Capítulo 32 🍉

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Não vejo sinal de Gustavo.

Há outra pista de patinação num salão ao lado, mas é patinação no gelo, e eu não sei até onde Gustavo estava aqui apenas para importunar a vida de Mari, mas meu palpite para isso é alto. O mais provável é que ele tenha ido embora mesmo, e com essa constatação, nós três respiramos aliviadas ao nos aproximarmos de Enrico, Eduardo e Jonas.

Os três soltam diversas versões da pergunta "está tudo bem?", e eu sequer respondo. Apenas sorrio e deixo Marília demostrar o quão bem está com suas gargalhadas desenfreadas. Jonas a segura pela mão e os dois saem de perto de nós para uma mesa pequena, no outro extremo da pista. Os vejo conversando, próximos demais, com as mãos se tocando e os lábios se curvando para cima constantemente.

Eduardo está tenso.

Pela segunda vez ele presencia esse tipo de desentendimento com Gustavo no centro, e eu posso jurar para ele que só começaram a acontecer depois que ele chegou no nosso pequeno grupo, mas quem acreditaria? Ao olhar para o causador disso tudo, é fácil crer que toda semana há uma novidade para contar.

— Quer voltar a patinar? Tá tudo bem? Vamos tomar mais suco? Quer comer? — Eduardo me lança uma metralhadora de perguntas.

— Calma aí... — respiro fundo. — Tá tudo bem, não tou com fome. Sim, quero patinar mais, mas não exatamente agora, e eu tomaria mais duas jarras de suco.

Ele segura minha mão, satisfeito, e nós voltamos à nossa mesa.

Enrico e Ingrid sumiram do nosso lado sem que tomássemos conhecimento, e eu não me importo de procura-los. Se Ingrid fizer o que quer fazer há meses, não quero ser a primeira a vê-los.

E também tenho medo da reação do meu irmão. Mas isso só saberei quando de fato acontecer. Ou se.

Enfim.

— Como vocês aguentaram ele por tanto tempo?

— Deveria perguntar a Marília; ela quem nos deve uma explicação, e merece também um selo de pessoa incrível do ano. Porque, olha... não deve ter sido fácil.

— Odeio homens que usam sempre da força ou da falsa superioridade para querer mandar em todo mundo ou impor respeito — diz Eduardo. Eu juro que algo dentro de mim começou a ferver.

— As pessoas acham que é uma regra, mas é um estereótipo forçado e, infelizmente, reproduzido por muitos — digo eu.

— Não tou falando nada só pra te impressionar, não... mas eu prefiro conversar com qualquer pessoa, sobre qualquer coisa, mesmo que esteja me matando... a ter que usar da força. Eu nem... — ele balança a cabeça de um lado para o outro e solta o ar dos pulmões. — Nem sequer entrei numa briga alguma vez na vida. Não vejo propósito nenhum.

— Nunca? Nem quando era mais novo?

Ele nega com a cabeça.

— Nem, sei lá, quando minha ex-namorada me traiu.

— Aquela do celular?

— Não. Acontece que eu sou bem sortudo... — ele estava olhando para o resto de batatas fritas no guardanapo, e olha para mim de baixo. Um lampejo de sorriso aparece em seus lábios. — Mas, não. Nunca quis dar um soco em ninguém. Mas também não fui lá conversar com o sujeito... só... entendi, né?

Ele dá de ombros e se afunda no sofá. Pego impulso e me arrasto no vinil, deslizando até chegar ao seu lado. Não digo nada, só jogo meu braço por cima de seus ombros e pego uma batatinha murcha do prato. Eduardo envolve o braço em minha cintura e passamos um tempo assim, olhando para as pessoas patinando, comendo batatinha frita fria e esperando mais copos enormes de suco de laranja.

Peixe Fora D'águaWhere stories live. Discover now