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A sexta passou e eu fiquei o dia todo em casa, sem paciência mas fazer o que, tinha chegado o sábado e eu ainda sentia dores, meu olho ainda tava um pouco roxo e eu sentia dores no estômago principalmente quando sentava em algum lugar, mas já tava bem melhor, conseguia fazer quase tudo de boa, claro que tinha coisas que exigiam mais esforço e eu sentia dor, mas tava ótimo se comparar em como eu tava quinta.

Hoje era o dia que eu ia ver se seu Luiz tava com o dinheiro, logo cedo Pedrim e Juca bateram aqui na porta, já era pra ir até lá, eu tava nervoso de mais e soava frio, tava rezando pra ele tá com esse dinheiro. Batemos na porta dele algumas vezes e nada, Pedrim meteu o pé na porta quebrando a mesma e entramos.
A casa parecia tá vazia, ouvi um soluço na cozinha, entrei e procurei em todo canto e encontrei a filha dele escondida atrás do armário, ela chorava e soluçava, arregalou os olhos quando me viu, tirei a arma da cintura e puxei o braço dela.

Rian: Onde tá teu pai? - Perguntei apontando a arma pra ela e apertando seu braço

Vitória: Eu... Eu não sei Rian, não faz nada com ele por favor - Falou entre soluços, eu não queria aquilo porra, eu juro que não

Rian: Bora Vitória, eu só vou perguntar mais uma vez, onde tá teu pai porra - Sacudi ela destravando a pistola, Pedrim e Juca apenas observavam

Vitória: Eu juro... Eu juro que não sei

Rian: E tua mãe, cadê? - Ela só chorava
- Responde vadia cadê tua mãe caralho

Vitória: Me pai saiu hoje cedo, eu estava sozinha, me escondi quando vi que era vocês que batiam na porta, eu não sei onde eles estão, não faz nada comigo por favor - Respirei fundo e soltei ela

Entrei pra outros cantos da casa, fui nos dois quartos que tinha, revirei tudo e nada, nem o dinheiro nem o velho, caralho o que eu posso fazer se ele vacilou? Pagar com a minha vida pelo vacilo dele? Porque se eu não entregasse nem o dinheiro e nem a cabeça dele era eu quem o Jarbas ia matar hoje, e ele ia continuar vivo por aí, eu não tinha mais o que fazer.

Vitória: Me soltaaaa - Ouvi Vitória gritar e sai do meu transe voltando pra sala, vi que Pedrim segurava firme os braços dela enquanto Juca passava a mão por todo seu corpo e ela gritava desesperada

Rian: Solta a garota caralho, vocês tão malucos? Sabem o que acontece com estuprador nessa porra né - Falei alto e eles soltaram a mesma que correu pra trás do outro sofá que tinha na sala

Juca: Tava pensando pô, já que a gente não encontrou o velho que tal levar a novinha? Acho que o Jarbas iria gostar heim - Olhou pra ela sorrindo malicioso e eu não tava nem acreditando no que eu tava ouvindo, papo reto

Rian: Vocês pegaram a porra do cérebro de vocês e enfiaram no cu caralho, a garota tem nada haver com isso, dela eu só quero uma coisa - Olhei pra ela que chorava freneticamente
- Fala onde tá teu pai e a gente vai embora e te deixa em paz - Ela só chorava e soluçava, sabia o que ia acontecer com o pai dela

Vitória: Eu juro que eu não sei - Coloquei a arma novamente na cintura

Rian: Eu acho bom tu não tá mentindo pra acobertar ele, se não eu juro que eu volto aqui ainda hoje e tu vai se arrepender disso.

Sai de lá com os dois imbecis e começamos a rodar pelo morro atrás do velho, a gente perguntava a algumas pessoas se tinham visto ele e nada, só uma mulher que disse que viu ele mais cedo vindo em direção ao mirante, viemos pra esse lado e nada. O sol começou a esquentar e eu tava ficando atordoado pensando quais métodos de tortura Jarbas usaria antes de me matar, me dava frio na espinha só de pensar.

Sentamos na calçada de frente pra um barraco abandonado que tinha ali pra descansar, foi quando eu vi ele de longe com uma mochila nas costas olhando assustado pra todos os lados, levantei e meti o pé, corri atrás dele e quando tava chegando perto ele me viu e correu também, comecei aquela perseguição idiota pelo morro atrás do velho e algumas pessoas na rua observavam, o velho cansou e tropeçou tentando continuar correndo, alcancei ele e já cai pra cima.

Rian: Cadê o dinheiro desgraçado, tu tá achando que eu sou palhaço mermo né, me enrola com aquele papinho, eu me fodo por causa de tu e tu foge achando que vou entregar minha cabeça de bandeja pro Jarbas no lugar da tua né velho safado - Dei um soco nele que pareceu ficar zonzo

Sr. Luiz: Eu não tinha de onde tirar mais esse dinheiro Rian, eu não tinha o que fazer, eu sei que você é um menino bom Rian, você não quer fazer isso, por favor, eu tenho uma família, não faz isso - Implorou e eu desviei o olhar

Rian: Esse menino bom morreu, mas realmente eu não queria fazer isso, só que eu não sou palhaço, e foi disso ai que o senhor quis me fazer - Vi Pedrim e Juca se aproximarem
- Tenho escolha não sei Luiz, nem tudo é como a gente quer - Senti um bolo se formar em minha garganta, sai de perto dele dando as costas e ouvi 3 disparos e o barulho do seu corpo se chocando contra o chão, não tive coragem de me virar pra ver, só sai dali o mais rápido que eu consegui, Pedrim e Juca sumiram e eu só vi uma multidão de pessoas aparecendo em volta do corpo, abaixei a cabeça sentindo o mesmo nó na garganta e fui pra casa antes que alguém me visse. A essa altura Jarbas já sabia da notícia com certeza, não precisava nem eu aparecer lá.

Entrei no banheiro e tirei minhas roupas entrando em baixo do chuveiro, eu sabia que eu não tinha escolha, mas eu tava me sentindo a pior pessoa do mundo, imagens dele sempre falando comigo, perguntando como eu tava e as vezes me dando doces quando voltava do colégio me vieram na mente e eu novamente senti aquele bolo se formar em minha garganta, uma lágrima involuntária caiu, me perguntei que caralho eu tinha feito da minha vida.

Eu tinha me transformado numa pessoa que acabava com a vida de outras, eu não tinha livre árbitrio pra decidir o que eu queria fazer, se eu não fizesse coisas que eu não queria, que eu não tinha vontade e me sentia mal em fazer eu podia apanhar ou até ser morto, como Débora disse em algumas discussões que já tivemos, eu acabei com a minha vida, me deixava atordoado saber que talvez eu nunca mais pudesse sair dessa tortura, nunca mais teria uma vida normal, logo eu, que sempre gostei tanto da minha liberdade, já quase não tinha mais.

Fechei os olhos sentindo a água cair sobre meu corpo como se todo aquele peso fosse sair de mim junto com a água e iria para o ralo, eu me sentia sujo, lembrei de Vitória pedindo pra que eu não fizesse nada com seu pai e me senti mais sujo ainda, eu nem posso imaginar o que ela esteja sentindo agora, lembrei também de minha tia, que era muito amiga dele e deve tá destruída agora sabendo do que aconteceu, senti um arrepio quando pensei na possibilidade dela descobrir que eu tava envolvido, acho que jamais ela iria me perdoar.

Sai do banho e minha barriga roncou, era quase meio dia, mas eu tava sem ânimo pra comer. Meu celular começou a vibrar em cima da mesa, vi que era Débora, respirei fundo e atendi.

Ligação on

Débora: Rian pelo amor de Deus, me fala que não foi você, me fala que você não tava no meio - (Ela sabia da história porque eu havia contado pra ela e pro Ricardo depois que contei pro Jeferson)

Débora: Respondi Rian - Falou parecendo esta nervosa e eu mais uma vez não respondi nada

Débora: Tia Vera está desesperada, e se ela souber Rian - Eu aguentaria qualquer coisa agora talvez, mas ouvir essas coisas eu não ia conseguir ouvir, eu não aguentava mais essa culpa.

Ligacao of

Desliguei o celular e deitei na minha cama, eu não parava de pensar em várias coisas, e já estava enlouquecendo. Como sempre resolvi apelar pras drogas, abri uma gaveta pegando até injetavel, depois de usar tudo que eu consegui senti um leve sono.

Do Morro Ao AsfaltoWhere stories live. Discover now