Parte 2 | Capítulo 15: Marcus

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Cada dia eu tinha um nome. Já fui Renato, Heli, Hugo, Gabriel, Lucas, Rafael... hoje eu era Cássio. Fiquei intrigado ao usar o nome do Cássio. Na verdade, acho que foi porque ultimamente andava pensando muito nele. 

Meus finais de semanas eram sempre assim, entrava em sala de bate papo, abria meus três aplicativos de "pegação virtual" e começava a procurar alguém para fazer sexo. Quando achava um interessante sumia das outras "fontes de homens" e focava em quem usaria naquela noite. 

Depois do meu término com Cássio, nunca mais o vi, nem ouvi falar. Inicialmente eu falava e sentia que eu não gostava mais dele e estava aliviado pelo nosso fim. Em abril de 2011, um ano e meio depois de nosso término, vi que foi um mecanismo de defesa gigantesco armado pelo meu inconsciente para não sofrer. 

Hoje eu sofria. Não de uma maneira intensa, mas era uma dor latente por eu ainda não ter conseguido me desvincular dele. Há umas semanas estava procurando algum rastro da vida de Cássio, olhei em todas as redes sociais e não achei nada. Tinha a sensação de que ele sumiu da minha vida para sempre depois do dia que fez dezenove anos. 

Eu também divagava se ele pensava em mim, o que sentia e onde estava. Porque eu também sumi da vida dele. 

Depois que fui promovido me mudei para São Paulo, aluguei minha casa em Campinas e, com o que recebo de aluguel, pago uma quitinete. Minha mãe me deixou ficar com todo o dinheiro do aluguel da casa dela. O que é ótimo, mais dinheiro poupado enquanto planejo comprar meu próprio apartamento. 

O rapaz de hoje iria passar em minha casa e me levar para outro lugar. Normalmente eu pego os caras de carro, trago para minha quitinete, depois do sexo os levo de volta para suas casas com tanto nojo, mas com tanto nojo deles que me seguro para não gritar e mandá-los calarem a boca enquanto dirijo. Hoje seria mais um que passaria pela mesma rotina. Eu não queria que fosse assim, mas depois de tantos caras que peguei, não conseguindo ficar mais de uma vez com nenhum, eu imaginava que nem com esse, nem com os próximos cem, conseguiria criar um vínculo mais forte. 

Normalmente eu pegava um ou dois caras por semana, transava com eles e depois depositava toda a raiva acumulada que tinha pelo Cássio neles. Estava difícil conviver com esse sentimento, porém eu jamais o procuraria, não teria coragem de aparecer na casa dele, não depois do que eu fiz.

A verdade era que eu estava estragado para relacionamentos. E hoje, pensando bem, não acho tão grave Cássio ter ficado com mulheres. Ele era uma pessoa que vivia em negação na época que estávamos juntos e reconheço que tê-lo exposto foi uma atitude muito imatura, impulsiva, desnecessária, egoísta, vingativa que eu não tinha o direito de fazer. Devia ter conversado com ele, tentado entender seu lado, em vez de fugir depois de soltar uma bomba na vida dele. Hoje via como errei naquela noite. 

Coloquei no esquecimento esses pensamentos e resolvi me arrumar para sair com o carinha de hoje. Camiseta apertadinha, passei um perfume e esperei sentado no sofá. Só não podia esperar muito, senão ficava depressivo e isso era a única coisa que matava meu tesão. Eu era movido a impulso sexual, musculação e trabalho nos últimos tempos, quando não tinha nenhum desses três, era a tristeza e arrependimento que me consumiam. 

Meu celular tocou.

 — Alô? — Atendi. 

— Cássio? — ele perguntou. 

Arrependi-me de escolher o nome do meu ex para a transa daquele dia. 

— Sim — confirmei. 

— Dmitri¹ aqui — avisou. — Estou chegando, cara. Tem como você me esperar do lado de fora, porque eu não posso ficar parado muito tempo na rua. 

A Pílula (versão 2.0)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora