Capítulo 08

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S/n Grimes

Impressionante como o machismo prevalece até mesmo no fim do mundo. Enquanto os homens que ficaram cuidavam da segurança e coçavam o saco, nós mulheres lavávamos seus panos de bunda.

Eu não queria estar ali na beira do lago lavando as roupas sujas de todo mundo, mas bem dizer fui obrigada. Estávamos eu, Lori, Andrea, Carol, Amy e Jacque. Nós conversávamos sobre coisas aleatórias, tentando transformar aquela tarefa em algo menos tedioso.

Shane e Carl brincavam no outro lado do lago, dizendo eles que estavam caçando rãs. Sorri ao ouvir a risada escandalosa do meu irmão, era bom vê-lo sorrindo apesar de tudo que está acontecendo.

Eu e Lori não conversamos desde que eu gritei na cara dela, ela fica com aquela carinha de coitada esperando eu me desculpar. Shane até tentou falar comigo, mas eu o cortei na mesma hora. Quem ele pensa que é?

— Sinto falta da minha máquina de lavar. - Carol comentou, esfregando a calça jeans do marido.

— Sinto falta do meu carro, do meu GPS. - Andrea falou.

— Eu sinto falta da minha cafeteira, do filtro duplo e moedor embutido, querida. - disse Jacque.

— Meu computador e meu celular. - falou Amy, olhando para o nada por alguns segundos.

— Sinto falta do meu vibrador. - Andrea disse de repente, sendo vítima dos nossos olhares maliciosos.

— Eu também. - Carol confessou baixinho, fazendo com que todas nós começássemos a rir.

— Qual é a piada? - a voz de Ed ecoou atrás de nós, o que nos fez cessar as risadas.

— Nós estamos fofocando, Ed! - disse Andrea, recuperando o fôlego.

Ed se aproximou e ficou nos rondando, com um cigarro na boca e os olhos fixos nas roupas que lavávamos.

— Algum problema? - pergunto, recebendo um pequeno empurrãozinho de Lori.

— Nada que seja da sua conta. - ele respondeu de forma grosseira, me fazendo bufar. — É melhor fazerem o trabalho direito, isso não é clube de comédia.

— Se não gosta do jeito que sua roupa é lavada, lave você mesmo. - digo já em pé, jogando uma de suas camisas no seu peito.

— Isso não é trabalho meu, moça. - Ed continuou fumando seu cigarro, logo depois de jogar a camisa de volta com toda sua força.

— S/n, não. - Lori tentou me puxar, já sabendo que eu não ia deixar aquilo barato.

— E qual é o seu trabalho, Ed? Ficar sentado e fumando? - pergunto, sentindo minha pele queimar de raiva.

— Com certeza não é ficar ouvindo uma vadia presunçosa e linguaruda, sacou? - ele disse com um sorrisinho nojento no rosto. — Carol, vamos!

— Ela não precisa ir com você. - Andrea também entrou no meio, parando na frente de Carol.

— Andrea, por favor, deixa pra lá. - ouvi Carol sussurrando, indo até o marido.

— E não pensem que eu não te dou um corretivo só porque é uma criança. - olho incrédula para Ed, pronta para acertar um soco na cara daquele otário, mas sinto as mãos de Amy me puxarem. — É melhor você vim agora, se não vai se arrepender depois. - disse olhando para Carol.

— Ela vai aparecer toda machucada, não é, Ed? - Jacque provocou. — A gente já viu isso.

— É melhor ficar fora disso. - disse Ed, depois de soltar uma fraca risada pelo nariz. — Quer saber? Isso não é assunto de vocês. Não vão querer me provocar, tá bom? Chega dessa conversinha, acabou. Vamos embora! - ele puxou o braço de Carol, que se manteve firme onde estava.

Ele continuava puxando o braço de Carol, que resistia. Estávamos tentando ajudá-la, quando do nada o imbecil deu um tapa na cara da mulher. Aquilo fez meu sangue ferver.

— Gosta de bater em mulheres, Ed? - pergunto, fazendo todos se calarem.

— Gosto. - ele respondeu de forma provocativa, tentando me intimidar.

— Ok... é porque da onde eu venho, caras que batem em mulheres são chamados de vadias. - ao dizer aquilo, todos me olharam com surpresa, incluindo Ed.

— O que disse? - ele perguntou, aproximando seu corpo do meu.

— Eu só quero saber se é verdade. - debocho da sua cara, em tom inocente. — Você é uma vadia?

Ed estava prestes a vim para cima de mim, quando Shane apareceu do nada. O ex policial arrastou o imbecil pelo chão e o jogou longe, esmurrando o mesmo.

— Se encostar a mão na sua mulher ou na sua filha, ou em qualquer um desse acampamento de novo, eu te arrebento. Entendeu? - Shane falou bem próximo do rosto ensanguentado e inchado de Ed. — Eu acabo com você, Ed! Eu acabo com você!

Shane levantou e saiu, enquanto Carol correu até o marido. Eu estava extremamente decepcionada com Carol, com o jeito que ela tratou aquele pedaço de merda mesmo depois de tudo que ele fez/faz com ela.

Lori foi ajudar Carol a levar Ed até a barraca do casal, eu apenas bufei e revirei os olhos. Dei às costas e caminhei até minha barraca, sendo seguida por Carl.

Observei o garoto sentar na minha frente e fiquei esperando ele dizer algo. Seus olhos azuis foram pousados no chão da barraca, enquanto os meus permaneceram em seu rostinho inocente.

— Pode perguntar. - digo, o encorajando.

— Por que o Ed bateu na mãe da Sophia? - ele perguntou com a voz inocente e o olhar confuso.

— Porque ele é um babaca. - respondo, sem deixar de encará-lo.

— E o que o Shane fez? Foi correto?

— O que você acha? - pergunto, curiosa com sua resposta.

— Papai costumava dizer que a violência não leva a gente à lugar nenhum. - foi sua resposta.

— Nosso pai tem razão, violência nem sempre é a solução, mas às vezes é necessária. No caso de Ed, alguém precisa colocar ele em seu devido lugar, ou ele iria continuar machucando a mãe da sua amiga. E não é isso que queremos, é?

— Não. - ele disse rapidamente, negando com a cabeça.

— Agora vai brincar com a Sophia, tente distraí-la um pouco. - Carl assentiu e saiu da barraca, permitindo que eu deitasse e relaxasse os músculos no fino colchão.

Olhando para o teto da barraca eu comecei a pensar no meu pai e nos outros. Imaginei centenas de coisas que podem ter acontecido com eles, mas preferi me convencer de que eles estão bem.

Ainda pensando neles, a imagem de Daryl veio na minha cabeça. Seus olhos azuis e profundos, aquela expressão séria e indecifrável, a postura rígida e sua voz grossa. Eu pensava nele e na dor que ele devia estar sentindo, afinal, é o seu irmão.

Esses pensamentos foram ficando cada vez mais estranhos, o que fez eu me repreender mentalmente. Balancei a cabeça várias vezes e esfreguei as mãos no rosto, saindo novamente para me ocupar, deixando esses pensamentos de lado.

Love in chaos - Daryl Dixon Onde histórias criam vida. Descubra agora