Cena pós-créditos 🍉

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🌊 no verão seguinte 🌊

— O que eu estou fazendo de errado?!

Eduardo bufa, e espirra um pouco de água à sua frente. Estou longe o suficiente para não me atingir — e não acho que era a intenção dele.

— Nada... você não está fazendo nada de errado — aponto.

— 'Tou ciscando igual um desesperado... e não saio do lugar.

— Ei, você saiu sim... estava aqui do meu lado, e foi parar... aí... — aponto com o braço para ele, e a ponta do meu dedo toca seu ombro.

Realmente, Eduardo mal se moveu. E eu estou aqui tentando ensiná-lo a nadar há horas.

Ok, não faz tanto tempo assim. Talvez uns trinta minutos. Ainda assim, ele já deveria saber pelo menos sair do lugar.

— Eu não vou desistir. — Ele vem andando lentamente, devido ao peso da água, até mim. — Vamos de novo.

— Quer que eu demonstre?

— Não. Da última vez você se empolgou demais e deu uma volta completa na piscina. Até lá... no fundo. — Ele solta todo o ar do pulmão.

Está frustrado. Seus lábios estão curvados para fora e as bochechas estão estufadas, além de rosadas — culpa do sol. Os cabelos dele estão mais claros devido à combinação água de piscina com cloro + sol, e eu descobri que adoro essa tonalidade (mas Eduardo não; ele disse que vai cortar, ou usar meus cremes com protetor solar... que eu acho que ele já está usando escondido).

— Desculpa — peço, jogando meus braços por cima de seus ombros. Reproduzo o mesmo bico que ele, mas com uma pontada de sorriso. — Não vou lá...mas você já sabe. Tenta bater os pés dentro da água. Assim você não vai espirrar água em todo mundo... — e acrescento, baixinho: — como já está fazendo.

— Rá-rá! Muito engraçada você, só porque tem uma vantagem.

— Ei! Vocês dois, passarinhos apaixonados... — a voz de Enrico chega até nós por cima dos gritos das crianças na piscina. — Hora dos cookies!

Meu Deus, meu estômago parece um buraco negro, e eu só percebi agora, que roncou alto, como um monstro.

Sei que Eduardo me explicou, aliás, o que são buracos negros mais de sete vezes (ele está contando), e eu ainda não entendi completamente. Para mim, é só um grande buraco... fundo e escuro. Enfim. Igual meu estômago.

🍉🍉🍉

Duas horas depois, estamos na piscina novamente, e Eduardo dá braçadas desesperadas ao meu lado. Dessa vez ele consegue mais longe do que antes, e quando coloca a cabeça para fora, seu sorriso é resplandecente.

— Você viu isso? — Ele pergunta, dando um soquinho em meu braço. Lhe respondo com um beijo de comemoração.

— Vi! Parabéns — levanto a mão no ar e Eduardo junta a sua palma à minha.

— Até o próximo final de semana eu estou melhor que você. Três voltas em dez minutos, e sem perder o fôlego. — Ele se gaba, erguendo o queixo.

Junto as duas mãos, uma em cima da outra, e afundo a cabeça de Eduardo na água. Ele se debate em menos de três segundos e eu o libero.

— Ué, você não disse que daria três voltas na piscina sem perder o fôlego? Achei que deveríamos testar...

— Vamos... — Eduardo tosse, forçado — fazer o seguinte — mais uma tosse forçada. Dou-lhe um tapa, sorrindo. Ele para. — Sem competições.

— Porque você sabe que vai perder.

— Porque você sabe que vai perder. Mas, não é essa a ideia.

— Eu adoraria saber qual é. — Sou eu quem ergue o queixo agora, cruzando os braços. — Porque você parece que ama uma competição.

— Não é saudável, sabe... — ele diz. — Não vale a pena.

— Como você é sem vergonha, Edu. Só basta admitir que não vai ganhar.

— Eu adoraria perder pra você — Eduardo diz, sabendo que derrete meu coração com declarações como essa.

— Você é muito convencido. Nunca mais te ensino nada.

— Eu ensino a você. Não faço questão, sabe?

Afundo a cabeça de Eduardo outra vez na água. Ele não se debate dessa vez, e quando eu solto, ele sai nadando para longe, para minha surpresa.

Observo seu corpo deslizando na água ainda um pouco desajeitado, mas melhor do que no começo do dia. Quando emerge a cabeça na superfície, balança a cabeça de um lado para o outro, se livrando do excesso de água nos cabelos. O sol reflete no quase dourado dos fios e eu não consigo — e nem quero — evitar o sorriso cheio de dentes que surge em meu rosto.

Ele também sorri, totalmente convencido.

E eu sei que ensinaria qualquer coisa a Eduardo, porque faz parte. Toda essa atitude cheia de si, mas adorável, dele, é o que espero sempre que estamos juntos.

Foi o que me fez me apaixonar por ele. E o que mantém apaixonada até hoje, mesmo excedendo o limitado prazo de validade.

Que se dane o prazo de validade.

A gente se renova quando está apaixonado.

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Peixe Fora D'águaWhere stories live. Discover now