Peixe Fora D'água

Capítulo 1 🍉

"NÃO VOU SER A PESSOA A CONTAR PARA ALICIA QUE SEUS FUNCIONÁRIOS DE OURO ESTÃO FALTANDO TRABALHO PARA SE PEGAREM ESCONDIDOS"

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Acho que estou atrasada.

Acho, porque meu celular do tempo das cavernas não soa mais o despertador. Todos os dias, quando bate a meia-noite, ele reinicia e não volta mais às configurações do dia anterior. E meus irmãos tiraram o rádio relógio com despertador do meu quarto, só de sacanagem.

Levanto-me correndo e checo a tela minúscula do celular. Realmente, atrasada. Já são 10:48 da manhã, quando eu deveria ter chegado à Mama's Doces às 10:00. Desço as escadas enquanto ainda enfio a camiseta pelos braços, desajeitada, e percebo que esqueci a mochila. Estou de férias, mas minha mochila anda grudada às minhas costas ainda assim.

— Enrico! Renan? Alguém em casa?!

Ninguém me responde, nenhuma voz soa pela casa a não ser a minha, desesperada. Tropeço no último degrau da escada, que eu achei que seria o antepenúltimo, e quase bato o nariz na estante da sala.

Deus do céu, com um começo de dia desses, tudo vai sair perfeito daqui em diante. Esse parâmetro fica fácil de ser alcançado.

Dou uma olhada no espelho antes de abrir a porta de saída de casa e, tudo bem. Não maravilhoso, mas bem. Do lado de fora, olho ao redor e só há alguns bagulhos entulhados. A garagem vazia ao lado da casa, a casinha de Toby semidestruída, o cachorro deitado literalmente ao lado do abrigo, dormindo o sono que eu queria, com as patas para cima, mas não há vestígios da minha bicicleta.

Certo, parece que eu estava enganada.

— Droga! Enricooooo! — chamo, mesmo sabendo que o imbecil do meu irmão não está em casa. E levou minha bicicleta.

Pego o celular e envio um SMS para ele.

"Onde está a bicicleta? Tô atrasada!"

Ele responde:

"Achei que você não ia trabalhar hoje, tava roncando quando eu saí"

E depois:

"Tô aqui no Jonas, vem buscar".

Sozinha no terraço de casa, apoio as mãos nos quadris, jogo o celular dentro da bolsa e solto uma risada incrédula. Meus irmãos merecem prêmios.

Pior irmão do ano. Da década. Do século!

A casa do Jonas fica ainda mais longe do que meu trabalho. Se bem que tenho vontade de ir até lá só para buscar a bicicleta e passar por cima de Enrico.

¶¶¶

— Desculpa, desculpa, desculpa! — Entro na Loja já me desculpando, mesmo sem saber se Alicia está no salão. A porta de vidro com o logo da Mama's Doces é pesada, e hoje parece três vezes mais, enquanto a empurro com a ajuda de todo o corpo.

Ela, por sorte, está, e me olha com um quê de preocupação, por trás do balcão de atendimento, enquanto uma garota sai com seu milk-shake de chocolate transbordando do copo.

— Ramona, onde você se meteu? Estava já indo ligar para o seu irmão e saber o que aconteceu — ela diz, com ambas as mãos apoiadas no tampo de mármore do balcão, e as sobrancelhas caídas.

— O babaca do meu irmão ia dizer que eu estava dormindo.

Suspiro, levantando a parte de passagem do balcão e atravessando para o lado dos atendentes—minha função.

— E você estava dormindo mesmo, pelo que estou vendo — ela sorri, me olhando da cabeça aos pés. — Sua camisa está pelo avesso, Mona. E seu sapato está desamarrado. Fora as meias... uma de cada cor.

Olho para baixo e deixo escapar outro suspiro, dessa vez mais dramático, deixando os ombros caírem e os braços balançarem ao lado do corpo.

— Com as meias eu não me importo — digo. — Vou trocar e já volto... onde está Emília? E Igor?

— Faltaram, os dois. Muito conveniente... — Alicia tamborila as unhas postiças no balcão. — Tem coisa aí, não tem?

Dou de ombros, semicerrando os lábios, e empurro a porta do banheiro dos funcionários com as costas, ainda olhando para Alicia com um sorrisinho cínico no rosto.

Eu sei que tem coisa lá, mas não vou ser a pessoa a contar para Alicia que seus funcionários de ouro estão faltando o trabalho para se pegarem escondidos no quarto de Igor, enquanto os pais dele saem para trabalhar.

Acho que é uma das possibilidades que existem ao empregar apenas adolescentes o ano inteiro, especialmente nas férias.

— Ramona — Alicia me chama do lado de fora — sei que seus irmãos são idiotas, mas vê se prende a bicicleta no cadeado amanhã.

Saio do banheiro com a camisa do lado certo, apressada. Me dá agonia conversar com qualquer pessoa através de portas.

— Eu sei — falo, olhando para Alicia encostada no balcão — não vou atrasar, foi só um deslize.

— Hm-rum, eu sei, eu sei. Mas amanhã tenho uma tarefa pra você. — Ela cruza os braços.

— O quê?

— Um sobrinho de Mama se mudou para a cidade há umas duas semanas com a mãe, e não conhece ninguém. Ela o mandou pra trabalhar aqui, e sabe como é, né... treinamento. Como eu já excedi minha cota do ano, falei que você faria.

Alicia tem os cabelos lisos e castanhos batendo no meio das costas, mas nunca deixa os fios soltos no horário de trabalho, apenas a franja na testa. Ela tem quase trinta anos, mas parece no começo dos vinte. Acho que a convivência com adolescentes o ano inteiro a fez não amadurecer externamente. Para a felicidade dela, porém, nada de espinhas.

— Sério? Sou péssima com treinamento. Não sei nem como eu aprendi.

— Porque eu fui sua treinadora — ela ergue o queixo e eu sorrio.

— Então por que...

— Não. Você é nossa melhor funcionária — ela dá um sorrisinho falso, mas ao mesmo tempo sincero. Meio-termo. — E ele tem sua idade, eu acho. Não há ninguém melhor que você.

— E Emília? Ela tem, sei lá, dezenove anos.

— Mona, vocês não me enganam. Emília e Igor estão se enroscando por aí, não vou distraí-la com mais um garoto.

Alicia joga um avental vermelho para mim e dá uma piscadinha.

— Você vai se sair bem, relaxa.

Solto um grunhido descontente e passo o avental por cima da cabeça, indo na direção do balcão quando vejo um casal de jovens atravessando a porta. 

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OIII! Primeiro capítulo oficial. o que esperam do novo funcionário?/?! <3 ansiosxs pra ver esse ~treino~? hahahah 

até amanhã!

obrigada por estarem lendo <3

beijoss

amo vcsx