Capítulo 2 🍉

1.8K 220 87
                                    

"RAMONA! RAMONA! NAMORA COMIGO!"

🍉🍉🍉

A Doceria não tem muito movimento pela manhã, mas à tarde sempre está lotada. A localização ajuda, e a cidade pequena sem muitas opções também é um ponto positivo nesse movimento intenso. Valentina é uma cidade quase completa. Tem praia, prédios, empresas, shoppings moderadamente grandes e um estádio de futebol. E a Mama's Doces ganha espaço exatamente entre no ponto onde começa a área praiana — ou onde termina, depende do ponto de vista.

E é o lugar perfeito para mim, justamente por isso.

Sempre fui atraída pelo mar, pela areia que gruda nos pés, pelo sol brilhando no alto do céu. Estrelas do mar, conchas, sereias. Há um quadro no meu quarto, pintado por Renan — quando ele não estava pegando no meu pé por absolutamente qualquer besteira insignificante — que diz "Ramona ama o mar". Desde pequena "descobri" que meu nome contém todas as letras para formar "amor e mar", e me peguei escrevendo variações da frase por todo lugar.

Estou preparando a mochila para sair do meu turno e ir à praia no fim de tarde, quando Emília e Igor atravessam as portas duplas da Loja, com as maiores caras-de-pau. Ingrid e Marília entram logo atrás, e eu sinalizo que elas esperem.

— Turno noturno? — pergunto, erguendo as sobrancelhas, olhando de Emília para Igor. Ela me lança um sorrisinho amarelo, sem dentes, e ele só joga os ombros para cima.

— Foi o que deu pra hoje.

— Chegaram juntos... hum. Que coincidência.

— Combinamos o horário para nos encontrarmos e virmos, nada demais. — Igor continua sustentando a mentira, sem saber que Emília já despejou todos os detalhes para mim.

Fito seu rosto cínico, mentindo sem deixar transparecer, e não posso deixar de pensar em como essa é uma característica de psicopatas.

Ou só de adolescentes e jovens a fim de namorar escondido e perder um turno no trabalho.

— Boa sorte, vocês dois. Agora à noite é o turno de Wagner.

— Fala sério — Emília volta do banheiro, amarrando o avental atrás das costas. — O que foi que eu disse, Igor? Sabia que Alicia ia estender Cris e Marlon pela tarde; nem ela aguenta Wagner.

Wagner, o filho de Mama, a dona da doceria. Ele tem toda a pose de "dono", mas não completou dezoito anos ainda. Anda por aqui com o peito estufado e o queixo empinado, querendo colocar ordem em todo mundo, com seus um metro e sessenta de altura e o cabelo engomadinho. É uma piada.

— Eu não me importo com ele — Igor diz, e eu atravesso o balcão, pronta para sair e deixar os dois lidar com Wagner sozinhos. Eles provavelmente vão adorar essa privacidade. Ou odiar a fiscalização do "chefinho". Enfim, não é mais meu problema.

— Ramona! Ramona! Namora comigo! — Ingrid imita, com exagero e dramaticidade, a cena de uma semana atrás, com Caio.

Reviro os olhos e passo reto por ela, que arrasta a cadeira verde-água em que estava sentada e se abaixa, encostando apenas um joelho no chão.

— Ramona, eu sinto sua falta! — Ela leva a mão direita ao peito e finge chorar.

Empurro a porta transparente e saio para o final de tarde em Esmeralda. A praia do Vale dourado está despontando no horizonte à minha direita, e eu fecho os olhos para sentir a brisa. À esquerda, prédios tirando a beleza do céu azul. Decido ignorar, sempre.

Ramonaaaa! — Ingrid está gritando atrás de mim, e Marília rindo, enquanto digita mensagens com habilidade no teclado QWERTY do telefone.

— Eu só quero esquecer isso, Ingrid, pelo amor de Deus.

— Eu sei disso. Por isso continuo.

— Você é ridícula.

— Eu sei disso. Ei! — Ela vira-se de frente para mim e anda de ré. — Pelo menos você já vai começar o ano sendo conhecida.

— Nossa. É o que mais quero.

— Impossível ser diferente. As férias de ninguém são tão boas a ponto de esquecerem o fiasco que foi o pedido de namoro de Caio Bento na festa de encerramento do ano de dois mil e dez.

— As gêmeas estão na Disney — conta Marília. As gêmeas são Anays e Alanna, que dividiram nossa sala do primeiro ano e não se desgrudaram nem por um segundo.

— A Disney é sempre igual — contrapõe Ingrid, voltando a andar normal.

Depois de atravessar duas avenidas, estamos pisando na areia da praia, já não mais quente do sol que levou o dia inteiro, e sim suportável a pés descalços. Adoro esse horário na praia, o vento forte, a sombra, a areia fofa e as ondas chegando mais perto.

Bato os sapatos um no outro e os guardo dentro da mochila, junto com as meias. Subo a calça jeans até o meio da canela e desço correndo a areia até a beira do mar, onde uma onda atinge meus pés quase que ansiosamente. Não há sensação melhor que a água do mar limpando nossos pés, e eu não enjoo, mesmo que faça isso quase todos os dias da semana.

Ingrid e Marília estão ao meu lado, Mari agachada, molhando as mãos, e Ingrid tirando o vestido, revelando o biquíni por baixo, e pulando as ondinhas para entrar no mar.

Ficamos aqui até o sol sumir no horizonte, se escondendo por trás do mar. É o meu horário favorito do dia.

🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊

OIIII! Quem aqui tinha celular com teclado QWERTY? Ou o próprio c3 da nokya?! eu tinha e amavaaaa, tinha um cor "grafite" (?) hahahahaha adoro. e vcxs?

obrigada por estar lendo!! 

beijos,

amo vcxs

Peixe Fora D'águaOnde histórias criam vida. Descubra agora