Parte 2 | Capítulo 22: Marcus

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— Eu nem sei o que comentar! – Falei sobre o suicídio de Sebastian. Cássio começou a chorar naquele momento e o choro parecia muito sincero, porém eu não consegui acreditar totalmente naquela história, era tudo trágico demais, novelesco demais.

— Eu entrei em desespero quando o Tobias me disse, senti-me culpado em não poder acalmar Sebastian. – Cássio disse tentando segurar o choro.

— Não se culpe Cássio – Fiz um carinho em sua perna. — Isso não tem nada a ver com você. Se o menino era depressivo e estava sem esperança há milhares de quilômetros de você, não havia nada que você pudesse fazer. – O confortei achando a história absurda, porém vendo que a dor dele era sincera.

— Eu sei, mas a culpa foi gigantesca – Falou recebendo meu carinho fechando os olhos – Fiquei uma semana muito mal com o que aconteceu, com pena de Tobias e imaginando como seria a dor dos pais dele de perder dois dos três filhos num curto espaço de tempo.

— Isso aconteceu há quanto tempo? – Perguntei curioso.

— Quatro meses atrás. – Sebastian respondeu entre soluços. — Desde então precisei de terapia para poder superar isso, na verdade estou fazendo terapia para superar tudo. Quando me mudei efetivamente aqui para São Paulo, comecei a terapia na mesma semana. Foi minha terapeuta que me incentivou a te procurar, a vencer o medo de conversar com você. Tenho alguns problemas internos que preciso resolver para ficar bem.

— Quais são? – Perguntei curioso. – Se você quiser falar, claro!.

— O primeiro é a falta de desejo sexual – Ele falou fazendo um número um com o dedo indicador. — Faz seis meses desde que tomei a pílula e até hoje sofro com o resultado, acho que vou sofrer para sempre, mas minha terapeuta diz que não. Estamos trabalhando minha aceitação. O segundo é meu pai, o ódio que sinto e na incapacidade que tenho de ficar no mesmo lugar que ele sem ter gana de matá-lo. E o terceiro é meu sentimento por você. – Ele olhou profundamente em meus olhos para dizer isso, enquanto fazia o número três com as mãos. – Além de me sentir um merda por ter sido fraco e ter vendido minha alma quando vi um videozinho institucional da GHX-100. Eu tenho medo de todo o ódio que acho que você poderá sentir por mim, por ter tomado essa pílula. Nossa conversa no dia que fizemos um ano de namoro volta sempre em minha mente. Sua raiva quando debatemos sobre esse assunto, quando eu disse que tomaria a pílula. Eu preciso que você me perdoe e que você não sinta vergonha, nem desprezo de mim por tudo o que fiz. Mesmo depois de tudo que passei nos Estados Unidos, entenderia o fato de você me achar um fraco. Por isso vim te procurar, para saber de minha boca, minhas decisões e motivações de ter cagado por completo com minha vida. Eu preciso, na verdade, superar essa necessidade de ter sua aprovação que carrego comigo. E acredito que isso tudo se deve ao fato de que ainda te amo. Que mesmo não sendo mais gay, não sentindo desejo sexual nenhum, eu ainda tenho um sentimento muito forte por você.

Fiquei em silêncio por uns segundos tentando processar o que ele acabara de falar.

— Me amar? – Perguntei piscando várias vezes. – Pensei que a pílula se encarregaria de acabar com isso. – Cássio negou com a cabeça – E essa sua necessidade que eu não te julgue, Cássio, só você conhece seus demônios, quem sou eu e o que eu penso para afetar você? E depois de tudo o que você viveu, o assassinato do seu amigo, pressão do seu pai, ficar sozinho em outro país por quase um ano. Não tem como te julgar mal. Cássio sorriu um sorriso largo, fechou os olhos e suspirou. Como se ele necessitasse muito das palavras que eu acabara de dizer.

— Uma última coisa. – Ele disse um pouco inseguro, parecia que estava tomando coragem para falar. – Eu ainda te amo e ainda não tentei com nenhum homem depois que tomei a pílula. Você é a única pessoa no mundo que eu tenho segurança para tentar alguma coisa em relação a sexo. A única pessoa que se eu não sentir nada durante o beijo, eu posso ter certeza que não sentirei tesão com mais ninguém. Você quer tentar?

A Pílula (versão 2.0)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora