Ondas de ódio mundano
Buscam destruir memórias perdidas***
Enquanto Marcus caminha buscando esperança nos olhos de Dane Kinsey, uma discussão acalorada nasce na sua antiga residência. A conversa em tom de briga é ouvida atentamente por Bettina, que não cansa de se benzer pedindo proteção divina para o seu menino:
- Já temos a confirmação! O que estamos esperando? - Grita uma voz masculina.
- Não adianta gritar, isso não irá mata-lo! Trate de se acalmar. - Diz outro homem mais controlado.
- Amanhã cedo vocês dois irão até a vila resolver esse problema. - Ordena uma voz rouca feminina.
- O que meu pai acha disso? - Questiona de maneira quase inocente outra mulher.
- Seu pai acha que o mundo vai acabar amanhã e precisa beber todo vinho que puder hoje. Olhe para ele, bêbado como um porco. - Retruca a mulher da voz envelhecida. - Ele já deve estar tramando algo para voltar. Não podemos correr esse risco.
- Estou certa de que se o deixássemos em paz, nunca mais teríamos notícias dele. - Defende a jovem moça.
- Deixe de ser tonta menina, já está decidido. Vocês partem amanhã cedo e só voltarão quando alma do rapaz tiver sido devidamente encaminhada para o inferno. – Concluiu a dona da voz envelhecida.
O bando começa a se dispersar, cadeiras são arrastadas e a empregada trata de voltar furtivamente para o trabalho, em sua mente, infinitas orações são direcionadas para a Vila da Passagem. Querem roubar a única coisa que deixaram com o Marcus, sua vida.
Na vila, Marcus traça seu caminho até o balcão do armazém, onde sua esperança o aguarda ansiosa. Cumprimenta Mat e sorri quando confirma que Dane está ali.
***
- Gostaria de falar com você, mas peço para ser de maneira reservada e de preferência agora. - Pede com urgência na voz o rapaz.
- Deixe-me primeiro atender todos que estão no armazém. - Brinca Dane com o lugar que chega a fazer eco de tão vazio. - Venha. - Convida a moça dirigindo-se para o corredor que termina em sua casa.
- Se não se importar prefiro que seja na minha casa. Sugere Marcus.
Sem demonstrar objeção Dane o segue pela estrada da vila. O silêncio do passeio nubla a esperança de que o assunto possa ser do seu agrado. E perdida em um céu de possibilidades começa a se preparar para más notícias. Mas suas nuvens são sopradas para longe tão logo a porta da casa é aberta:
- Não se preocupe Dane, não é nada demais. Na verdade nem sei por onde começar. Vou omitir toda a história e lhe fazer apenas uma pergunta e dependendo da resposta lhe ponho a par de toda situação. - Completa o rapaz.
- Tudo bem, mas trate de falar logo. Meias palavras me deixam louca. - Pede Dane permitindo-se sorrir para um mar de felizes possibilidades.
- Sente-se. - Fala Marcus para a sorridente moça enquanto coloca o livro na mesa aberto e virado para ela. - A pergunta é: Você consegue ler o que está escrito neste livro? - Indaga indo direto ao ponto o esperançoso Marcus.
Dane olha com uma expressão séria para o livro, encara Marcus como se estivesse brava e sem resistir começa a gargalhar:
- Não sou a mais indicada para ler a você uma história Marcus, mas se houvesse ao menos uma linha escrita aqui eu poderia tentar.
A alegria da moça, achando que aquilo era apenas uma brincadeira tola do seu enamorado, rompeu o último fio de esperança que prendia Marcus às palavras da Lizandra. Visivelmente abatido fecha o livro e agradece:
- Obrigado Dane, vejo que infelizmente não será necessário lhe contar toda a história. - Diz tentando guardar dentro do livro o desenho a carvão.
- O que é isso? - Pergunta Dane tentando entender o que de errado possa ter dito que causou tanto sofrimento.
- Só um desenho que encontrei tão sem sentido quanto as páginas em branco do livro para você. – Fala Marcus decepcionado deixando a folha desenhada nas mãos e Dane.
- Essas frases eu consigo ler. - Busca a moça, de maneira desesperada, uma solução para o clima que se estabeleceu.
- Infelizmente essas eu também, apesar de não entender o que está escrito. Responde ele com ar de derrota.
- Você vai explicar o que está acontecendo? Porque sinceramente acho que perdi alguma parte desta história. Desculpe se não reagi como deveria diante do livro em branco, se é uma brincadeira eu não entendi. - Tenta resolver a situação a senhorita Kinsey.
- Você não fez nada de errado Dane, eu é que preciso pedir desculpas por lhe fazer perder tempo comigo aqui. - Relata o apático Marcus apoiando suas mãos sobre a mesa e suspirando de cabeça baixa.
Dane se levanta, apoia a mão sobre o seu ombro e pede:
- Conte o que está acontecendo, deixe-me tentar ajudar. Já acreditando que há algo sério por trás de tudo aquilo.
Marcus se vira, segurando a mão que desce lenta em frente ao seu peito. Leva-a até a boca e a beija como se fosse a última vez. Um sorriso regado com lágrimas repletas de preocupação nasce em Dane. Mesmo sem saber o que está acontecendo sente que hoje algo se perdeu, ou pior, que presenciou uma esperança morrer.
ВИ ЧИТАЄТЕ
O Livro (Lizandra's Book)
Сучасна прозаEm 1737, junto com o suicídio de meu pai, minhas últimas esperanças também foram enforcadas... Da antiga vida ao seu lado, do próspero negócio da família, nada restou. Sobrou-me o isolamento em uma vila esquecida, lar dos meus antepassados e provav...