Parte 3 | Capítulo 25: Cássio

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Em 2012 iniciei meu segundo ano na faculdade e já tinha aceitado minha condição. Não era o cenário que tinha imaginado para mim, mas estava acostumado. Sentia falta do contato humano, porque o evitava. Não tinha coragem de me assumir como alguém assexual. Era como se estivesse entrado em outro armário. Tinha medo das pessoas me julgarem por não sentir atração sexual ou me julgarem mais ainda por tentar me tornar hetero e me ferrar por isso.

A faculdade estava ótima, mesmo ainda no início do curso, estava apaixonado pela psicologia. Talvez estivesse transferindo todas as minhas frustrações em estudo e corrida, mas após passar por um período muito para baixo durante o ano anterior, ter um foco me fazia bem. Tudo estava encaixado na minha vida, estudava em período integral, corria praticamente todas as noites.

Ainda tinha sentimentos muito fortes pelo Marcus, não conversávamos desde aquele nosso encontro há quase um ano, mas o vi uma vez enquanto corria no Ibirapuera. Ele estava sentado tomando açaí com um cara. Meu coração disparou, a adrenalina correu solta pelo meu corpo e naquele dia corri mais do que imaginava que era o meu limite. Às vezes sonhava com ele e acordava com uma saudade imensa, tinha vontade de ligar, mas procurei sobre sua vida por meio das redes sociais e vi que estava morando junto com o cara que estava com ele no Ibirapuera.

Dos meus amigos, só mantinha contato com Chiara, mas tinha receio de procurá-la sempre por estar noiva do tal do Maykon. E por mais que a solidão que sentia fosse opressora, estava acomodado nessa situação, não pretendia sair dela e queria passar a faculdade inteira despercebido, mas tudo mudou na primeira semana do segundo ano.

Primeiro dia de aula, primeira aula, um professor muito jovem entrou na sala, devia ter uns trinta anos. Vestido com uma blazer preto com uma camisa gola v branca por baixo, uma calça skinny de jeans escuro e um tênis preto. Não bastou dois segundos para eu ter certeza que ele era gay. Ele era muito bonito, com um olho castanho e um sorriso brilhante que deixava marcada duas covinhas no rosto, uma barba estrategicamente mal feita para dar um ar despojado e cabelo liso penteado para o lado.

Se ainda fosse gay com toda a certeza me sentiria atraído por ele, bastou eu observar a expressão das pessoas da minha turma para notar que muitas estavam obviamente atraídas por ele.

— Olá, meu nome é Lucas e vou dar aula de psicologia cognitiva comportamental a vocês. – Ele passou a mão no cabelo penteado para o lado de uma maneira deliciosamente charmosa. – Como hoje é minha primeira aula, pretendo fazer algo que me faça conhecer vocês melhor. Primeiramente, gostaria que todos se apresentassem, digam nome, idade e por que fazem psicologia.

Um a um, todos alunos se levantaram e se apresentaram, foi a primeira vez que me senti aberto a interagir na aula e observar as pessoas que estava ao meu lado com mais afinco, já que nem trabalhos em grupo eu fazia e os substituía por provas. Quando chegou a minha vez, quis impressionar o professor, me levantei e disse olhando para ele:

— Meu nome é Cássio Prado, tenho vinte e um anos e estudo psicologia porque gosto de tentar entender toda a complexidade humana e porque sou muito apaixonado em estudar toda a fraqueza e limitação das pessoas e quero ajudá-las um dia.

Lucas sorriu quando eu disse isso e sorri de volta.

— Mas olha o Cássio falando mais nessa aula do que ele falou o ano passado inteiro! – Disse um carinha na sala que não lembrava o nome. Algumas pessoas riram e o professor deu uma olhada para mim, achei que estava me analisando, mas logo ele apontou para a moça que se sentava em minha frente e ela se apresentou.

Fiquei envergonhado com a piadinha, mas era verdade. Se eu estava interessado em me socializar na aula era claramente por causa do professor.

Quando chegou a vez do piadista, ele se levantou e disse:

A Pílula (versão 2.0)Where stories live. Discover now