Capítulo treze; Pra quem nasce na favela, sobra sagacidade

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MIGUEL LORENZO

— Miguel, você tem certeza que não quer ver a Rebecca? – Nathaly perguntou enquanto se sentava ao meu lado no sofá. — Ela já mandou várias mensagens aqui. Disse que pode pedir pro Diego deixar ela na subida e depois vai pra casa.

— Eu não quero! – bati minhas mãos em minhas coxas. — Nathaly, eu passei quatro anos na cadeia e a Rebecca nunca foi lá me visitar, ou me ligou. Agora ela do nada está com o Diego e eu nem sabia?!

— Mano, eu acho que você está falando coisas que não sabe. – minha irmã balançou a cabeça em negação. — Sabe quem pagou a sua fiança? O Erick. Ele não queria que você soubesse, mas ele que contratou o advogado e te tirou de lá. Se não fosse por ele você estava até agora dividindo uma cela com um bando de caras.

— E por que o Erick me ajudaria? – franzi o cenho.

— A Rebecca ajudou ele numa coisa do trabalho e ele sentiu que devia uma a ela. – me encarou seriamente. — Ela pode não ter te ligado ou te visitado, mas ela estava fazendo de tudo pra te tirar de lá aqui fora.

— Me ajudando com outro? Eu esperei por ela quatro anos lá dentro e, só foi abrir uma brecha, que ela me trocou pelo Diego!

— Miguel, cala boca! – a morena exclamou irritada. — Olha só, ninguém é obrigado a esperar alguém sem nem ter certeza se esse alguém vai voltar. A Rebecca te esperou por quatro anos, tem noção disso? Ela só seguiu em frente por insistência nossa, senão ela estaria até hoje esperando por você. – seu tom de voz era duro e, naquele momento, parecia até que ela era a minha mais velha e eu o caçula que aprontou. — Foi mal, mas nem eu aguentaria esperar alguém sem uma certeza, por mais que eu ame demais essa pessoa.

— Bom... A Rebecca sempre faz escolhas erradas, não é? – senti Nathaly se levantar do sofá e levantei a cabeça, a vendo em pé ao lado da escada.

— Na boa Miguel, eu tentei te mandar a real, mas você é muito cabeça dura. – jogou os braços no ar. — Passaram quatro anos. Quatro anos! As coisas mudaram e as pessoas também. Tá na hora de você fazer o mesmo, ou ainda vai perder muita coisa. – disse antes de subir, me deixando sozinho na sala.

 — Cara, muita coisa aconteceu enquanto você ficou fora

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— Cara, muita coisa aconteceu enquanto você ficou fora. – Orelha disse antes de dar um trago em sua maconha.

— Eu tô sabendo... – joguei a fumaça que segurava em minha boca no ar.

— Bom, mas o importante é que o morro tá tranquilo do jeito que você deixou. O Rato ficou surpreso que você conseguiu tomar conta de tudo isso aqui enquanto estava lá.

— Mas eu não consegui. – franzi o cenho confuso. — Eu conseguia falar com vocês, mas focava mais em saber como 'cês estavam.

— Eu sei, mas eu falei pro Rato que tudo que fiz aqui foi a mando seu. – apoiou seus cotovelos na mesa que havia atrás de nós e olhou para o céu que já escurecia.

— Caralho Jp! Eu não sei como te agradecer. – sorri o fazendo rir.

— Você pode me pagar um açaí amanhã, ou... – olhou para mim e deu um trago em sua maconha. — Tu pode me deixar fazer uma resenha pra comemorar tua volta. – suspirei cansado.

— Eu não sei... Não quero pessoas que não conheço na minha casa. Muitos agora vão ficar no meu pé porque sou o dono daqui e não é isso que eu quero.

— Suave, eu chamo só os amigos. Marina, Thiago, Vn... – olhou para mim e pareceu hesitar por alguns segundos antes de continuar. — Tu... Quer que eu chame a Rebecca?

— Eu não sei. Eu não esperava saber que ela está com outro. – abaixei a cabeça. — Eu sei que não tínhamos mais nada, é impossível manter um relacionamento sem comunicação e, no dia que fui preso, tivemos uma briga feia. Mas é que eu ainda a amo. – encarei meu amigo que me escutava atentamente.

— Sabe do que você precisa? De uma resenha. – deu um leve tapa em minha coxa esquerda e eu ri antes de tragar minha maconha. — É sério. 'Cê precisa relaxar, acabou de sair da prisão. Para de pensar em mulher e curte sua volta.

— Silvestre? – olhei para frente e vi Bia com várias sacolas no braço, com uma expressão cansada no rosto e com seu coque feito no cabelo quase se desfazendo.

— Bia! Por que não me visitou mais cedo? Eu estava te esperando.

— Eu ia, mas... Sei que não seria bem-vinda. – riu sem graça e eu franzi o cenho.

— Não seria bem-vinda? Bia, eu 'tava na casa da minha mãe. A Nathaly é sua amiga desde pequena e minha mãe te adora. – me levantei. — Por que você não seria bem-vinda lá?

— Eu pensei que a Rebecca estivesse lá...

— Ela... Queria vir, mas eu não quis. – contraí a mandíbula. — Enfim, mais tarde eu passo na tua casa. Eu levo pizza pra gente jantar e eu vejo o Gabriel. Finalmente vou ver o menor pessoalmente. – sorri e ela fez o mesmo.

— Tudo bem, eu espero. – olhou fixamente em meus olhos. — O Gabriel vai adorar te conhecer pessoalmente. – fez um sinal com a cabeça e continuou a subir o morro.

— Tu é muito otário, não é Miguel? – Jp chamou minha atenção e eu o encarei. — Fica aí falando que a Rebecca te trocou por outro, mas você a trocou pela Bia na primeira oportunidade que teve.

— Não foi bem assim. – neguei com a cabeça. — A Becca nem me visitou! Achei que ela já tinha se esquecido de mim.

— A garota nunca te esqueceu. – o mais velho franziu o cenho. — Demorou quatro anos pra ela finalmente voltar a namorar e, bem antes disso, tu 'tava tendo visita privada com a Bia. Deixa de ser hipócrita com a menina e comece a ser homem, você já tem vinte e cinco anos. Já deu querer um namoro adolescente.

— Tu tem razão, cara. – mordi o lado interno da minha bochecha esquerda. — Eu preciso de uma resenha pra esfriar a cabeça. E sabe de uma coisa? Quero que todo nessa porra seja convidado. Pode falar com a Julia e chamar geral.

— Eu posso falar com a Nathaly, mas com a Julia não vai rolar. Nós... Terminamos.

— De novo? – fiz uma careta. Eu podia ter ficado quatro anos preso, mas até eu sabia do namoro ioiô que Jp e Julia tinham.

— Dessa vez foi pra valer, tá? Vai fazer um mês que terminamos e não tivemos uma recaída até agora.

— Tá, que seja. – dei de ombros. — Falando com a Julia ou não, essa resenha tem que ser a melhor de todas. – me animei e Jp sorriu.

Até o Fim (LIVRO 2)Where stories live. Discover now