- Você está bem? - perguntei e ele acentiu de imediato, mas sua expressão entregava que ele estava mentindo.

- Preciso... - suspirou e olhou para os lados um pouco confuso - Preciso ir embora... Quer dizer, sair daqui. Eu não sei.

- Vamos - Me levantei e estendi a mão.

- Não - desviou o olhar - Não vou ficar na sua casa. Eu agradeço muito, mas não me sinto bem. Vou dar um jeito sozinho.

Ele se levantou e bateu a roupa toda suja de terra. Se virou pra ir embora sem me olhar nos olhos, fugindo de qualquer coisa que eu tivesse pra falar. Eu sabia que ele estava desconfortável com o que Gahyeon fez, mas eu não suporto a ideia de saber que ele não tem um lugar pra dormir.

- Jisung, espera - o puxei pelo braço - Vamos dar uma volta e comer alguma coisa enquanto pensamos nisso, pode ser?

Ele hesitou, mas depois de alguns segundos sorriu sincero e genuíno. Ele estava com fome, eu sabia disso, mas uma parte desse brilho no olhar foi por saber que eu não o deixaria ir embora tão fácil assim.

- Tudo bem - sorriu - Mas eu estou todo sujo, não quero entrar em nenhum lugar assim.

Pensei em dizer que ele poderia tomar um banho em casa, mas sabia que ele não estaria disposto a reencontrar Gahyeon tão cedo, e eu também não sei qual seria a reação dela.

Olhei para os lados pensando no que fazer, até que no meio da praça vi um carrinho pequeno de waffles com sorvete. Jisung ia adorar, e além do mais, havia um banco vazio e afastado onde ele gostaria de sentar pra comer.

- Vem comigo - peguei na sua mão e o puxei.

Enquanto andava até o meio da praça percebi como estava o tocando tão naturalmente agora, e ele não demonstrou nenhuma reação ruim. Engoli em seco quando senti um gelo no coração, como um lembrete de que isso não é uma coisa boa.

Haviam vários sabores de sorvete e opções de fruta. Os olhos de Jisung se arregalaram, sua boca ficou entreaberta enquanto ele olhava pra todos eles e tentava pensar em qual era mais gostoso.

O dono do carrinho disse todos os sabores pra ele, e seus olhos se arregalaram ainda mais. Fez um biquinho de pensativo, mas sua resposta nunca chegava.

- E então? Qual você quer? - não consegui disfarçar o sorriso enorme que eu tinha no rosto.

- São muitos - na verdade nem eram tantos assim, mas no mundo novo que Jisung conhecia, cinco sabores de sorvete significavam uma imensidão deles.

- Pode pedir quantos você quiser.

- Sério? - me olhou sorrindo como uma criança.

- Sério - sorri de volta.

- Então eu quero um de limão, outro de manga e um de... Morango é bom?

- Você nunca comeu? - acabei soando um pouco surpreso.

- Não.

- Sim, é bom. Mais dois de morango, por favor - Pedi ao homem e voltei a olhar para o rosto iluminado do garoto - Você vai gostar, tenho certeza.

Quando ficou pronto, minhas duas mãos não podiam carregar tanta waffle com sorvete até o banco da praça. Dividi com Jisung, mas ele estava tão empolgado que andou rápido até o banco e quase derrubou uma.

Ele se sentou, olhou eufórico para todas elas e tirou a de morango da minha mão. Pegou um pedaço da fruta nos dedos, olhou pra ela por alguns segundos e depois colocou na boca.

- E então? O que achou? - perguntei ansioso.

Ele arregalou os olhos e entrou em êxtase, mastigava rápido e me olhava como se tivesse realizado um sonho. Senti meu coração quebrar em vários pedacinhos. O que era só um morango pra mim, era um mundo novo pra ele. Me pego pensando no que aconteceu de tão grave pra que ele fugisse do mundo real por uma vida inteira.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Onde histórias criam vida. Descubra agora