Parte 2 | Capítulo 19: Marcus

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Cheguei perdido. Meu inglês estava um pouco enferrujado, mas nada que atrapalhasse, fui de táxi para o condomínio que ficava perto de onde estudaria.

Meu apartamento era bem pequeno, mas tinha uma cama de solteiro, TV, fogão, microondas e uma geladeira. Meu pai depositaria uma quantia em dinheiro nas duas primeiras semanas que estivesse lá, mas o próprio programa em que estava inscrito me indicaria para algum emprego.

No primeiro dia não quis sair de casa, era um domingo, estava a fim de dormir e não tinha muita coragem de chegar socializando com as pessoas que faziam muito barulho pelo corredor. Imaginei quantos caras bonitos deviam ter lá, mas não consegui parar de pensar em você em meu primeiro dia. Jurei a mim mesmo que aquele seria o único dia que me permitiria fazer isso. 

No dia seguinte fui à escola onde faria o curso. Primeiro dia, apresentações e explicações sobre o programa. Fiquei a manhã inteira lá, depois conversei com um conselheiro que me ajudaria a escolher um emprego que pagava alguns dólares por hora, o suficiente para sobreviver por lá, já que meu pai continuaria pagando o aluguel.

— Para tudo! — interrompi segurando uma risada. — Você trabalhou numa cozinha de um hotel e também foi camareiro? Tenho medo de para aonde essa história vai seguir.

Enfim, trabalharia seis horas por dia, seis dias por semana, mas o esquema de 
horário e dias para trabalhar era um pouco flexível, não me senti escravizado,mas era obviamente um emprego muito ruim.

Minha rotina era a seguinte, de segunda a sexta curso na parte da manhã;de uma às sete da noite trabalhava e o resto do meu tempo era livre. Sábado trabalhava de seis da manhã ao meio dia ou de meio dia às seis da tarde. Pouco tempo desocupado para pensar em besteira e para me afastar mentalmente de você, Marcus.

Pesquisei sobre a pílula. Para tomá-la bastava chegar à clínica um dia e tomar, após isso havia um acompanhamento psicológico que durava algumas semanas.

Li depoimentos em alguns fóruns de pessoas falando que mudaram avida ao tomar a pílula e que estavam muito felizes, se casaram ou estavam namorando alguém do sexo oposto. Também tinham pessoas angustiadas que se arrependeram de fazer o tratamento, principalmente porque muitos não eram mais gays, porém ficaram assexuais. Destes alguns acabam se matando.

— Assexuados? — interrompi chocado. 

— Sim! A pílula GHX-100 não é para transformar em hétero, é para fazer deixar de ser gay — Cássio informou, comendo yakisoba.

— Não sabia disso — falei sem acreditar no absurdo que essa pílula fazia. — Sim,  propositalmente ou não, isso não é muito divulgado — Cássio explicou bufando.  

— Além disso, a propaganda é muito pesada em cima dessa pílula, vendendo um padrão de vida heteronormativo.

Havia uma guerra de opiniões na internet. Pessoas que faziam parte de um grupo chamado "freedompill" lutando pela liberação da pílula em outros estados. Também havia um grupo de gays que era muito forte chamado "WAS - WeArentSick", contra a pílula, cheio de estrelas Hollywoodianas a favor do grupo. Tinham muitos vídeos inspiradores e invejáveis de casais gays que estavam estabelecidos, vivendo juntos, adotando filhos. Outro grupo contra a pílula que  gostei muito era o "love our gay son" de mães e pais que apoiavam os filhos. Tinham muitos  outros. Eu particularmente apoiava um pouco o "freedompill", porque não tinha mudado a  minha opinião em relação às pessoas que não gostavam de ser gays e queriam ter o direito de  deixarem de ser. Além disso, o "freedompill" em momento algum tratava a homossexualidade  como uma doença. Entretanto descobri que eles foram proibidos de fazer isso e qualquer  pessoa que usasse esse argumento poderia ser acusado de homofobia.

A Pílula (versão 2.0)Where stories live. Discover now