Capítulo 12 🍉

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O pneu da bicicleta não estava murcho dessa vez, e mesmo Eduardo se voluntariando para me levar até em casa, eu decidi pedalar e chegar mais rápido. Ele seguiu na direção oposta, e eu o fiquei olhando até que virasse a esquina, com a desculpa de que estava arrumando a corrente da bicicleta. Pfff.

Desço da bicicleta já na rua de casa, alguns metros antes, e atravesso o portão andando. Franzo o cenho ao ver as luzes da sala acesa, e o cachorro não late para mim quando entro. Ele não está do lado de fora da casinha. Deixo a bicicleta caída no jardim e abro a porta de casa.

Na sala, minha mãe e meu pai estão sentados lado a lado no sofá. A tevê está desligada; e isso é o mais estranho de tudo. Renan desce as escadas correndo quando ouve a porta se fechando, e Enrico faz barulho com as panelas lá da cozinha.

— Oi, gente... — digo, arrastando a fala enquanto olho do meu pai para minha mãe.

Renan se joga desleixado no sofá, ao lado de onde Toby está deitado, e ambos nossos pais suspiram.

— O que tá acontecendo?

— Enrico, aparece aqui, filho — pede minha mãe, com a voz doce.

— Chegou mais cedo, mãe — observo. — Tá tudo bem?

De repente meu peito se aperta, mas minha mãe sorri, e essa agonia se distancia. Ela toca o joelho do meu pai, e esse é um sinal clássico. Eles já ensaiaram a conversa inteira.

— Então, meninos — ela olha para Enrico, que acabou de aparecer na sala, com um pano de prato enxugando as mãos — e menina — ela se vira para mim e eu abro um sorriso com todos os dentes.

Desde que eu reclamei, um dia, quando ainda era criança, de que não fazia parte dos meninos, ela passou a acrescentar o cumprimento exclusivamente a mim, quando fala com nós três.

— Eu e seu pai — aí ela olha para papai ao seu lado — decidimos...

— A gente decidiu se separar. — Papai diz, sem cerimônia para notícias devastadoras.

— O quê?! — gritamos eu, Renan e Enrico em uníssono.

— Calma — pede mamãe.

— Calma?! O que é isso? Vocês nunca demonstraram nada — diz Renan, que se ajeitou no sofá.

Eu e Enrico trocamos olhares, dividindo o mesmo pensamento. A mesma lembrança naquela conversa na cozinha, dias atrás.

— Não vai ser uma separação comum — diz meu pai, e minha sobrancelhas se juntam diante da confusão.

— Como assim?

— Nós iremos continuar morando aqui. Vocês sabem que aquela casa nos fundos do quintal está sem uso há anos, e nós sempre pensamos em usar como oficina, ou como depósito, mas nunca temos o que depositar ali, ou no que investir para uma oficina.

— Aí vocês vão simplesmente se separar de brincadeira? — pergunta Enrico.

Renan continua calado. Como o irmão mais velho, ele não será tão afetado por isso, já que em alguns meses estará se mudando para a cidade vizinha, onde cursará jornalismo na faculdade.

E eu nem sei como eu e Enrico seremos afetados por isso. Quer dizer... quê?

— Eu não entendi ainda.

— Nós não somos casados legalmente — explica minha mãe, e se ajeita no sofá. — Só estamos juntos há muitos anos, mas não somos casados no papel ou essas coisas.

— Por que não?

— Não vem ao caso, Enri.

— Beleza. Se vocês vão se separar, por que não se separam de verdade? — Sou eu quem pergunto, mas não parece. A pergunta parece simplesmente flutuar pela sala.

— Porque... — minha mãe coça a garganta e olha para papai. — Posso falar com você sozinha, Mona?

Olho para os três homens na sala, e os três se levantam e saem, todos para a cozinha. Sinto como se ainda pudessem ouvir a conversa, mas mamãe chega mais perto de mim e fala baixo.

— Parece complicado demais, eu sei... a gente poderia simplesmente ir cada um para um lado, mas existem outras coisas no meio. Seu pai não quer se distanciar de você, nem dos meninos, e ele está certo em querer continuar presente. Essa é a melhor coisa que poderia acontecer.

— Mas... por que se separar? É tão dramático falar assim, se vocês nem sequer vão mudar de casa.

— Vamos, sim. A casa dos fundos é até que grande para uma pessoa só, e pode ter uma saída só para ela.

— Mãe...

— Eu sei, não é ideal, nem comum... mas por que ser comum, Ramona? Você era quem eu achava que ia levar mais numa boa.

— Eu sei... eu posso levar, só queria entender.

— Nós não estamos mais juntos há muito tempo, seu pai e eu. Depois de anos lado a lado, a gente simplesmente foi se distanciando como casal. Estávamos terrivelmente tristes com as coisas como estavam, brigávamos todos os dias quando estávamos sozinhos... e depois que decidimos essa separação, foi muito melhor. É como se fôssemos só amigos agora.

— Mãe, esse tipo de decisão... é tomada por adolescentes imaturos. Vocês deveriam tomar decisões inteligentes!

Minha mãe solta uma risada nasalada e eu sorrio em desespero.

— Não é verdade?

— Nem sempre. — Ela toca minha mão e aperta meus dedos. — A gente vai tentar, tá? Se não der certo, aí a gente separa as casas, como você acha que deveria ser.

— Eu não acho — digo. — É o normal, né?

— Por que você acha que a gente tomaria alguma decisão normal, Mona?

Jogo as mãos para o alto e balanço a cabeça de um lado para o outro.

— Eu não sei — digo, e acabo dando uma risadinha.

— Não vai ser tão dramático — ela exagera na voz dramaticamente — você vai ver. Vai ficar tudo bem, melhor do que você pensa. Tá?

Olho-a bem nos olhos. Estão cheios de esperança e alegres. Os olhos da minha mãe sempre brilham, independente do ambiente ou do seu humor.

— Tá bom, então.

Mamãe me puxa para um abraço desajeitado, sentadas, e é o suficiente para me convencer de tudo o que ela disse, mas eu quero um pouquinho mais. Aproveito o momento para me aninhar, deitando no sofá com a cabeça apoiada em seu colo. Ela leva a mão aos meus cabelos e faz cafuné do mesmo jeito que eu pedia incansavelmente quando era criança. Encolho as pernas para não passá-las por cima de Toby, ainda muito bem acomodado na ponta do sofá, e me permito sentir apenas os dedos da minha mãe no meu couro cabeludo.

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Ooooi, morxs, como cês estão?

ontem, segunda, não teve capítulo por motivo de forças maiores, mas agora terão 3 dias seguiidos <3 fiquem atentxssssss hahahaha <3 


Peixe Fora D'águaOnde histórias criam vida. Descubra agora