Capítulo 36 🍉

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Eduardo me encontra na praia, sábado pela manhã, no mesmo ponto em que nos esbarramos na noite do luau. O ponto onde demos nosso primeiro beijo está no meu campo de visão, e a lembrança ainda me causa um reboliço na boca do estômago.

O vejo se aproximando pela visão periférica. A areia pesa seus pés e ele caminha com dificuldade. Quando Edu percebe meu olhar fixo em sua direção, finjo estar zombando dele, que quase cai quando tenta correr até mim. Na verdade, eu estava apenas distraída com o olhar perdido em cima do que mais me atrai nesse campo de areia imenso.

— Você está no seu habitat natural. Não vale zoar quem não tem equilíbrio para tarefas simples.

— Vale, sim — digo, trazendo as pernas para perto do corpo e abraçando-as. Apoio o rosto nos joelhos e continuo com o olhar em cima de Edu, embora disfarçando melhor dessa vez.

Ele se senta em cima dos chinelos, bem ao meu lado, e pergunta se estou bem.

Quero dizer que não sei, mas digo que sim, reforçando com o movimento de cabeça para cima e para baixo.

O medo que estava contando para Marília não melhorou depois da conversa. Só se tornou mais intimidador, como se, só por ter falado em voz alta, ele se materializou ao meu lado. Estou aqui, e metade de mim está feliz por ter Eduardo ao meu lado, mas a outra metade (que parece dominante) está gritando que eu não posso passar aquela linha. Que, para variar, é imaginária.

Caixas metafóricas, linhas imaginárias, sentimentos divididos quase que com exatidão na minha cabeça. Ter a imaginação fértil e extremamente exagerada é um fardo, às vezes.

Meu biquíni, um pouco apertado no pescoço, incomoda e eu começo a coçar a nuca. Eduardo pede para olhar e solta o nó rapidamente.

— O que você tá fazendo?! — pergunto, segurando a alça para não cair.

— Calma — ele diz, e sinto sua respiração no meu pescoço. Não posso evitar o arrepio que percorre meu corpo. — Vou amarrar de novo, mais folgado. Tá bom assim?

Ele solta o tecido. Levanto o pescoço e não sinto mais o aperto incômodo me cansando.

O sol está se aproximando de nós, que estamos desprotegidos. Eduardo se levanta e tira a camisa, bem diante dos meus olhos.

Limpo a garganta e desvio o olhar abruptamente. Para meu azar, ele estava me olhando, e viu meu desconforto.

— Vamos — estica a mão para mim, que lhe olho com uma mão na testa, bloqueando o sol.

— Para a água?

— Não é pra isso que as pessoas vêm à praia?

— Hã...

Embora eu esteja de biquíni, não tirei o short jeans. É besteira se sentir envergonhada na praia, quando tantas pessoas estão exibindo os corpos, felizes, com biquínis muito menores que o meu. E eu não tenho vergonha, geralmente. Mas nunca estive tão vulnerável na frente de Eduardo.

— O que foi? — Ele pergunta ao me ver hesitar.

Franzo os lábios e levo um tempo até responder. Abro a boca para falar, mas ele fala por cima:

— Se não quiser que eu veja nada... tira o short e corre pra a água. Eu viro de costas, não vou olhar.

Minhas bochechas estão quentes. Escondo o rosto para não demostrar caso se tornem vermelhas também.

— Juro que não olho. Não confia em mim?

— Confio — suspiro, por fim.

Depois de ouvi-lo falando sem parar, tentando me fazer sentir um por cento confortável, não ousaria dizer que não confio. E de verdade, não seria justo desconfiar do que Eduardo diz, logo agora.

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