Capítulo 26 🍉

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É engraçado, mas ter contado a verdade a Enrico faz com que eu me sinta menos... delinquente. Estou criando grande caso em cima de uma mentira inocente, mas eu estava mesmo sentindo um pouco da veia adolescente imprudente que há em mim, e não gostei como achei que iria gostar. Não foi tão excitante. Foi só um pouco angustiante.

Agora está sendo 10% menos aterrorizante. Mas eu abraço a pequena porcentagem com força e continuo andando.

Eduardo me enviou uma mensagem do mesmo telefone misterioso, falando se podíamos nos encontrar na praça 08 de março, que fica a uma quadra da minha casa. Sim, é claro.

A noite está quente, e mesmo o vento batendo com força em mim e fazendo voar meus cabelos, estou suando. Paro em frente à praça e olho ao redor. Nas noites de sábado, sempre há movimento aqui, e hoje não é diferente. A praça, antigamente, era apenas um terreno verde, gradeado, sem apelar para parecer interessante aos moradores do bairro. Depois de uma reforma, há cinco anos, há iluminação em cada esquina, bancos de concreto, ipês amarelos, vendedores de pipoca e brinquedos para crianças. Ocasionalmente há fotógrafos fazendo ensaios com o fundo florido, etecetera.

Enfim! Estou prestando atenção na praça, tentando distrair minha mente do foco: Eduardo. Ele não está aqui ainda. Encosto o corpo no tronco de uma árvore e entrelaço os dedos uns nos outros.

Não há uma nuvem sequer no céu. Nem um pedacinho de nuvem perdido na imensidão negra do céu noturno, apenas pontinhos brilhantes difíceis de enxergar devido a toda iluminação da cidade.

— Ei...

Sinto uma mão tocar meu ombro e dou um salto para o lado. Estava com o olhar fixado numa criança passeando com um filhotinho de cachorro, que corria feliz, puxando a coleira com mais força do que a dona pequenininha podia aguentar.

— Nossa senhora — levo a mão ao peito, ainda sem olhar para quem quer que tenha me chamado.

— Desculpa, te assustei? — Eduardo sai de trás do tronco da árvore e me olha com curiosidade. Uma pontinha de sorriso pendurado nos lábios, também.

Respiro fundo e deixo a mão escorregar, cair ao lado do corpo novamente.

— Não, eu tava só... distraída.

— Tá tudo bem? — Ele pergunta, e minha resposta é só um movimento com a cabeça. Ele estica o braço em minha direção e abre a palma da mão. Olho para seus dedos longos à minha frente, depois para seu rosto. — Vamos? Ainda tá cedo pra a chuva, mas é bom ir andando. Lucas está esperando.

— Lucas?

Eduardo ergue as sobrancelhas olhando para mim, e aponta o olhar para sua mão.

— Ah! — Me espanto como se tivesse acabado de sair de um transe hipnótico, e espalmo minha mão na sua.

Eduardo ri em reação aos meus movimentos, e me lança um olhar com o cenho franzido. Deve estar pensando o que há de errado comigo.

Tudo bem, esse pensamento também atravessou minha mente. Respiro fundo disfarçadamente, olhando para o lado e soltando o ar devagar, e continuo andando lado a lado com Eduardo, que entrelaça seus dedos nos meus.

Não um simples dar as mãos, mas entrelaçar os dedos.

— Então, o prédio que a gente vai... Lucas mora lá. Falei com ele pra a gente subir até o terraço, e ele disse que não tinha problema.

— Lucas? Lucas Queiroz? O certinho?

Atravessamos uma avenida pouco movimentada, nos afastando da praça. A risada de crianças fica cada vez mais longe, substituída pelas músicas altas, vindas dos bares nas ruas principais do bairro.

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