𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐗𝐕

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O garoto magro e de olhos verdes estava sentado sobre o colchão fino da cama de baixo do beliche, fitando o outro, moreno, que se inclinava sobre a pia posicionada no canto direito da parede, para vomitar. Em seguida voltando o olhar para o outro menino de pele branca e cabelos claros em sua frente, que balançava a cabeça e parecia segurar as lágrimas nos olhos azuis.

A porta se abriu de uma só vez, revelando um dos homens, segurando o braço de um outro garoto, assustado.

- Vai dormir aqui – Ele disse firme, empurrando o menino para dentro do cômodo, chamando a atenção dos outros três – Nos vemos amanhã.

Foi tudo que ele disse antes de bater a porta, deixando o garoto paralisado, em completo choque, fitando os outros.

Eles ficaram silêncio por alguns instantes, e o recém-chegado tremia um pouco, por puro medo, e claro, fraqueza. Ele estava muita com fome.

- Como você chama? – O loiro perguntou o encarando, enquanto o moreno voltava a vomitar.

- L-liam... – O menino respondeu num tom baixo e incerto.

- Eu sou Niall – Ele se levantou e em seguida apontou para o outro menino sentado – Esse é o Harry, e aquele ali, é o Zayn – Indicou o jovem que passava mal.

- O que ele tem? – Liam perguntou percebendo o estado deplorável de Zayn.

- Levaram ele para a cidade hoje – Niall disse num tom simples e Liam franziu o cenho, sem compreender o que ele tinha dito.

- Dão bebida para a gente quando nos levam – Foi a vez de Harry, finalmente, dizer algo – Você já bebeu Liam?

- Álcool? – Ele perguntou e os dois confirmaram, enquanto Zayn limpava a boca e erguia o corpo – Não, nunca.

- Você vai ter que beber – Niall falou se sentando novamente.

- Mas e se eu não quiser? – Falou ainda confuso sobre tudo que estava acontecendo.

- Não importa – A voz baixa de Zayn soou um pouco atrás de Liam, que o fitou e viu o garoto caminhando até mais perto dos outros – Você tem que beber, não vai querer saber o que acontece se disser não para ele.

- Ele? – Liam franziu novamente as sobrancelhas – Ele quem? – Questionou, fazendo os outros três se entreolharem sérios.

Olhos sérios e vazios demais para garotos de apenas 11 e 12 anos.

**

As duas portas de madeira se abriram, relevando Malik em pé, olhando pela grande janela do cômodo para o jardim do outro lado, em seguida virando o rosto para trás com as sobrancelhas erguidas ao perceber minha presença.

- Olá Styles – Ele disse rodando um anel no dedo anelar direito com a ponta dos dedos esquerdos – Queria falar comigo?

- Sim, quero – Respondi simples dando passos à frente e ele indicou com a mão em direção ao sofá.

- Por que não se senta? – Ele falou caminhando ao lado da mesa de madeira com as cadeiras.

A mesma que tínhamos conversado da última vez, e que agora ele apoiava o quadril sobre a quina, cruzando os braços e me encarando, enquanto me sentava no sofá e ajeitava o blazer em meu corpo.

- Suponho que seja sobre o serviço para o qual te contratei – Ele disse num tom calmo e frio.

- Sim – Falei – E tenho a impressão que não vai gostar do que tenho para dizer.

- Veremos – Ele respondeu, semicerrando os olhos e mantendo as sobrancelhas erguidas, me fitando.

Malik e eu nos conhecíamos a muito tempo, e em certos momentos da vida nós tivemos conversas pessoais e compartilhamos de alguns... momentos. Eu sei muitas coisas sobre o passado dele e ele sabe do meu, mas em um certo ponto nossas vidas mudaram e nós não "precisávamos" mais um do outro, segui meu caminho e Zayn o dele. Nossa relação se tornou estritamente profissional.

Por isso, a ideia de dizer a verdade para ele (que eu transei com Louis Tomlinson) não foi cogitada.

- Vim até aqui dizer que irei devolver seu adiantamento – Comecei a falar num tom sério – Não vou cumprir o serviço que me pediu, sinto muito.

- Como é? – Ele girou minimamente a cabeça, parecendo duvidar do que havia escutado.

- Foi como eu disse, o acordo está encerrado – Afirmei o que tinha dito, ainda num tom calmo.

E então os olhos cor de mel me analisaram por alguns segundos, até uma curva mínima começar a se formar nos lábios dele e aos poucos se transformar numa risada, uma gargalhada. Ele ria como se tivesse escutado alguma piada, e eu mantinha o semblante sério o encarando, enquanto os seus homens em volta, armados, começavam a rir junto a ele.

- Não estamos muito velhos para brincadeiras, Styles? – Ele perguntou cessando o riso aos poucos e agora se sentando ao sofá em minha frente.

Mantive minha expressão séria, em completo silêncio, até a dele se desfazer para um olhar pesado e um pouco irritado.

- Está falando sério. – Ele afirmou e eu continuei o fitando – Por quê?

- Eu não mato qualquer pessoa, você está ciente disso – Disse simples.

- Louis Tomlinson não é qualquer pessoa – Malik retrucou de imediato, agora completamente sério.

- Sei disso – Concordei – Mas não se encaixa nas características que o tornariam um alvo.

- Me deu sua palavra – Sua voz saiu entre os dentes, os olhos mel pareciam cada vez mais furiosos.

- Não ia mata-lo por palavra, faria por dinheiro – Disse num tom simples – Por isso vou devolver a quantia que me pagou e me retirar do acordo.

Coloquei a maleta preta fechada sobre a mesa de centro retangular e voltei a recostar as costas sobre o encosto do sofá. Malik, apenas com os olhos, indicou para que um dos seus homens se aproximasse e a abrisse, e assim que ele o fez, revelando as notas organizadas e separadas em montes, o homem passou os olhos pelo dinheiro e voltou a me encarar, enquanto eu agora estava de pé.

- Isso foi... broxante Styles – Ele falou num tom arrogante, provavelmente tentando me humilhar.

Acenei com a cabeça, ainda sério, e então ele se levantou, caminhou até a mim a passos lentos e se colocou a apenas alguns centímetros de distância, mantendo o rosto próximo o suficiente para que eu sentisse o ar quente da sua respiração sobre meu queixo.

- Não sei o que ele te disse – Malik começou a dizer baixo e sério – Não acredite em nenhuma palavra, ele enganou pessoas que jamais foram enganadas, fará o mesmo com você – Seus olhos entregavam sua raiva, mas eu sabia que ele acreditava fielmente no que dizia.

Acontece que Malik não sabia que Louis Tomlinson já havia me enganado, ele já conseguira o que queria de mim, mas eu não o mataria.

Talvez eu devesse mata-lo, talvez pudesse ser o que acabaria com a vida de alguém tão odiado como Tomlinson, mas apesar de todos os seus golpes, sua luxúria, sua arrogância e falta de honestidade. Quando apontei a arma em direção a ele, me tornei incapaz de atirar, incapaz de acabar com sua vida, como se eu nunca tivesse feito aquilo antes.

Poderia ser porque o desperdício sempre foi algo que me incomodou, e mata-lo seria um imenso desperdício de uma mente brilhante e um corpo delicioso, mas por escolha própria, preferi simplesmente ignorar quaisquer que fossem os motivos e esquecer tudo isso, incluindo Tomlinson.

E foi o eu supostamente fiz nas semanas que seguiram. Assim que deixei a casa de Malik, decidi que passaria um tempo sem me envolver em novos acordos, e tudo que fiz foi malhar, ler alguns livros e chamar um ou dois rapazes para meu apartamento, infelizmente nenhuma dessas duas noites causaram o efeito que eu desejava. Ainda tinham muitas coisas que me instigavam a respeito do "Coelho Branco", codinome que tinha dado a ele para impedir que seu nome real fosse presente na minha mente.

Nada a respeito dele parecia se encaixar de fato, e ao mesmo tempo que ele parecia inocente em suas ações, ele havia me provado que é um homem bem mais calculista do que eu pensava.

E além disso, ainda havia Malik, que não parecia ter ficado satisfeito com minha decisão, e provavelmente acharia outra pessoa para fazer o serviço. Não que eu me preocupasse com isso, eu obviamente não me importava se ele ainda estava vivo ou morto.

Eu não me importava com ele. 

𝐓𝐚𝐬𝐭𝐞𝐝 𝐋𝐢𝐤𝐞 𝐁𝐥𝐨𝐨𝐝 | 𝐥.𝐬Where stories live. Discover now