É o último final de semana antes das aulas começarem. Estamos na praia, depois do boliche, e já passa das onze da noite. Alguém trouxe cerveja, e eu odeio o gosto disso, embora esteja gelada e a noite esteja quente. Não é um luau, como eu gostaria, é só uma reunião de pessoas tristes demais pelo fim das férias, mas felizes demais por terem acesso à álcool. Tomo um gole da latinha de Coca-Cola, e Marília a tira da minha mão para aproveitar um pouco também. Eduardo está ao lado de Anays, e os dois estão conversando desde o final da partida. E eu não me importo.
— Você se importa, sim — diz Ingrid, sentando-se ao meu lado na areia.
— Não, não me importo. E eu já disse que odeio quando você me diz como eu me sinto, mesmo que eu já tenha dito o contrário.
— É porque eu te conheço bem.
— Hã, aparentemente não. Porque eu não me importo.
— Mona, desculpa, mas até eu agora acho que você só está dizendo isso para se convencer disso, mas não é verdade.
— Vocês duas, que inferno é esse? Mari, achei que você fosse minha amiga sensata.
— E eu sou, é só que até eu estou me matando por estar vendo Eduardo ali com Anays, e não aqui com você.
— A gente já era, e qual o problema disso? Prometo que terça-feira já terei uma nova paixão.
— Eu não queria — resmunga Mari.
Eu sorrio.
— Para. Quanto drama. Vai embora daqui, Jonas parece que precisa de um abraço.
— Eu vou quando ele precisar de um beijo. Não quero abraçar ninguém agora, e ele está bem ao lado de Alanna. Ela tem braços e pode abraçar ele.
— Eu amo ver você desapegada, meu Deus, é quase um sonho — diz Ingrid, e eu engasgo uma risada com a Coca-Cola.
— Depois de quase jogar minha vida fora por causa de Gustavo, eu preciso de uma coisa nova. Acho que essa nova eu é mais divertida.
— É, menos culpada, com certeza. — Eu digo, e Mari anua, sem sorrir.
Ela sabe que é verdade. Era terrível vê-la dando tantas desculpas por causa de Gustavo, e sempre se sentindo culpada quando não estava fazendo o que ele queria.
Olho para a frente e meu olhar novamente cai em Eduardo, e ele está rindo, e Anays está recebendo sua risada, olhando seus olhos brilhando, seus dentes da frente levemente tortos se exibindo numa risada que eu gostaria de estar ouvindo e provocando. Lucas está ao lado, e ele tenta chamar a atenção de Anays, e ela até olha para ele, mas quando ri, toca o braço de Eduardo, mesmo que agora a piada tenha sido de Lucas. Até eu queria rir para ele, só porque vejo seu semblante frustrado. Depois que Eduardo me disse que Lucas é só alguém que precisa de amigos, mas não sabe fazer amigos, consegui enxergar isso muito melhor, e entendi toda a atmosfera dele. Tudo o que ele passa só porque não sabe como se comportar da maneira certa.
Bufo e me levanto, decidida, em direção à Lucas.
— O que você tá fazendo? Ei, Mona, pega uma cerveja pra mim!?
Olho para Ingrid por cima do ombro e levanto o polegar.
— Ei, Lucas — chamo, e Eduardo me olha antes que Lucas olhe. Não fito o garoto à minha esquerda. Meus olhos estão fixos em Lucas. Anays está de cabeça baixa, mas diz "oi, Ramona". Assinto, oi. Volto para Lucas: — Lucas, queria tua ajuda com uma coisa, acho que você é perfeito para me ajudar.
Não tenho nada em mente, só quero tirá-lo dali. E quero que Eduardo saiba que eu não me importo com ele e Anays. Eles são bonitos juntos. São mesmo, eu juro que são, não estou dizendo só porque queria que fosse a minha mão no ombro dele, e não a dela. E não estou dizendo só porque os olhos dela são de um verde escuro e misterioso que eu queria que os meus fossem, e Eduardo olha bem neles, e eu queria que fosse os meus.
Bufo mais uma vez. Odeio me sentir como me sinto. Não consigo controlar ter ciúmes — se é que isso é ciúmes, porque eu achei que nunca tinha sentido isso, e um sentimento novo a gente não sabe exatamente decifrar, e, minha nossa, é cansativo!
Meus pensamentos estão correndo rápido demais, e eu pego a mão de Lucas para que ele se levante.
Eduardo também se levanta.
E Anays se levanta depois, acho que só para não se sentir inferior.
Nossa, como ela é bonita. Até eu queria fazê-la rir. E é injusto que haja duas dela, uma cópia perfeita, com os mesmos olhos misteriosos e os mesmos cabelos pesados e tão lisos e brilhosos.
— Ramona, posso falar com você? — É Eduardo quem pergunta, e eu engulo em seco.
— Pode, mas depois, tá? Quero fazer um negócio com Lucas.
— O quê?! — Lucas se espanta. — Que negócio?
— Calma, é só uma coisa...
— Ramona, por favor? — Eduardo segura minha mão e meu primeiro instinto é puxá-la para trás. Bato em alguém quando puxo com muita força e um pouco de bebida cai no meu braço.
— Desculpa — digo, mas ninguém responde e continua andando.
Eduardo segura minha mão novamente — a outra, dessa vez — e consegue me puxar para longe de Lucas e Anays.
— O que você tá fazendo?
— Tou chamando Lucas pra... — coço a garganta e passo o peso do corpo de uma perna para a outra, fazendo muita força no joelho esquerdo, até doer.
— Por quê?! Deixa ele lá. Ele tá junto de Anays, e eles estão a um passo de se beijarem finalmente, e eu não aguento mais ficar ali mediando esse negócio.
O quê?
— Sou um péssimo cupido e não vou deixar que você estrague isso. Por favor, deixa ele lá.
— Mas, hã...
— Você quer ficar com ele? — Eduardo clareia a garganta. E me fita tão fundo nos olhos que eu não consigo segurar e desvio.
— Não.
— Se quiser, beleza — ele ignora o que eu digo e começa a andar para longe — eu paro de tentar fazer ele ficar com Anays, mas não vou ajudar com você. Vocês se viram.
Eduardo reduz os lábios a um traço, assente para mim e sai andando o mais rápido que pode na areia pesada.
— Eu não...! — Suspiro pesadamente, olhando enquanto ele vai embora.
O que foi que acabou de acontecer?
Então Eduardo não está com Anays? É só um intermediário para Lucas criar coragem? Não parece estar dando certo, se ele quer minha opinião — o que ele não quer.
E agora Eduardo (que não está ficando com Anays) acha que eu quero ficar com Lucas (o que eu não quero) e Anays, que com certeza está a fim de Eduardo, na verdade está na mira de Lucas. Hum, bem. A conclusão que eu tiro disso tudo é que o mundo ficou louco.
E eu com certeza estava com ciúmes, porque o alívio que sinto ao saber que Eduardo não beijou Anays, e nem estava tentando, é tanto que faz minha cabeça girar.
Estou sorrindo, embora nada esteja no seu lugar.
🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊
As desventuras ciumentas de Ramona... hahahaha e o rancor de Eduardo. Esse menino, olha, mais cabeça dura não conheço. D:
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Peixe Fora D'água
Teen FictionRamona sempre se apaixona; por tudo e por todos - uma característica que alguns diriam ser típica do seu signo, peixes. Acostumada, ela sabe que o sentimento vai embora depois de uma ou duas semanas. Três, no máximo. O problema é que agora Eduardo...