Aaron

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Costumava acreditar que as pessoas eram o que eram, mas no fundo, sabia que a mudança era possível se um realmente quer mudar. Acontece que passei tempo demais aceitando o fato de que minha família tinha simplesmente desistido, e estava se desintegrando aos poucos.

Eu estava errado.

Que nenhuma família é perfeita, é um fato, não é necessário ser contestado, e fiz minha paz com isso, mas pelo menos a minha estava tentando. Estávamos longe de voltar a ser o que éramos, e acho que talvez isso nunca vá acontecer, mas com o tempo, sei que as coisas vão ficar melhores.

Minha mãe começou a agir mais como uma mãe, ela parou de se exibir tanto, e concordamos em vender a Ferrari. Ainda moramos nessa casa desnecessariamente grande, mas ela insistiu, e John nos deixou essa mansão, não iriamos apenas nos desfazer dela. Óbvio que ela ainda faz aqueles cafés da tarde, mas ela estava tentando, e isso já era um começo.

Ryan ainda é um babaca, muitas vezes me irrito com seu jeito de ser, mas acho que ele apenas se acostumou a ser assim e usa isso como mecanismo de defesa, o que claro, acho ridículo. Ele arranjou um emprego, um que não envolve drogas, apesar de saber que ele some algumas vezes durante a noite.

Acho que meu pai estaria orgulhoso de nossa tentativa, pelo menos é o que me forço a acreditar.

— Tem certeza de que quer fazer isso? — Malcon pergunta pela décima vez. Reviro os olhos em resposta. — Só estou falando, ela vai te odiar por isso — ele continua.

— Ela já me odeia — falo e ele dá de ombros. Eu sabia que talvez estivesse indo para Flórida por razão nenhuma, mas não custava tentar. Malcon me observa com o canto do olho e balança a cabeça, como se reprovando minhas ações e escolhas.

A verdade era que eu estava nervoso, sabia que ele estava certo, poderia dar errado e talvez ela realmente não queira conversar, mas sei que vou me arrepender pelo resto da minha vida se não for. Espero do fundo do meu coração que Marie não tenha mudado de endereço, porque seria trágico chegar lá e ela não estar.

— Às vezes você toma umas decisões muito impulsivas. — Malcon diz e fico ainda mais nervoso quando o aeroporto entra em meu campo de visão.

— Eu sei — concordo.

— Vê se não demora — ele pede quando estaciona na frente do aeroporto. Ele sai do carro junto comigo, e vou até o porta-malas para pegar a mala. Não estava levando muita coisa, a minha intenção não era ficar para sempre. Embora dependendo do resultado eu provavelmente queira ficar mais tempo. Ainda estava estudando em Paris, e estávamos arrecadando dinheiro para comprar a tal empresa que minha mãe tanto sonha. — Boa sorte — meu amigo deseja e me dá um rápido abraço.

— Obrigado — murmuro.

Tudo o que penso enquanto estou no avião, é o quanto está chato sem ter Marie para conversar sobre as coisas mais aleatórias possíveis. Senti muita falta dela nesse último ano. Sei que a chateei, mas em minha defesa, ela me chateou na mesma proporção.

Quando fico na frente da porta do pequeno apartamento, no endereço que ela tinha me dado, sinto meu coração palpitar. E se ela não quisesse falar comigo? E se ela não estivesse mais aqui? E se ela não me aceitasse? E se...Quando vejo, já estou apertando a campainha. E quando vejo uma garota com o cabelo enorme, preto e enrolado, acho que tudo acabou. Quase sinto meu ombro cair.

— Posso ajudar? — ela pergunta com a sobrancelha arqueada.

— Estou procurando alguém, mas acho que foi engano — digo tentando me livrar da situação constrangedora. Ela me observa de baixo a cima, o que não é tão educado, e me sinto exposto, mas me arrisco mesmo assim. — Você conhece a Marie? — pergunto. Isso só a faz me olhar com mais atenção, como se desconfiada, o que faz sentido, um garoto aleatório aparecer na frente da porta dela.

— Ela não está aqui. Você é quem mesmo?

— Sou Aaron — falo, e quase vejo a cor se esvair de seu rosto, bom, essa é provavelmente a tal de Colleen. — Colleen, né? Ela me falou muito de você.

— Eu não acho que ela quer te ver, Aaron — ela vai direto ao assunto, mas ao invés de falar de maneira grosseira, sua voz fica até suave, como se ela se simpatizasse comigo. E chego a conclusão de que a única maneira que vou conseguir pegar sua localização, é contar para ela o motivo de tê-la mandado embora.

E então eu conto, e ela compreende, e ela me diz que ela estava estudando no café, e eu a agradeço, e eu vou atrás de Marie, porque mais do que tudo, sinto falta dela, da risada, dos assuntos, da sua mão na minha, e é tudo o que consigo pensar.

Caminho devagar até o local que Colleen havia me passado, e vejo que o campus é realmente bonito, Marie tem sorte por estudar nesse lugar, só espero que ela tenha mudado seu curso, e que esteja fazendo o que sempre sonhou. Seria um desperdício passar a vida fazendo algo que odeia.

O café era um ambiente legal.

O cheiro de café logo me invade, e quase me sinto em casa. Quase. Estava bem vazio, mas meu olhar não demora para cair na garota que eu estava procurando, ela estava de costas para mim, então não podia me ver. Seu cabelo tinha crescido um pouco, mas a cor continuava igual, eu a observo por alguns minutos antes de ir falar com ela. Ando devagar, com medo de uma reação negativa, não acho que estava preparado para sofrer de novo, mas mesmo assim, lá estava eu, em outro país apenas para conversar com uma garota que provavelmente não queria me ver.

E apesar de ter repassado em minha mente várias vezes o que eu iria falar, quando ela me olha, tudo some.

Efeito ParisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora