Capítulo 42 🍉

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Sempre gostei dos primeiros dias de aula. Ao contrário de, hã... tudo mundo que conheço. Marília sempre aparece com uns óculos escuros pendurados no rosto para disfarçar as olheiras acumuladas nos dias de férias, e Ingrid aparece no primeiro dia com um mau-humor de um urso. E quando eu aparento ser a pessoa mais tranquila e até feliz com a volta às aulas, ela fica ainda mais irritada. Mas não posso fingir que fico triste e indignada com isso. Eu realmente gosto do primeiro dia de aula.

É tudo diferente do ano anterior. Acostumar-se com uma sala nova, novos professores, matérias, novas pessoas... pessoas. Um dos grandes motivos da minha empolgação com o primeiro dia do ano escolar é saber que sempre vai haver uma pequena quantidade de pessoas novas para eu conhecer... etc. Ainda mais que aqui no Rui Barbosa, as primeiras aulas do ano são quase cem por cento em dupla, pra melhorar a interação entre os alunos e os novatos.

Falando em novatos... vasculho a sala rapidamente e vejo alguns, quietos num canto, outros já conversando com os alunos mais populares e extrovertidos. E não vejo Eduardo. Até me esqueço, por um momento, que ele é novato. Para mim ele é o contrário disso. E não está aqui.

Como se estivesse lendo meus pensamentos, Marília vira-se para mim, ainda com os óculos escuros no rosto, e pergunta:

— Eduardo não disse que está nessa sala?

Eu assinto, sem dizer nada.

Nirvana, ao meu lado na outra fileira, franze as sobrancelhas.

— É o seu namorado? — Me pergunta.

— Não, a gente não estava namorando, estava só...

— Estavam só sendo imbecis — Ingrid, sem papas na língua, diz. Viro-me inteiramente pra ele.

— Como é que é? — Quero saber, mas estou segurando o riso.

— Vocês foram muito idiotas com esse mi-mi-mi todo, Ramona. Tá na cara que você ainda gosta dele, mesmo que isso seja um milagre.

— Por que milagre? — Nirvana está curiosa.

— Porque a Ramona tem o coração bandido — diz Mari, e eu solto uma gargalhada. — Ela se apaixona por todo mundo.

— Parem com esse assunto já no primeiro dia — digo. — Deem um tempo, pelo menos uma semana, até começarem a me difamar pra todos os novos alunos.

— Nirvana não é nova — diz Ingrid, apontando o polegar para Nina.

— Mas entre a gente é.

— Tá. — Ingrid revira os olhos e escorrega o corpo na cadeira, quase se deitando. — Semana que vem te conto.

Isabelle, prima de Nirvana, estava conversando com uns garotos do outro lado da sala e volta ao seu lugar quando a professora atravessa a porta. Ao contrário dela, Marília está virada totalmente para trás, conversando com outras meninas. Alguns alunos do Rui Barbosa moram longe do colégio, então nós só nos encontramos no início das aulas, e Marília adora colocar assunto em dia.

Vanessa, professora de literatura, nos dá bom dia e pede que já iniciamos a bagunça de cadeiras para um lado e para o outro a fim de formarmos as duplas.

A sala se torna uma desordem. Cadeiras se arrastando, melhores amigos se agarrando para não perder a chance de estarem juntos. E eu olho para minhas amigas, e... Ingrid e Marília estão de braços dados. Abro a boca e cruzo os braços, me sentindo um pouco traída por não ter sido cogitada como parte de uma dupla. Isabelle e Nirvana estão juntas também, é claro. Rapidamente, todo mundo tem um par. Até os novatos.

Peixe Fora D'águaOnde histórias criam vida. Descubra agora