49. Aaron

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Tivemos um jantar em família naquela noite. Minha mãe estava satisfeita em ver a casa limpa, também somado ao fato de que concordamos em comer juntos. Exigiu muito de mim — e de Marie, já que ela ficou tentando me convencer por duas horas seguidas. Já estava com a desculpa pronta, mas ela falou que era o mínimo que eu poderia fazer depois de ter feito a cagada do aniversário, a qual eu não me arrependo nem um pouco. Mas o silêncio desconfortável estava me deixando impaciente. Ryan parecia sentir o mesmo, sei que ele só fez para agradar nossa mãe, o que era algo comum.

O barulho dos garfos e facas batendo nos pratos era a única coisa que dava para escutar na mesa de jantar enorme. Quase conseguia ver Marie se perguntando se teria sido mesmo uma boa ideia. Era uma questão de tempo até Ryan soltar um comentário maldoso e eu perder a paciência, então o jantar iria por água abaixo.

— A comida está ótima — Marie diz, evidentemente tentando quebrar o gelo do ambiente. Minha mãe sorri agradecendo. Era idiota, minha mãe não fazia comida desde que meu pai morreu. Foi isso que aconteceu, três meses dentro do quarto, quase sem falar com ninguém, praticamente vivemos de macarrão instantâneo, até ela de repente decidir mudar de país. Remexo o macarrão do prato com o garfo, era muito fácil pedir comida.

— Então...você está preparada para voltar? — minha mãe pergunta.

— Não sei dizer. Adoro estar aqui, mas sinto falta da Flórida também. Queria que minha amiga estivesse aqui, ela ia amar — Marie responde animada.

— Você pode voltar quando quiser e trazê-la. A sua mãe também, todas vocês são sempre bem-vindas. — Levando o olhar do prato para encarar minha mãe, e lanço um olhar furtivo para Marie, que dava seu melhor para esconder o quanto talvez tenha sido afetada pelo comentário.

— Obrigada, de verdade — Marie fala.

Tudo isso era meio estranho. Natalee Miller fazia o possível e impossível para ser a anfitriã perfeita, mas isso era demais, parecia que ela estava se forçando a entrar na vida de Marie, eu teria que falar sobre isso com ela depois, mas não queria assustá-la, então esperaria o momento perfeito. Só que não sabia que o momento chegaria tão rápido, muito menos o motivo para todo esse alvoroço.

Para a felicidade de minha mãe, nenhuma briga ou discussão aconteceu. Acho que foi porque ficamos quietos na maior parte do tempo, principalmente Ryan e eu. Subi com Marie para o quarto como fazemos normalmente, e depois de um tempo desci para buscar água, foi quando ouvi minha mãe conversando com meu irmão.

— Ela é filha do John — minha mãe fala. Fico atrás da pilastra para escutar, era uma coisa infantil e eu sabia, mas estava curioso, e se tratava de Marie. — Ela ficou com a herança, Ryan, e eles nem se conhecem, ela não deve fazer nem ideia de quem era ele.

— E você está me dizendo isso por...? — Consigo quase perceber o desinteresse de Ryan apenas pela voz.

— Esse dinheiro não deveria ser dela — ela fala. E então, tudo faz sentido. A sensação de já ter visto Marie, foi porque eu realmente a vi. Ela estava naquele evento idiota que minha mãe me obrigou a ir para que ela pudesse ficar em casa. Então era provavelmente por isso que ela parecia esconder alguns segredos, e por isso ela evitava falar sobre o assunto. Se eu estivesse em seu lugar, também não gostaria de falar, até porque, o cara a abandonou.

John era um cantor de country, mais do que isso, era namorado de minha mãe, o último que teve nesses últimos tempos. Ele ofereceu uma boa vida para a gente, até morrer de infarto recentemente. Ele era legal, não foi o pior namorado que minha mãe já teve, não durou muito já que ele partiu dessa para uma melhor. Era besteira isso, ele deixou a casa inteira para gente, e mais algumas coisas, se ele deu a herança para Marie, obviamente tinha um motivo decente.

Efeito ParisWhere stories live. Discover now