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Sai maluco lá do condomínio papo reto, entrei no carro e dei tanto murro no volante até que a porra da minha mão começou a doer, sai de lá a mil, com a mente a milhão, namoral como uma pessoa podia mudar tanto assim? Caralho eu sei que menti do início ao fim no lance que a gente teve mas foi a coisa mais pura que eu já vivi na vida, era tudo de verdade, o sentimento que a gente tinha, tudo, tudo era real e eu juro que não conseguia entender como isso pra ela hoje não era nada, pô eu não tô dizendo que ela tinha que me amar até hoje e tudo mais, só queria que ela tivesse o mínimo de consideração pelo que vivemos de bom, eu fui um vacilão mas ela foi feliz do meu lado sim, eu só acho que o mínimo que ela podia fazer era aceitar minha aproximação com o Murilo e me ajudar com isso porra.

Dandara não era mais aquela menina que eu conheci num baile com o olhar perdido e cheio de medo, não era mais aquela menina fácil de levar na conversa, que se entregava fácil pra mim, a questão é, ela não era mais uma menina, eu sabia disso mas precisava ver com meus próprios olhos pra crê, ela agora era uma mulher, e puta que pariu que mulher, foi impossível não notar o quanto ela tava ainda mais bonita, coisa que parecia impossível, uma coisa eu precisava adimitir, a filha da puta pisa sem dó quando o assunto é beleza. Mas pulando meu momento cachorrinho da Dandara, até porque não é isso que vem ao caso. Como que uma pessoa pode mudar tanto? E pra pior porra, Dandara tinha se tornado uma pessoa completamente fria, se fosse a Dandara de 5 anos atrás no mínimo ela teria sentido pena de mim ou algo do tipo, iria querer brigar, me xingar, fazer birra, mas no fim ia acabar na minha mão de novo.

Eu tava decidido a não deixar isso assim, porra eu tinha um filho tá ligado? Uma cria minha e eu queria tanto conhecer o menino pô, queria sair com ele, queria poder fazer tudo que eu não pude fazer todo esse tempo, e eu não ia deixar nem a Dandara nem ninguém me impedir de correr atrás disso.
Eu nem tinha chegado em casa ainda e já tinha pensado em mil e uma maneiras de pegar esse menino, fazer um sequestro relâmpago, conhecer ele e de quebra dá um susto na filha da puta da Dandara pra ela e todo mundo entender que eu não tô de brincadeira.

Hoje eu tive dois "baques" de uma só vez, ver a mina que eu jurava que era a "mulher da minha vida" depois de tanto tempo e aparentemente com raiva de mim, ou sei lá, parecia na real que eu era 'um nada' na vida dela agora. Ouvir da boca dela que ela tava com outro cara, que ele teve do lado dela na gravidez do MEU filho, e saber que meu filho chama outro cara de pai, puta que pariu que vida de cachorro do caralho era essa que eu tava levando? Quando eu penso que as paradas vão começar a se resolver na minha vida só tomo porrada porra, o único lado bom era o Murilo mesmo, nunca pensei que fosse ficar tão feliz sabendo que eu era pai, nunca sonhei com isso pô, e mesmo sem conhecer ele ainda sei que ele é o que tenho de mais importante na vida, é um bagulho louco de mais.

Antes de entrar na Rocinha reduzi a velocidade porque tinha um grupo de policiais, como sempre, parando moradores que entravam e saiam da favela, de longe eu vi um muito familiar, gelei na hora, olhei mais uma vez só pra ter certeza, foi quando ele virou mais pra frente revistando um moleque e sim, era ele, o tenente Marques, pensei em ir logo de uma vez, já fazia alguns minutos que eu tava parado ali, mas era melhor não, era arriscado de mais, dei a volta e já saí de lá, melhor ficar algumas horas rodando pelas ruas do que correr o risco de cair na bala.

Eu não esperava me bater com ele tão cedo, não sabia se ele tinha largado a obsessão doentia que tinha em querer me torturar e me matar, mas é melhor previnir que remediar, eu tinha quase certeza que ele achava que eu tava morto, mas também não sei, quem resolveu as paradas lá no presídio quando fui transferido foi o delegado Almeida, não sei o que podem ter falado pro tenente lá dentro.

Depois de passar um tempo rodando pelas ruas decidi voltar, tinha poucos policiais e eu não vi o Marques mais, passei devagar com o vidro baixo e nem sei porque milagre me deixaram passar sem me parar.
Cheguei na frente da casa da Débora, deixei o carro lá fora e entrei respirando fundo, Débora tava deitada no sofá assistindo com a Lara dormindo do lado dela.

Do Morro Ao AsfaltoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora