Capítulo 43 🍉

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Como foram minhas férias?

Hum.

Bem...

Quero dizer a ele que o começo foi ótimo e empolgante, mas o final foi terrível e frustrante. Quero dizer que não sei como começamos tão bem e terminamos assim, aqui, sem saber o que falar um pro outro e procurando um ponto para olhar, porque é demais olhar no rosto dele tão perto de mim, assim, e não poder fazer nada. Quero dizer que lá na primeira semana de dezembro eu já imaginava esse primeiro dia de aula, mas totalmente diferente do que está sendo, porque, desculpa, mas eu idealizo muito as pessoas, as situações, a vida inteirinha, e quebro a cara quando nada sai do jeito que eu esperava. E eu sempre digo que não me importo com essa coisa de expectativas quebradas, mas dessa vez em me importo sim.

Me importo ainda mais porque minhas expectativas não foram quebradas. Foram alcançadas, melhoradas e dobradas, e eu dei um jeito de estraçalhar tudo.

Respiro fundo.

— Ah, minhas férias... — começo dizendo — foram okay, eu acho. Eu trabalhei na doceria, como faço em todas as férias desde a sétima série.

— Como é ter um trabalho quando você deveria estar se divertindo? — pergunta Eduardo, focado no traço da caneta no papel. A letra dele não se conecta, como a minha. É toda solta, mas ele consegue mantê-las alinhadas (não sei como).

— Ah, eu me divirto no trabalho. Nem acho que é um trabalho, o que é bom. Pelo menos não fico em casa no computador o tempo todo.

— A ideia das férias é essa.

— Não acho. É se divertir, não?

— Dá pra se divertir no computador.

— Foi o que você fez suas férias inteiras?

— Não. — Ele para de escrever e me olha.

Coço a garganta e desvio o olhar. A sala inteira parece estar achando a atividade fácil, ninguém está parecendo desconfortável, como se quisesse fugir. Como Eduardo. E eu.

— Então, você trabalhou, e... foi à praia.

— Sim. A praia é minha parte favorita das férias no fim do ano. Mesmo que a cidade fique um pouco lotada.

— Valentina não lota nunca.

— Para o movimento do resto do ano, vai por mim: em dezembro estava tudo lotado.

— Mas pra o resto do mundo, Valentina é o lugar onde as pessoas vão para sossegar.

— Do mundo — sorrio. — Isso foi otimista.

Eduardo replica meu sorriso.

— Tudo bem, para o resto do estado. E olhe lá — ele franze o cenho e fita um ponto no horizonte. — Sei lá. Para as pessoas sem outra opção de cidade, é uma ótima opção.

— Eu gosto daqui.

— Porque você nunca morou em outro lugar.

— Você não está gostando daqui?

Outra troca de olhares cruzados entre ele e eu, que acaba em um de nós não aguentando e desviando.

— Tou gostando, sim. No começo foi melhor, porque era como se eu estivesse mesmo de férias, como os outros anos, e tal. Mas agora a coisa começou de verdade.

Seguro a caneta em posição de escrever.

— Como foi pra você, se mudar no meio das férias?

Peixe Fora D'águaWhere stories live. Discover now