Parte 3 | Capítulo 31: Cássio

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— Filhos da puta! – Lucas exclamou alto no restaurante.

Era a noite seguinte à gravação. Gustavo, minha mãe, ele e eu estávamos jantando. Gustavo acabara de contar a Lucas que a pastora foi uma convidada surpresa para um debate.

— Ele foi bem! – Disse Gustavo para acalmá— lo. – Com certeza os apoiadores dela falarão que ela venceu, que o Cássio foi covarde por ter deixado a pastora falando sozinha, mas foi lindo, senti orgasmos múltiplos com a cara dela.

— Eu não tenho mais raiva dela. – Complementei – Toda a raiva que eu tinha alimentado com os dois vídeos dela acabaram no momento que a deixei falando sozinha. Inclusive pararei de dar audiência ao canal dela. Não vou ver mais nada, não vou responder. É uma página virada em minha vida, já!

— Mesmo assim, caralho, como puderam? – Lucas balançava a cabeça indignado.

— Audiência! – Respondi. – Depois de amanhã você verá tudo o que rolou, espero que eu supra suas expectativas.

— Só de ir lá, cara, todas as expectativas foram supridas. Mas acho melhor falarmos de coisa boa. – Lucas se virou para minha mãe e perguntou. — Dona Irene, a senhora vai participar do protesto?

— Não, vou embora amanhã, preciso voltar pra casa, o pai do Cássio tá sozinho e vou ter que segurar alguma explosão da fera quando o programa for ao ar – Ela falou com pesar.

Gustavo começou a rir sozinho.

— O que foi, lindo? – Perguntou Lucas.

— Lembrei da cara de tacho da pastora – ele respondeu rindo, eu comecei a rir, minha mãe também e depois disso a conversa ficou mais tranquila.

No dia seguinte minha mãe acordou junto comigo. Fui para a faculdade e ela foi para casa. Na faculdade a expectativa de todos estava a mil quanto a minha participação no programa do Júlio Ribeiro. João Paulo contou para todo mundo que eu estaria no programa da sexta-feira. Eu respondia com um enigmático "vocês verão", quando alguém me perguntava como foi.

Gustavo estava a mil na organização do protesto, algo que eu não estava a fim de me preocupar e ele nem fazia muita questão que eu o ajudasse também, Lucas e ele estavam vendo isso.

Quando cheguei em casa naquela noite, resolvi correr, deixei celular em casa e voltei para a pista. Não corria havia algumas semanas, devido a loucura que as coisas ficaram. Depois de uns vinte minutos correndo voltei a sentir aquele prazer inenarrável de endorfina no corpo.

Quando corro é um dos momentos que mais penso em meus problemas e meus erros. Fiquei o percurso inteiro mastigando a burrice que dei de ter falado para o Brasil inteiro que eu ainda amava o Marcus.

Aquilo era a mais pura verdade e era difícil assumir para mim que meu amor por ele não tinha diminuído um centímetro. Além disso, eu não tinha planejado falar sobre ele no programa, mas a raiva que eu senti da Sarah foi tão grande que eu acabei soltando inconsequentemente o maior segredo que mantinha. Não tinha noção de qual seria a reação do Marcus ao assistir aquilo, mas tentei evitar pensamentos negativos.

Quando voltei para casa, ao entrar em meu prédio, o porteiro disse que tinha gente me esperando no corredor do lado de fora do meu apartamento, disse que os deixou subir porque era perigoso que as pessoas ficassem na rua me esperando.

Na mesma hora já tinha certeza que era o Marcus que estava lá, chamei o elevador tenso, minhas mãos tremiam, estava suando e sentia o coração batendo muito forte no peito. A subida do térreo até o sétimo andar nunca pareceu tão longa em minha vida.

A Pílula (versão 2.0)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora