Parte 1 | Capítulo 4: Cássio

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Continuei sentado no sofá, de cabeça baixa, após a saída brusca de Marcus.Comecei a chorar, estava sendo injustiçado por ele. Meu namorado não compreendia ou não sabia o quanto era difícil para mim ser bissexual e quando,pela primeira vez na vida, tenho uma esperança de poder levar uma vida normal, ele me joga esse balde de água fria. 

Como ele podia não me compreender? Ele mesmo tinha dito que me amava pouco antes de me mandar ir para o inferno, após ser cabeça dura, gritar comigo e em nenhum momento fazer questão de entender o meu lado. Duvidei desse amor que ele disse ter por mim, porque até onde sei quem ama entende. Ele não me entendeu, não me apoiou. 

Levantei-me, fui até a porta de entrada e olhei para rua. Estava deserta. Fiquei inconformado, com um choro que misturava raiva e tristeza. 

Fui para o computador e pesquisei sobre essa pílula GHX-100. Passei uma hora lendo artigos e depoimentos das pessoas que tomaram a pílula durante os testes. Não eram muitos, mas todos os relatos eram positivos, eles tinham deixado de ser gays. Não me dei ao trabalho de ler sobre blogs que são contra essa pílula nem depoimentos que crucificavam os gays que queriam se livrar dessa situação. Percebi que tinham muitas pessoas incompreensíveis como o Marcus, mas também tinham muitos caras sufocados em seu mundo por serem gays, como eu. 

O mais estranho é que eu fiquei alheio a tudo isso e imagino que o Marcus também. A tal pílula GHX-100 era também conhecida como "antiqueer",nome horrível. Já era notícia há uns seis meses na internet. 

Saí do computador, olhei para o relógio, 1h27, estava sentindo um cansaço mental gigantesco. Tínhamos um ano de namoro, mas eu nem sabia se ainda namorávamos. Deitei na minha cama. Estava sem sono, mas decidi ficar deitado pensando na vida, no nosso namoro que talvez não continuasse depois desta noite.

*****

— Olha como ficou legal. — Marcus me mostrou os dados verdes pendurado sno retrovisor do carro assim que entrei. — Não vou tirar daqui.

— Que bonitinho! — falei contente por ver os dadinhos sendo usados. 

— E aí? Como você está? Arrependido pelo beijo que demos ontem? —Marcus perguntou descontraído.

— Não, eu gostei muito para ficar encanado com alguma coisa. — Respondi. 

— Que bom então, o que você está a fi m de fazer? — Marcus perguntou dando partida no carro. 

— Você que sabe. — Não tinha ideia de aonde ir com um cara.

— Tudo bem — respondeu. — Vamos para um bar.

Era a primeira vez que saíamos, estava muito nervoso, me lembro de que quando ele ligou naquele dia me convidando eu quase disse não, por medo de parecer chato, desinteressante, infantil, forçado ou qualquer outra coisa. 

— Cássio, confesso que eu estou um pouco nervoso — ele disse.

— Sério? — Fiquei aliviado ao ouvir isso. — Eu também tô! 

Ele estava dirigindo, colocou a mão na minha coxa, alguns segundos depois ele tirou.

— Pode deixar a mão aqui. 

Ele sorriu e colocou a mão em minha coxa novamente, pus a minha mão em cima da dele e assim ficamos num silêncio um pouco constrangedor.

A Pílula (versão 2.0)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora