Parte 1 | Capítulo 11: Marcus

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A semana do aniversário do Cássio foi muito agitada. Eu estava apertadíssimo no trabalho e também em casa, pois o dia da mudança de minha mãe para Minas Gerais estava próximo. Dona Anabel deixou todos os móveis e eletrodomésticos dela na casa. Foi um alívio saber que não precisaria me preocupar em comprar móveis novos. Mesmo triste com sua mudança, estava empolgado em viver sozinho. Seria muito bom poder levar meu namorado para minha casa, sem me preocupar com nada. 

Eu superei o furo que Cássio deu comigo no dia do jantar na casa de Marcel. Ele estava melhorando aos poucos, devido a essa melhora eu conseguia perdoar seus deslizes. Acredito que evoluímos à medida que envelhecemos. Cássio já não era mais aquele menino de dezessete anos que tinha conhecido. O emprego dele, nosso relacionamento em si e o fato dos pais dele saberem sobre nosso namoro, trouxe uma evolução nas atitudes dele. 

Na noite que antecedeu a mudança de minha mãe, saí com ela e Cléver para jantarmos. Meu coração estava apertado, tinha certeza que sentiria muita falta de Dona Anabel, do companheirismo e daquelas pequenas coisas que estou acostumado a ter por morar com ela: geladeira cheia, roupa lavada e comida pronta. Mas esse era o preço de me tornar independente.

Cléver e minha mãe ficaram insistindo para que eu fosse visitá-los sempre que pudesse e qualquer coisa que precisasse era só pedir. 

No dia seguinte acordei sentindo um vazio completo. Pedi uma folga no trabalho para passar os últimos minutos com minha mãe, últimos momentos no ninho. Ela estava abatida, meio calada, acredito que pensando duas vezes se mudava ou não. Entretanto minha mãe sabia que essa mudança seria boa para vida dela e para minha. 

Dona Anabel tinha cozinhado para um batalhão durante o almoço. "Para você ter o que comer nesses primeiros dias sozinho. Daqui uns dias, quando você chegar em casa, não vai ter comida pronta para você", foi a sua justificativa para o tanto de comida que tinha feito. 

Após o almoço, houve muito choro da minha parte e da dela. Cléver estava visivelmente sem graça com a situação, mas não havia nada que podia ser feito ou dito durante a despedida entre mãe e filho que passaram sozinhos os últimos anos. Quando eles se foram, fiquei parado no portão da minha casa olhando o carro ir embora. Entrei em casa. Nunca esse lugar pareceu tão grande como agora. 


Na sexta-feira, Cássio veio até minha casa para nossa comemoração exclusiva de seu aniversário. 

— Como se sente tendo uma casa sua, somente sua e toda sua? — comentou assim que entrou em casa, ele veio direto do trabalho. 

— Me sinto ótimo! E ela pode ser nossa, somente nossa e toda nossa. — Ele apenas sorriu com o que eu disse, jogou sua mochila no sofá e se sentou. 

— Cara! Tô morto! Posso tomar um banho? — suspirou. 

— Claro! A casa é sua também. — Estava feliz com nossa nova intimidade. Enquanto ele tomava banho, esquentei a comida que minha mãe deixou para o jantar. Quando terminei de organizar a mesa, ele apareceu usando uma roupa minha. 

— Ainda bem que você tem essa mania de usar roupas apertadas, suas camisetas servem muito bem em mim. — sentou-se à mesa. — Tô morrendo de fome! 

Abri uma garrafa de vinho, brindamos aos dezenove anos de Cássio e jantamos calmamente. Depois fomos para a sala, assistimos a um filme e acabamos transamos em cima do sofá. Nosso sexo foi bem barulhento. 

— Foi tão bom que fumaria um cigarro — Cássio disse ofegante. 

Estávamos pelados e essa sensação de podermos ficar assim era libertadora. À meia-noite fui ao meu quarto, ainda pelado, busquei o presente dele. Era o box com as sete temporadas de Gilmore Girls, peguei um cupcake com uma velinha e cantei parabéns. 

— Queria muito ganhar isso! — ficou feliz ao ver o presente. 

— Eu me lembro de você comentar que queria. — Estava satisfeito por vê-lo feliz. 

Dividimos o cupcake em meio a meio e assistimos a dois episódios dessa série que ele gostava tanto. Quando o sono chegou, fomos para o quarto da minha mãe e dormimos abraçados na cama de casal. 

Tudo estava indo bem! Muito bem!

A Pílula (versão 2.0)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora