Capítulo 5

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9:50 p.m.

Uma terceira vaia toma conta do sofá, o que me assusta e quase me faz abrir o punho mas estou tão perdida com a pergunta de Jake que não consigo. Ele se vira para a TV, ao passo que Carlos fica de pé e xinga alguém em espanhol.

– O que eu perdi? – Jake pergunta, ignorando a minha presença atrás dele.

Entro em pane, com os músculos congelados e a cabeça em um loop que fica repetindo: Como assim? O que está acontecendo? Como é possível que Jake esteja aqui? Que esteja vivo? E, mais do que isso, como é possível que depois de eu tê-lo desintegrado, ele tenha vindo parar na república e não esteja reagindo como se soubesse que na mesma noite que eu o desintegrei, também desintegrei o resto de sua família?

Tem algo errado. Muito errado.

Carlos responde qualquer coisa para Jake que eu não entendo porque estou concentrada em desvendar que merda estratosférica foi essa que eu fiz e que nos trouxe até o presente momento. Por isso também, não reajo quando o meu celular começa a vibrar insistentemente no bolso do meu short, como se alguém estivesse me ligando.

– Hey, Haley – Carlos me cumprimenta, dando a volta no sofá. – Podem continuar assistindo essa porcaria aí. Eu cansei de ver gente que não sabe jogar em quadra.

Carlos passa por mim e vai para a cozinha. Jake o acompanha com o olhar até determinado ponto, onde ele cruza comigo, me dá uma última conferida com uma expressão confusa e volta a me ignorar, comentando algo sobre o jogo com os garotos.

Como é que Jake está ignorando a pessoa que desintegrou a sua família e que veio carregando o seu nome nas costas pelo último ano? E o que ele quer dizer com "eu te conheço?". É óbvio que me conhece! A não ser que eu tenha liquefeito o cérebro dele em vez de desintegrá-lo, ele não iria simplesmente esquecer quem eu sou.

Sinto o ímpeto de abrir o punho novamente, mas me lembro de uma coisa. Na noite em que desintegrei Jake e sua família, eu tinha 507 pontos de Enon. Fiz dois encantos que eu tinha certeza de que usaram mais do que 8 desses pontos e ainda assim, quando desmascarei o meu Enon, após quatro desintegrações, me sobraram 99 pontos. Essa matemática não está certa. Assim como começo a desconfiar que a minha intenção durante a desintegração de Jake também não estava. Desintegrá-lo foi tão doloroso para mim que eu só pensava em como eu queria que ele tivesse esquecido tudo a meu respeito em vez de só as memórias boas para que pudéssemos pelo menos ser amigos.

Ai, cacete.

Fecho os olhos pensando em como eu deixei isso acontecer. E abro de novo tentando entender se o Universo está me dando uma segunda chance para provar o que eu disse sobre fazer tudo o que o ele exigisse de mim, como desintegrar os Hellers que eu visse no meu caminho. Talvez eu não estivesse preparada naquele dia para desintegrar Jake, mas agora estou.

Estou?

Quero dizer, eu o perdoei por ter tentado me matar. E por quase ter matado Dean também.

Será que, na verdade, a segunda chance foi para provar que podemos ser amigos?

Desfaço o encanto de desintegração e, com a mão livre, pego o copo d'água enquanto viro o meu relógio para ver quem está me ligando. É Dean. Ele deve estar surtando do outro lado da linha caso Marvin tenha contado para Doris sobre Jake. Mas agora não posso lidar com isso. Preciso entender se Jake está tentando me enganar com esse teatro ou se realmente não sabe quem eu sou. Hellers são mestres em esconder a verdade e eu estou muito tendenciosa a acreditar na sua falta de reação em me ver.

Ou pode ser que ele esteja se controlando para não voar em mim e tentar me matar de novo com socos ou me asfixiando como fez da última vez que nos vimos.

Minha Pessoa Compatível - Livro 3 - Série EncantadoresWhere stories live. Discover now