto, o obrigando a olhar fixamente em seus olhos. — O importante é que você tá aqui agora, tá tudo bem.

— Rebecca, não foi você que perdeu quatro anos da sua vida numa cadeia, então, na boa? Não me mande esquecer. – mesmo que estivesse irritado, o seu tom de voz foi calmo. — E outra, por culpa dela, nós terminamos. Se não fosse pela Beatriz, não teríamos passado o que passamos.

— Ou talvez daria no mesmo, nunca se sabe. – a loira deu de ombros. — Você poderia ter sido preso por outro motivo, poderíamos ter terminado antes, ou pior, você poderia estar morto. Muitas coisas poderiam ter acontecido, mas não aconteceram. Miguel, o que importa é que você está solto, que estamos juntos de novo.

— Não. Você não é totalmente minha, você agora tem outro. – ele estava bastante sério e, após escutar aquilo, Rebecca o soltou e ele desceu, porém ela logo o seguiu.

— Bom... Eu acho que vou embora. – Julia limpou a garganta. — Combinei de me encontrar com uma pessoa mais tarde e agora é a hora perfeita pra isso. – pegou seu celular que estava em cima da mesa e se aproximou de mim. — Vai ficar tudo bem. 'Cê sabe que o Miguel não vai fazer nada. – sorriu de canto e eu apenas assenti com a cabeça.

— Matheus, pode levar a Julia até a porta enquanto eu arrumo as coisas aqui em cima? – olhei para o meu namorado que estava encostado no muro e ele apenas fez um sinal com a cabeça.

Os dois desceram e eu olhei ao meu redor. Bufei cansada e olhei para as casas e o céu estrelado. Será que se o meu pai estivesse vivo ele estaria orgulhoso do meu irmão e eu? O seu filho mais velho agora era dono do morro e sua filha caçula namorava um bandido.

A verdade é que eu estava cansada. A faculdade de Medicina, por já estar no final, estava bastante maçante. Eu trabalhava como atendente numa loja de roupas no Botafogo Praia Shopping e ainda fazia curso técnico de enfermagem. Nisso tudo, eu ainda tinha que conciliar o meu tempo livre para passar um tempo com a minha mãe, com os meus amigos e com o meu namorado que, ultimamente, vivia cheio de problemas com o pai.

Às vezes eu tinha vontade de jogar tudo pro alto e viver a mercê do meu irmão e do Matheus, mas eu sabia que não era certo. Eu não queria viver no morro pra sempre, queria ter a chance de sair dali. Não era tarde demais.

Finalmente a Sexta-feira havia chegado e eu ajudava Karla a contar o dinheiro do caixa enquanto Jonathan e Ortega terminavam de limpar o chão

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Finalmente a Sexta-feira havia chegado e eu ajudava Karla a contar o dinheiro do caixa enquanto Jonathan e Ortega terminavam de limpar o chão.

— Tá tudo certo. – a garota de olhos azuis olhou para mim ao finalizar a contagem e eu sorri. — É uma pena que você não possa beber com a gente lá na Lapa. Seria legal.

— Da última vez o Ortega ficou tão bêbado que ficou falando que era garoto de programa pra todo mundo na boate. – Jonathan riu se apoiando no cabo da vassoura.

— Qual foi, pelo menos eu consegui pegar cinco com esse papo e ganhei cem 'conto. – o garoto arrumou o seu boné e eu ri enquanto negava com a cabeça.

— Eu adoraria de verdade sair com vocês, mas eu combinei de jantar fora com o meu namorado. Ele anda passando por uns problemas em casa e eu quero fazer com que ele esfrie a cabeça um pouco. – suspirei e os três ficaram sem saber o que dizer.

— Bom, se quiser, pode chamar ele pra sair com a gente. Tenho certeza que ele vai esquecer dos problemas rapidinho. – Ortega disse, porém antes que eu pudesse respondê-lo, pude escutar um grito ecoar no corredor do shopping e saímos da loja para ver o que era.

Senti o meu rosto queimar de vergonha quando vi o garoto ser carregado pelo colarinho da camisa pelo segurança enquanto reclamava sobre algo.

— Jorge, Jorge, pode soltar! – corri na direção dos dois e segurei Matheus pelo braço esquerdo. — É o meu namorado.

— Poxa Nathaly, desculpa. Quando eu o vi no estacionamento, eu perguntei se ele esperava alguém, mas ele não quis me responder e ainda estava fumando lá. – o mais velho o soltou e Matheus deu uma pequena cambaleada ao ser solto.

— Eu não devo explicações a ninguém. Tu sabe quem eu sou por acaso? – deu um tranco para se soltar de mim e eu o puxei de volta antes que Jorge fizesse algo com ele.

— Nathaly, você tem dez minutos pra ir embora com ele. – foi a única coisa que Jorge disse antes de dar meia-volta e ir embora. Olhei para trás e os meus amigos de trabalho apenas assentiram com a cabeça antes de voltarem para dentro da loja, deixando apenas nós dois sozinhos.

— Fumando maconha? No estacionamento do shopping? Qual é o seu problema, Matheus? – o empurrei, fazendo com que ele desse um passo para trás.

— Relaxa, cara. – colocou suas mãos à sua frente para impedir que eu batesse nele. — Só foi um pouco. Eu precisava esfriar a cabeça um pouco pra não jogar tudo em cima de você. O meu pai me expulsou de casa. Disse que eu tenho dois dias pra pegar todas as minhas coisas e eu não posso nem visitar a minha mãe.

— Matheus... – fechei os olhos e respirei fundo. — Eu sei que você anda tendo problemas com o seu pai, eu sei que a sua vida tá um completo inferno e eu sei que você não quer me preocupar. Mas você fazendo tudo isso me deixa mais preocupada ainda. Tudo bem você fumar e beber, você sempre fez isso, mas não como anda fazendo.

— Eu não tô abusando de nada. – desviou o olhar.

— Você tá sim. Ultimamente você anda mais chapado do que sóbrio. – cruzei os braços. — Eu não gosto de te ver se destruindo assim...

— Tá falando isso porque o teu pai não queria que você namorasse um bandido. – riu com escárnio. — Vai terminar comigo de novo por causa dele?

— Você tá falando merda, cala boca. – descruzei os braços e fechei os punhos. — Eu só terminei com você porque me senti culpada pela morte do meu pai, você sabe disso. Ele não tem nada a ver com isso, para de falar dele.

— Não é o que parece.

— Matheus, por favor, se fosse pra terminar com você eu nem tinha voltado. E outra, estamos há quatro anos juntos! Isso é pouco pra você? – olhei para ele e nossos olhares se encontraram. — Eu tô me sentindo desgastada, Matheus. Esse lance todo do seu pai está sendo uma pedra no nosso relacionamento.

— Tu então quer... Terminar? – engoliu em seco.

— Não, claro que não! – respondi sem hesitar. — Eu não quero e nem posso te deixar no momento em que você mais precisa de ajuda. Estamos juntos nessa, mas você também precisa fazer a sua parte. – dei um passo para frente.

— Mas eu não quero te envolver nisso, Nathaly. – o maior suspirou pesado. — Você não quer terminar, mas acho que, no momento, é uma boa se dermos um tempo. Eu preciso resolver o meu assunto sozinho de uma vez por todas.

— Matheus, espera aí... – tentei falar algo, porém fui interrompida pelo mesmo.

— Te vejo no estacionamento, Nathaly. – disse antes de dar as costas para ir embora, me deixando ali sozinha.

Até o Fim (LIVRO 2)Where stories live. Discover now